Que bom que você está aqui!

É com prazer que te recebo neste espaço! Esta "casa" virtual está em permanente construção e em cada "cômodo" há uma inquietante necessidade de fazer diferente! Meus textos, relatos e imagens buscam apresentar a você os passos que constituem minha caminhada pessoal, profissional e acadêmica. A partilha que faço não intui caracterizar-se por uma postura doutrinária, autoritária ou impositiva-opressora, mas ao contrário, apresenta-se como ato solidário (jamais solitário) de contribuição à discussões humanas, planetárias e éticas!



Como educador me vejo no compromisso de participar do processo histórico de libertação dos oprimidos, marginalizados e esquecidos, a começar por mim. Despindo-me de qualquer resquício de arrogância, prepotência e soberba apresento-me como aprendente num contexto de intensa renovação de conceitos e atitudes!



Assim convido-o a juntos pensarmos em nossa condição de partícipes da grande Salvação! Salvação plena do homem e da mulher místicos, políticos e planetários!



Fraterno abraço!








Casa Rosada - sede do governo argentino. Em frente está a Praça de Maio. É um local em que é possível conhecer um pouco da história e da cultura argentina.

domingo, 31 de agosto de 2008

Caolhos e Banguelas

Há duas formas de se conviver num grupo social. Uma é usando da flexibilidade e da autenticidade, reconhecendo os limites dos outros e os seus. Usando de humildade, carisma, simpatia, empatia, desapego. Trata-se do ser humano em busca de sua própria humanidade. Este ser humano geralmente é compreendido, bem quisto e facilmente perdoado por seus erros, afinal ele mesmo os reconhece, nos outros e em si.Trata-se do sujeito com o qual todos querem conviver.
Mas o dia-a-dia nos depara com uma infinidade de outros sujeitos, tão diferentes quanto o formato das nuvens que podem pairar sobre nós todos os dias. Há os que são exatamente o oposto do que consideramos o bom sujeito. Pessoas inflexíveis, indóceis, carrancudas, insensíveis, antipáticas, intolerantes e incapazes de perceber seus erros. Geralmente, os enxerga nos outros e são implacáveis em suas cobranças. São capazes de destruir qualquer valor ou conceito para impor sua vontade. Se não conseguem, sentem o peso da derrota e o transformam numa monstruosa máquina de punição.
Trata-se da postura do “olho por olho, dente por dente”. Uma prática em que o cordeiro veste a pele do lobo a ponto de ele mesmo se sentir cordeiro. Torna-se algoz de si mesmo. Gandhi, líder pacifista indiano, quando questionado sobre o castigo que se deveria impor ao vencido em uma guerra afirmou que de tanto “olho por olho, dente por dente” vivemos num mundo de caolhos e banguelas. As relações humanas são (ou deveriam ser) essencialmente de negociação, de flexibilização, nunca de retaliação ou imposição.
Porém, este conceito não parece ser unânime. Ao contrário tem sido sorrateiramente ignorado, transgredido. Os banguelas e caolhos se multiplicam!
Se não há dentes sorrisos não há; se não há visão como haver esperança? A intolerância ofuscou muitos sorrisos e sepultou muitas esperanças. Parte da humanidade está morrendo a cada dia pela mais absoluta falta de tolerância. A falta de carisma, de flexibilidade tem feito nações inteiras reféns de geradores de caolhos e banguelas! Neste caso há sim uma forte semelhança entre criatura e criador.
Certamente o leitor perceberá que este tipo de pessoa existe em qualquer lugar. Teme ser esquecido e por isso torna-se sempre mais implacável na sua tarefa de exterminar olhos e dentes. Podem não ser esquecidas, mas certamente, muitos desejam esquece-las mais do que qualquer outra coisa. Quem esquece o seu algoz? Como fazer para não lembrar de que lhe arrancou o sorriso e a esperança? Se temos o dom do perdão, temos a implícita característica da memória, que não nos permite ignorar quem nos arrancou os dentes e perfurou nossos olhos.
O que preocupa é o fato de que muitos seres humanos da primeira categoria, os humildes, perdem a esperança e passam também a arrancar olhos e dentes, numa manifestação tácita da necessidade de sobreviver a qualquer custo. Mas afinal, com quem ficam os dentes e os olhos arrancados? Será um complexo freudiano ainda não completamente descrito? Ou será apenas mais uma característica humana a ser melhor compreendida e oportunamente melhor aproveitada? O tempo dirá...

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O mal não assusta

Aparentemente quando nos deparamos com algo proveniente do mal, tomamos um susto e nos encorajamos contra ele. Esta reação instintiva parece perseguir a espécie humana e com isso não precisamos forçar tal reação. Mas isto tem motivado os maus a buscar alternativas para cercear qualquer ameaça de reação. Assim instrumentos como a imprensa e a escola servem para ludibriar e construir opiniões que não seriam concebidas espontaneamente. Tais instrumentos tornam-se alvo dos maus e por eles passam a ser dominados. Mais grave do que isso é o fato de que o ambiente de nova dominação dos maus se ampliou e atingiu entes até então impensados, como por os exemplos citados.

A escola passa a ser o local onde, através da dominação política é possível interferir na vida das pessoas. Hitler dizia que a “educação deve estar sempre dominada pelo Estado” para que este possa fazer da escola um celeiro de adeptos. Esta constatação nos permite dizer que estamos “preparando” as pessoas para acatar o mal como algo natural, contra o qual não é possível fazer muita coisa. O leitor, pode estar neste momento incitado a discordar destes escritos, mas antes de fazê-lo o convido a refletir alguns dados que sustentam nosso ponto de vista. Em recente pesquisa divulgada pela imprensa analisou-se a qualidade de ensino em todo o país. Os melhores índices atingem pontuações em torno 4 pontos numa escala de 0 a 10.

Mesmo assim, os estados que atingem um índice medíocre de pouco mais de 4 pontos ostentam o privilégio de possuir a melhor educação do país. Destaco que nesta pontuação está apenas inserido o resultado quantitativo que em nossa opinião pouco quer dizer. Supomos que se avaliarmos aspectos qualitativos o resultado seria ainda pior. Paralelo a isso, percebemos que a grande maioria das pessoas, inclusive educadores, considera que a escola pública é boa. Mas porque é boa? Talvez por que seja um mini restaurante, por que prepara para o exercício de profissões que não exijam grande capacitação, por que ensine regras de convívio que a família já não consegue transmitir, etc. Tendo a escola atendido estas prerrogativas, então ela é boa.

Enquanto as pessoas se contentam com isto, ideologias de dominação e submissão são impostas como forma de “preparar” as pessoas a conviver com o mal. Quando se fala em combatê-lo nos limitamos a impedir que sejamos parte de uma legião de sujeitos do mal. Apesar da boa intenção percebe-se que não é o suficiente. Não é o suficiente porque não ensinamos a combater o mal. Talvez nem saibamos como fazer, afinal há uma lógica que exige que sejamos apenas bons e ensinemos a conviver com o mal. Quando ensinamos um conceito somos sorrateiramente convidados a transmiti-lo sem discuti-lo. Somos e formamos gerações de pessoas acostumadas e perceber o mundo dividido ente o bem e mal sem questionar a possibilidade de termos um mundo bom.

A fome, a miséria, a violência, a exclusão, a marginalidade são encaradas como resultado de um processo perverso, porém inevitável. Ensinamos que suas vítimas merecem nossa caridade. E afinal, para quem desconhece a fartura as migalhas da caridade são suficientes. E se os que aprendem conosco não forem vítimas da fome, da miséria, da violência, da exclusão e da marginalidade, então cumprimos nosso papel e a escola é boa.

Acredito que precisamos ousar! Não importa a pontuação que isso represente. Acredito numa educação que seja capaz de comover, sensibilizar e mobilizar os seres humanos numa atitude de combate ostensivo ao mal. Todos sabem, por exemplo que com as bombas lançadas sobre o Japão a 62 anos morreram cerca de 300 mil pessoas, mas desconhecem que somente no Rio de Janeiro, em 25 anos morreram cerca 830mil pessoas vítimas da violência; sabemos que os americanos não assinaram o tratado de Kioto mas poucos sabem que um cidadão que vive nos Estados Unidos polui tanto quanto 556 pessoas que vivem no Nepal.

Falar de Bomba Atômica e Tratado de Kioto sem considerar a existência de outros males é transformar aprendizagem em adestramento, treinamento. É desperdiçar a oportunidade de qualificar seres humanos, tornando-os combativos e corajosos. A pobreza intelectual encrustada no fazer educacional é insensível, fria e imóvel. Talvez por isso o mal não assuste e o bem não atraia e ambos convivam de forma tão harmoniosa, para a alegria e felicidade de quem nos domina.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Eco-gestão: sustentabilidade e sobrevivência

Resumo:
A academia propõe com freqüência debater, nos diferentes campos de ação, sua nova responsabilidade frente às novas demandas. A história tem sido cenário e palco de grandes discussões, em torno das quais, se tem alcançado resultados promissores no contexto da tomada de conhecimento das grandes ameaças a vida. A complexidade inerente a sustentabilidade remete a rever outros conceitos como o de sobrevivência e qualidade de vida. Assim, a gestão com perspectivas ecológicas terá seu espaço e suas atribuições garantidas no momento em que gerenciar passa a ser um ato em favor da vida. Sobreviver é um direito e sua extensão a universalidade dos seres vivos é um compromisso de todos.

Palavras-chave: Academia, sustentabilidade, sobrevivência, qualidade de vida.


Eco-management: Sustainability and survival.

Abstract:
The academy frequently proposes debating on the different field of activity, its new responsibilities in front of the new demands. History has been stage and scenery of great discussions which have led to reaching promising results on the context of unraveling the great threats to life. The complexity inherent to sustainability leads us to reviewing other concepts, such as survival and life quality. So, management with ecological perspectives will have its space and its attributions granted at the very moment in which managing becomes an act in favor of life. Survival is a right and its extension to the universality of the living beings it’s a commitment of everyone.

Key words: Academic formation, sustainability, survival, life quality.

Introdução

O século XXI tem sido considerado o ponto culminante, do ponto de vista de historicidade, quanto a questão ambiental. A questão ambiental deriva do século XIX, e se apresenta com mais intensidade no século XX, tempo em que o meio científico tem conclamado a humanidade a rever seus hábitos, necessidades e especulações. Pode-se dizer que o se o século XX foi o da tecnologia (tecnozóico) o século XXI será o da ecologia (ecozóico). Paralelamente, surgem discussões em torno da sustentabilidade, como exigência neste novo tempo, no sentido de garantir a sobrevivência, não apenas econômica, mas também planetária.

O gestor, nesta perspectiva, não será apenas um administrador de recursos em busca de melhores resultados econômicos, mas um ser humano atento às necessidades do planeta que é infinitamente superior ao mercado. Surge a figura do eco-gestor, responsável por uma necessária mudança histórica em torno do comportamento econômico da humanidade.

Esta nova demanda é decorrente de um processo histórico em que priorizou-se a exploração de recursos e fontes de energia, dispensando-se pouco tempo e atenção para questões relativas ao cuidado com a vida. Assim, é possível afirmar que as gerações pós-revolução industrial são indiscutivelmente as grandes responsáveis pela tragédia que aflora nos tempos atuais. Numa análise histórica, podemos dizer que os nobres medievais dispunham de menos conforto que o mais miserável dos contemporâneos, o que flagra a mudança radical, não apenas de hábitos, mas também da acessibilidade aos ditos bens de consumo.

Emerge um novo paradigma, sustentado por um consenso liberal de que todos têm o direito ao acesso a bens que garantam não apenas sobrevivência biológica, mas social. Deste paradigma surge o sentimento de onipotência gerado pela “racionalização” das relações homem x natureza, fazendo-os verdadeiros rivais. Esta postura “biocida” estabeleceu uma realidade caótica, de resultados alarmantes, a ponto de estabelecer, em poucas décadas, a perspectiva de sobrevida do planeta. A relação de dominante e dominado, estabelecida entre homem e natureza, se deu através de meios de exploração em relação aos recursos naturais, fontes de energia, etc. Ocorre que esta postura pela sobrevivência econômica e social pôs em risco a mais elementar e fundamental das sobrevivências: a biológica. Visto de forma mais complexa o grande desafio é a sobrevivência planetária.

A discussão em torno da sobrevivência, independentemente da abordagem, fundamenta o surgimento de uma ciência ainda no século XIX. Ernst Haeckel (1834-1919) foi quem por primeiro utilizou o termo ecologia, por volta de 1860, definindo-o como o estudo do inter-retro-relacionamento de todos os sistemas vivos e não vivos entre e si e com o seu meio ambiente. Esta concepção dimensiona a complexidade com que o tema necessita ser tratado.

Fatos recentes como desastres ambientais, aquecimento global, redução do volume de água potável, fome e miséria têm comprometido o sucesso de sistemas e modelos econômicos convencionais. Os gestores públicos e das organizações são chamados a este debate para que contribuam com as transformações que emergem construindo novos caminhos em direção a modelos que possam contemplar as demandas planetárias atuais.

Através deste escrito pretende-se oferecer um debate significativo em torno de um gestor sensível às demandas de sobrevivência planetária, considerando a necessidade de se associar desenvolvimento econômico e sustentabilidade. Para tal, será promovida uma discussão teórica através de pesquisa bibliográfica de autores que se lançam ao desafio de compreender dialeticamente o tema proposto. Trata-se, portanto, de um debate de caráter dialético e solidário, na busca de elementos que possam fazer do gestor (administrador), um importante protagonista no grande espetáculo da sobrevivência planetária.

O gestor, desta forma, há que se voltar não apenas para os interesses e apelos do mercado, mas para a perspectiva de modificá-lo para que esta sobrevivência ocorra com dignidade. Trata-se de uma atitude ética, cooperativa e compassiva, em que, cada qual, se perceba co-responsável pelo planeta que se deixará para quem está por vir.



Ascensão, crise e falibilidade de modelos

A ciência, nas mais variadas expressões e manifestações, demonstra seu necessário grau de falibilidade e sujeição permanente a crises e conflitos. Estas são situações que se completam e não se distanciam. É parte da definição histórica do que se compreende por conhecimento científico. Conceitos imersos em paradigmas sustentados em teorias historicamente concebidas assumem um caráter semi-pseudo-dogmático, impondo-se como expressão da verdade e do correto, auto-caracterizando-se como infalíveis e inquestionáveis. A exploração de recursos ambientais, fontes de energia e o equilíbrio planetário são tentativas de transformar uma percepção de um determinado tempo e local em verdade absoluta. Infundiu-se por séculos a idéia de que era preciso explorar, dominar e se apossar de recursos e fontes naturais e transformá-las em bens e serviços, uma vez que, estes existem exclusivamente para este fim.

O século XXI, ainda em seus primeiros anos, vem sendo o tempo da grande ruptura, mudança e conflito em relação a este conceito historicamente afirmado. A crise tem despertado discussões que transcendem os limites da análise quantitativa dos efeitos antrópicos no seio da natureza e passa figurar numa discussão de âmbito planetário. É possível afirmar que “a atual crise ambiental é, portanto, muito mais a crise de uma sociedade do que uma crise de gerenciamento da natureza, tour court. (expressão francesa que significa na sua totalidade, por si só)” (BRÜGGER, 1999, p. 25). Mais do que uma questão de sobrevivência econômica num determinado tempo e espaço, trata-se de uma questão de sobrevivência do planeta. A intervenção humana, nas complexas de redes de sustentabilidade planetária, representa uma ameaça igualmente planetária.

A falência do modelo tradicional de conceber a relação entre a humanidade e a natureza (dominante x dominado) poderia ser explicada matematicamente ao se romper equações simples como as que sustentam e explicam o funcionamento das teias alimentares. Mas se isso não basta para convencer mentes de que: o alto grau de miséria em que se situam milhões de seres humanos; a elevada incidência de epidemias entre populações marginais ao modelo econômico adotado; o desaparecimento de espécies pelas alterações climáticas e pluviométricas, são de responsabilidade exclusiva da humanidade.

Enfim, um inumerável elenco de dados poderia ser citado para dizer que estamos diante de um modelo falível e em falência, responsável pela maior tragédia coletiva já vivida, que parece se anunciar ao longo de décadas e se aproximar sempre mais e mais rapidamente. As organizações têm, por sua vez, uma grande responsabilidade histórica em relação à problemática descrita e haverão de assumir um compromisso solidário no sentido de buscar possíveis caminhos que conduzam a soluções eficazes, eficientes e efetivas.

Há que se reconhecer também, que a presença humana, de forma racional, munida de conhecimentos e técnicas nunca será totalmente isenta de cometer equívocos ou promover alterações ambientais. Assim, “muitas pessoas acreditam que o crescimento econômico possa ser saudável ao ambiente. Na verdade isto nunca é possível. A maioria das atividades econômicas envolve consumo de energia e matéria-prima; este consumo, por sua vez, cria lixo que o planeta tem de absorver. Portanto, o crescimento verde é uma quimera. Mas o crescimento mais verde é possível” (CAIRNCROSS, 1992, p. 19). Esta parece ser a alternativa, agredir menos, utilizar melhor e aproveitar mais.

Assim, pelo que se conhece até o momento é possível dizer que não há desenvolvimento totalmente sustentável. O que emerge é a necessidade de promover um desenvolvimento menos agressivo, menos impactante e mais atento a vida. Esta mudança exige, por sua feita, um entendimento de que é preciso, além de inovar condutas de produtores e fornecedores, formar consumidores sensíveis à necessidade de utilizar produtos alternativos, energias menos sujas.

As mudanças de hábitos, no que diz respeito à relação entre a humanidade e o meio ambiente, é um caminho alternativo, genitor de uma nova concepção de desenvolvimento e que, por sua vez, exigem um novo gestor (administrador). Há várias formas de alcançá-la, porém, vislumbraremos três:
- impondo o novo modelo, punindo a quem não se adequar a ele;
- privilegiando a quem o adota, oferecendo-lhe visibilidade mercadológica em detrimento de quem não o faz;
- sensibilizando os seres humanos à necessidade de cuidar e mudar hábitos com o auxílio de políticas públicas adequadas.

As duas primeiras, de certa forma eficientes, parecem apelar a instintos como o da competitividade, punição e premiação. A eficiência relativa ocorre pelo fato de que o seu mérito encontra-se restrito ao campo econômico. Enquanto for lucrativo, não pagar multas ou vender melhor seus produtos, a organização apelará para modelos mais verdes, porém, em se esgotando estas vantagens o modelo será posto em questão.

A terceira será mais eficiente, porém, mais lenta e exige uma maior somatória de forças. Trata-se de alcançar o mérito da questão ambiental. Sensibilizar as pessoas para que renunciem a certos privilégios em favor da possibilidade de todos poderem viver melhor, renunciando a necessidade de lucrar mais, é uma ruptura altamente significativa. Este é um grande desafio para o eco-gestor que, no cumprimento de sua função sócio-empresarial, deverá implementar em sua prática e no contexto da organização, transformações de grande impacto, especialmente no campo econômico.

Entretanto, é importante lembrar que o Estado também tem um papel fundamental no cuidado com o meio ambiente, porém, não é possível atribuir apenas ao Estado o papel de imprimir mudanças no modo de vida e sobrevivência das pessoas. A sustentabilidade é de responsabilidade também das organizações. Estas precisam cumpri-lo de forma incondicional. Neste sentido afirma-se que

“O desenvolvimento sustentável nas organizações apresenta três dimensões que são: a econômica, a social e ambiental. Do ponto de vista econômica, a sustentabilidade prevê que as empresas têm que ser economicamente viáveis... Em termos sociais, a empresa deve satisfazer aos requisitos de proporcionar as melhores condições de trabalho aos seus empregados, procurando contemplar a diversidade cultural existente na sociedade em que atua, além de propiciar oportunidade aos deficientes de modo geral... Do ponto de vista ambiental, deve a organização pautar-se pela eco-eficiência dos seus processos produtivos, adotar a produção mais limpa, oferecer condições para o desenvolvimento de uma cultura ambiental organizacional, adotar uma postura de responsabilidade ambiental”... (DIAS, 2006, p 39-40)

Esta nova percepção torna-se necessária não apenas do ponto de vista da sustentabilidade e viabilidade do modelo econômico, mas também, da vida na Terra. Os excessos cometidos inviabilizam dramaticamente a existência de ambos: economia e vida. Parte desta inviabilidade se pode atribuir ao fato de que poucas vezes se percebeu que ambas têm uma forte relação de interdependência. Mas não se trata de perceber a vida como um recurso meramente econômico, mas ao contrário, a economia como uma ciência promotora da vida. A preocupação com a defesa e promoção da vida é outra importante característica do eco-gestor.

Emerge então um novo paradigma, no qual, o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental sejam parte de um todo. Com isso, os velhos modelos, de falência já decretada, cedem lugar a este, oportunizando o desejado desenvolvimento econômico aliado ao imprescindível cuidado ambiental. “O paradigma da economia ambiental, por ser este o paradigma do movimento ambientalista, é o desenvolvimento sustentável” (MONTIBELLER FILHO, 2004, p. 83). Seu sucesso dependerá não apenas da sua operacionalização na organização, mas em fazer com que fornecedores e consumidores também o considerem no momento de cumprir sua função na cadeia produtiva. Como mencionamos, é preciso que a sensibilidade seja o instrumento de incorporação e adoção deste paradigma.


O eco-gestor: atribuições e ações

A incorporação do conceito de sustentabilidade acena para um novo conceito de gestão e de gestor. O eco-gestor será aquele que além de administrar a casa, preocupa-se com ela. O gestor, neste contexto, será alguém atento não apenas ao sucesso da organização, mas aos valores que permeiam a vida em sua plenitude. Tanto o gestor quanto a organização estão inseridos num contexto planetário, o qual transcende os limites do mercado ou de qualquer sistema organizacional. Esta mudança de concepção traduz-se numa análise de métodos de produção e comercialização historicamente consolidados. Este vem sendo o desafio dos últimos anos
“a intensificação do comércio internacional a partir da Revolução Industrial... gerou um incremento da exploração predatória do ambiente natural nos países colonizados, que tinham suas riquezas naturais extraídas sem nenhuma preocupação com a sua reposição... O quadro não se alterou até a segunda metade do século XX, quando cresceu a preocupação com as modificações geradas pelo comércio internacional”... (DIAS, 2006, p. 103)

A dificuldade de compreensão em relação ao novo paradigma tem, portanto, uma historicidade muito peculiar. Se até a Revolução Industrial o homem extraiu da natureza o suficiente para sobreviver e alguns poucos excessos (porém restritos a poucos), no período que segue o que mais se vê é produção de excessos, estimulada pelo comércio e por outras formas de intercâmbio de mercadorias e produtos. O que era restrito a poucos, agora vai absorvendo uma quantidade cada vez maior de consumidores. Mais do que isso, o nível de exigência amplia-se proporcionalmente ao volume de invenções e descobertas ocorridas.

As preocupações em relação às questões ambientais intensificaram-se a partir da segunda metade do século XX. O ano de 1962 pode ser considerado um divisor de águas, pois os problemas derivados da relação do homem com o meio ambiente eram abordados de forma muito superficial. Foi nesse ano, que Rachel Carson publicou o livro Silent Spring (Primavera Silenciosa), que teve enorme repercussão na opinião pública e que expunha os perigos de um inseticida, o DDT. A atenção da comunidade econômica passou, num primeiro momento, no sentido de minimizar o alerta, o que não ocorreu no meio científico, que passou a se debruçar de forma intensa sobre a temática.

Além do conhecimento técnico elaborado a partir de intensos estudos, culminou com conclusões amplamente instigantes. Desta forma, “uma das características mais patentes no ambientalismo é a exigência de novas posturas no quadro das relações entre nações, visto pressupor a necessidade de uma política ambiental global (tendo em conta que grande parte dos problemas relacionados ao meio ambiente extrapolam fronteiras geopolíticas)” (MONTIBELLER FILHO, 2004, p. 41). A intensidade destas discussões soma-se ao sofrimento vivido por parcela significativa da população mundial, fazendo com que novas dimensões sejam incorporadas à discussão. O eco-gestor é o administrador que se sensibiliza e lidera a constante luta pelo fim deste sofrimento e criação de novos caminhos.

Numa visão mercadológica afirma-se que “globalizamos a nossa preocupação com o meio ambiente. De fato, parece que a preocupação com a Guerra Fria está sendo substituída por uma preocupação global com a preservação do meio ambiente” (NAISBITT, 1999, p. 25-6). Esta é uma afirmativa verdadeira, porém, ainda não se globalizou o mérito da questão. A tendência está mais alicerçada nos princípios da punição a quem não cumpre certas determinações e uma premiação a quem segue a risca o que é estabelecido por agencias internacionais de controle. O eco-gestor é o administrador visionário, que percebe a tragédia humana contemporânea que tem vitimado a vida na terra como grande punição histórica. Além disso, é o cidadão planetário que percebe na possibilidade de uma vida mais digna para todos os seres vivos, especialmente para os que ainda não nasceram.

Em contrapartida é possível afirmar que
“O que deve ser mundializado atualmente é menos o capital, o mercado, a ciência e a técnica. O que deve ser mundializado, fundamentalmente, ser mais mundializado é a solidariedade para com todos os seres, a partir dos mais afetados, a valorização ardente da vida, em todas as suas formas, a participação como resposta ao chamado de cada ser humano e à dinâmica mesmo do universo, a veneração para com a natureza da qual somos parte, e parte responsável”. (BOFF, 1996, p. 41)

Trata-se de uma visão humanista, ética e solidária, assumida por muitos gestores públicos e de organizações e que pode representar um caminho possível entre o apresentado por Naisbitt e que poderia ser considerado ideal. A utopia apresentada não pode ser encarada como algo improvável ou até impossível, mas ao contrário, vista como um desafio. O fato das organizações manifestarem, a seu modo, certas preocupações representa um avanço igualmente improvável há poucas décadas. Perseguir um ideal não é apenas parte de um sonho, mas um compromisso a ser inserido na formação acadêmica de gestores, os quais em pouco tempo farão ecoar este ideal em seu campo de atuação.

A mundialização destas novas demandas já apresenta certa intensidade em setores significativos da comunidade planetária. Mas não o suficiente, pois “a solidariedade internacional é hoje assumida apenas por associações humanitárias, ao passo que houve um tempo em que ela concernia em primeiro lugar aos sindicatos e aos partidos de esquerda” (GUATTARI, 1990, p. 26). A percepção coletiva desta necessidade requer um aprofundamento ainda maior das políticas públicas em torno do tema e da sensibilização da sociedade como um todo. É neste quesito que contemplamos os gestores destas organizações que além de seu compromisso pessoal, podem imprimir um comprometimento do grupo social em que estão inseridos.

A compreensão planetária do compromisso a ser assumido no ato de gerir uma empresa ou organização requer uma concepção clara de planetariedade. Além disto, há que se sensibilizar cada homem e cada mulher no sentido de tomar o cuidado necessário para que sua presença no mundo não seja uma ameaça para a paz ambiental e consequentemente a paz planetária. Neste sentido os modelos convencionais de gestão têm se demonstrado altamente falíveis. Prova disto são as conseqüências de bilhões de toneladas de carbono lançadas na atmosfera, que aquecem todo o planeta e, frequentemente, vitimam os grandes aglomerados e bolsões de miseráveis.

Assim, constata-se que “o dano ambiental pode ocorrer longe da causa original. A chuva ácida na Noruega pode ser provocada pelas usinas movidas a carvão na Inglaterra ou pelos veículos alemães. Pode acontecer muito tempo depois do evento original e ser tarde demais para a ação preventiva” (CAIRNCROSS, 1992, p. 28). Por conta disto, é que tem sido comum desde a década de 60 buscar estabelecer consensos internacionais através de acordos que possam minimizar os efeitos e impactos causados pela equivocada relação entre o homem e a natureza.

Publicações e conferências ocorridas em diversas partes do mundo contribuíram para que se construísse uma nova percepção acerca da equivocada relação homem e natureza. O que efetivamente não representa a solução definitiva da problemática ambiental, pois muitos dos eventos foram motivados por questões econômicas e de conveniência regional, em detrimento das razões ambientais, humanas e planetárias. Apesar disso, fazem parte de uma seqüência de fatos históricos que conduziram a humanidade a atual conjuntura de preocupações ambientais.

Prova disso é que surgem diferentes conceitos que buscam a superação das concepções convencionais. Uma delas é o conceito de eco-desenvolvimento que
“pressupõe, então, uma solidariedade sincrônica com os povos atuais, na medida em que desloca o enfoque da lógica da produção para a ótica das necessidades fundamentais da população; e uma solidariedade diacrônica, expressa na economia de recursos naturais e na perspectiva ecológica para garantir possibilidade de qualidade de vida às próximas gerações”. (MONTIBELLER FILHO, 2004, p.47)

Este é um conceito que merece uma atenção especial pela sua complexidade e apelo à racionalidade. A racionalidade é, pois, uma característica humana, a qual não pode ser ignorada, ao contrário, o eco-gestor será a parte humana e racional, que fará valer sua condição de co-responsável pela preservação e promoção da vida. Não apenas a sua vida, mas de todos que estão vivos.


Perspectivas de sustentabilidade: solidariedade e comprometimento planetário

O debate que tange o tema da sustentabilidade implica em transcender as providências de correção e recuperação. Há que se estabelecer uma intensa busca em direção a medidas preventivas que ultrapassam os limites do que permite compreender a ciência convencional. Para tanto, é necessário apelar para que é essencialmente humano: a solidariedade. O gestor solidário é também um sujeito comprometido com o planeta, sempre atento às alternativas para modelos clássicos sem, no entanto, ignorar sua importância.

Tal tendência alimenta perspectivas reais de um contexto de convívio possível, porém, diferente dos modelos convencionais que se conhece. Isto é possível partindo-se da inserção de valores éticos. “o ser humano vive eticamente quando renunciar estar sobre os outros para estar junto com os outros” (BOFF, 1996, 36). O gestor será então, um agente ator de um processo que poderá expressar apenas preocupações econômicas e financeiras, ou então, utilizar-se de sua condição para estabelecer uma conduta inovadora.

A inovação está na mudança de paradigma, uma vez que, tradicionalmente, se tem atribuído valor à prática de sobrevivência em termos de mercado e agora a sobrevivência alcança o espaço planetário. As preocupações com a qualidade de vida das pessoas passam a dominar os debates, inclusive no campo da gestão de empresas e organizações. A complexidade desta temática associada a da sustentabilidade impõe uma discussão de grande impacto em todos os campos da vida humana.

Assim, um curso de graduação em administração não pode apenas atender as demandas restritas a seu campo, até porque, os campos de atuação das ciências não são mais restritos. A multi e a transdisciplinaridade são fenômenos recorrentes das inovações reais e concretas dos modelos que já demonstram falibilidade. A falibilidade, longe de ser um defeito, é uma característica fundamental em relação a qualquer ramo da ciência, como no caso da administração. O eco-gestor, como portador dos saberes da ciência da administração, deverá ser flexível às constantes mudanças das ciências e preparado para estar em permanente (trans)formação pessoal.

Para tanto, conta-se com a humildade, como característica do ser humano, que há em cada eco-gestor. A onipotência foi uma característica do homem do século XX, o que o fez acreditar que tudo o que existe é apenas um apêndice da criatura maior: ele próprio. Hoje é preciso “conhecer o humano, não separá-lo do Universo, mas situá-lo nele” (MORIN, 2005, p. 37). Este sentimento de presença, partilha e compromisso, é o que tem feito a referida mudança de paradigma uma constante entre seres humanos, empresas e organizações.

Condutas éticas em favor da vida, posturas solidárias e de tolerância são caminhos apontados como de grande significação no sentido de reverter o quadro desastroso em que a humanidade se lançou. Para tanto, como mencionado anteriormente, há que se perceber a gestão, de uma organização ou empresa, como um campo multi/transdisciplinar onde é necessário investir em políticas de prevenção e formação de sujeitos atentos à nova demanda.

Mas não basta fazer isto em relação ao gestor. É preciso estender a fornecedores, produtores, consumidores, enfim, há que se sensibilizar o ser humano em relação a sua responsabilidade. São, portanto, passos que devem ser planejados simultaneamente, atores a sensibilizar diante de um espetáculo que poderá ser encantador, ou ter seu brilho ofuscado pela insensível incapacidade do ser humano de cuidar amorosamente de seu lar.



Conclusão

O eco-gestor será um ser humano compreendido na essência do termo. Longe de ser um super-herói, será o que há de mais virtuoso na concepção de ser humano: um ser solidário. Um ser capaz de reconhecer sua responsabilidade e superar valores historicamente impostos por regimes e modelos já superados pelo tempo e, principalmente, por seus resultados.

Estas características não se assumem espontaneamente, mas como fruto da vivência social e acadêmica. As circunstâncias e contextos, aos olhos atentos de seres humanos sensíveis à causa ambiental, representam um campo fértil de buscas de novas posturas e condutas. Mas é a academia, a grande responsável pelo salto qualitativo em direção a formação de um administrador imerso no compromisso de defender a dignidade da vida planetária: o eco-gestor. Um administrador formado pelo conhecimento e (trans)formado pela sensibilidade solidária que o torna mais ético.

Desta forma, é fundamental que a academia (universidade) seja capaz de fomentar este novo perfil de administrador. Ela não pode se lançar ao espontaneísmo e permitir que o acadêmico seja apenas um diplomado. É de sua responsabilidade imprimir um caráter inovador na formação dos acadêmicos, através de currículos flexíveis e atentos às demandas dos novos tempos. Não será a academia a transformadora da sociedade e, muito menos ela, ventríloqua de seus paradigmas engessados. A formação de um eco-gestor necessita de uma relação dialética entre academia e sociedade, promovendo um permanente processo de (re)construção humana.

A “Primavera Silenciosa” parece ter dado voz ao desejo firme e concreto em favor de um futuro possível. O próprio homem, através da ciência, tem provado que é possível explorar de forma sustentável toda a sorte de recursos e fontes de matéria-prima e energia sem comprometer substancialmente o equilíbrio e a vida na Terra. A utopia do possível é transcrita em forma de uma renovada esperança, através da qual, seja possível estabelecer um novo paradigma: o da sobrevivência sustentável.

As respostas para os conflitos emergentes não são poucas ou definitivas, mas ilustram o grande potencial que é carregado por cada ser humano. O gestor empresarial, como ser humano, também o possui e sua utilização será determinada por valores, perspectivas e compromissos que assumir.




Bibliografia

BOFF, Leonardo. Ecologia, mundialização e espiritualidade: a emergência de um novo paradigma. 2ª edição. São Paulo: Ática. 1996.

BRÜGGER, Paulo. Educação ou adestramento ambiental? 2ª edição. Florianópolis (SC): Letras contemporâneas, 1999.

CAIRNCROSS, Francês. Meio ambiente: custos e benefícios. Tradução: Cid Knipel Moreira. São Paulo: Nobel, 1992.

DIAS, Reinaldo. Gestão ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade. São Paulo: Atlas, 2006.

GUATTARI, Félix. As três ecologias. Tradução: Maria Cristina F. Bittencourt. Campinas: Papirus, 1990.

MONTIBELLER FILHO, Gilberto. O mito do desenvolvimento sustentável: meio ambiente e custos sociais no moderno sistema produtor de mercadorias. 2ª edição revisada. Florianópolis: Editora da UFSC, 2004.

MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Tradução: Eloá Jacobina – 11ª edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

NAISBITT, John. Paradoxo global. Tradução: Ivo Korytowski. Rio de Janeiro: Campus; São Paulo: Publifolha, 1999


Autor: Nilton Bruno Tomelin
Titulação: Mestre em Educação e Licenciado em Biologia.
Função: Professor da disciplina de Ecologia e Meio Ambiente do Curso de Administração
Instituição: UNIFEBE.
Endereço: Rua Prefeito Alex Persuhn, 52. Centro. CEP: 89 124 – 000. Benedito Novo – SC.
Fone: (47) 91718321
E-mail: nilton@unifebe.edu.br




Resumo:
A academia propõe com freqüência debater, nos diferentes campos de ação, sua nova responsabilidade frente às novas demandas. A história tem sido cenário e palco de grandes discussões, em torno das quais, se tem alcançado resultados promissores no contexto da tomada de conhecimento das grandes ameaças a vida. A complexidade inerente a sustentabilidade remete a rever outros conceitos como o de sobrevivência e qualidade de vida. Assim, a gestão com perspectivas ecológicas terá seu espaço e suas atribuições garantidas no momento em que gerenciar passa a ser um ato em favor da vida. Sobreviver é um direito e sua extensão a universalidade dos seres vivos é um compromisso de todos.

Palavras-chave: Academia, sustentabilidade, sobrevivência, qualidade de vida.


Eco-management: Sustainability and survival.

Abstract:
The academy frequently proposes debating on the different field of activity, its new responsibilities in front of the new demands. History has been stage and scenery of great discussions which have led to reaching promising results on the context of unraveling the great threats to life. The complexity inherent to sustainability leads us to reviewing other concepts, such as survival and life quality. So, management with ecological perspectives will have its space and its attributions granted at the very moment in which managing becomes an act in favor of life. Survival is a right and its extension to the universality of the living beings it’s a commitment of everyone.

Key words: Academic formation, sustainability, survival, life quality.

Introdução

O século XXI tem sido considerado o ponto culminante, do ponto de vista de historicidade, quanto a questão ambiental. A questão ambiental deriva do século XIX, e se apresenta com mais intensidade no século XX, tempo em que o meio científico tem conclamado a humanidade a rever seus hábitos, necessidades e especulações. Pode-se dizer que o se o século XX foi o da tecnologia (tecnozóico) o século XXI será o da ecologia (ecozóico). Paralelamente, surgem discussões em torno da sustentabilidade, como exigência neste novo tempo, no sentido de garantir a sobrevivência, não apenas econômica, mas também planetária.

O gestor, nesta perspectiva, não será apenas um administrador de recursos em busca de melhores resultados econômicos, mas um ser humano atento às necessidades do planeta que é infinitamente superior ao mercado. Surge a figura do eco-gestor, responsável por uma necessária mudança histórica em torno do comportamento econômico da humanidade.

Esta nova demanda é decorrente de um processo histórico em que priorizou-se a exploração de recursos e fontes de energia, dispensando-se pouco tempo e atenção para questões relativas ao cuidado com a vida. Assim, é possível afirmar que as gerações pós-revolução industrial são indiscutivelmente as grandes responsáveis pela tragédia que aflora nos tempos atuais. Numa análise histórica, podemos dizer que os nobres medievais dispunham de menos conforto que o mais miserável dos contemporâneos, o que flagra a mudança radical, não apenas de hábitos, mas também da acessibilidade aos ditos bens de consumo.

Emerge um novo paradigma, sustentado por um consenso liberal de que todos têm o direito ao acesso a bens que garantam não apenas sobrevivência biológica, mas social. Deste paradigma surge o sentimento de onipotência gerado pela “racionalização” das relações homem x natureza, fazendo-os verdadeiros rivais. Esta postura “biocida” estabeleceu uma realidade caótica, de resultados alarmantes, a ponto de estabelecer, em poucas décadas, a perspectiva de sobrevida do planeta. A relação de dominante e dominado, estabelecida entre homem e natureza, se deu através de meios de exploração em relação aos recursos naturais, fontes de energia, etc. Ocorre que esta postura pela sobrevivência econômica e social pôs em risco a mais elementar e fundamental das sobrevivências: a biológica. Visto de forma mais complexa o grande desafio é a sobrevivência planetária.

A discussão em torno da sobrevivência, independentemente da abordagem, fundamenta o surgimento de uma ciência ainda no século XIX. Ernst Haeckel (1834-1919) foi quem por primeiro utilizou o termo ecologia, por volta de 1860, definindo-o como o estudo do inter-retro-relacionamento de todos os sistemas vivos e não vivos entre e si e com o seu meio ambiente. Esta concepção dimensiona a complexidade com que o tema necessita ser tratado.

Fatos recentes como desastres ambientais, aquecimento global, redução do volume de água potável, fome e miséria têm comprometido o sucesso de sistemas e modelos econômicos convencionais. Os gestores públicos e das organizações são chamados a este debate para que contribuam com as transformações que emergem construindo novos caminhos em direção a modelos que possam contemplar as demandas planetárias atuais.

Através deste escrito pretende-se oferecer um debate significativo em torno de um gestor sensível às demandas de sobrevivência planetária, considerando a necessidade de se associar desenvolvimento econômico e sustentabilidade. Para tal, será promovida uma discussão teórica através de pesquisa bibliográfica de autores que se lançam ao desafio de compreender dialeticamente o tema proposto. Trata-se, portanto, de um debate de caráter dialético e solidário, na busca de elementos que possam fazer do gestor (administrador), um importante protagonista no grande espetáculo da sobrevivência planetária.

O gestor, desta forma, há que se voltar não apenas para os interesses e apelos do mercado, mas para a perspectiva de modificá-lo para que esta sobrevivência ocorra com dignidade. Trata-se de uma atitude ética, cooperativa e compassiva, em que, cada qual, se perceba co-responsável pelo planeta que se deixará para quem está por vir.



Ascensão, crise e falibilidade de modelos

A ciência, nas mais variadas expressões e manifestações, demonstra seu necessário grau de falibilidade e sujeição permanente a crises e conflitos. Estas são situações que se completam e não se distanciam. É parte da definição histórica do que se compreende por conhecimento científico. Conceitos imersos em paradigmas sustentados em teorias historicamente concebidas assumem um caráter semi-pseudo-dogmático, impondo-se como expressão da verdade e do correto, auto-caracterizando-se como infalíveis e inquestionáveis. A exploração de recursos ambientais, fontes de energia e o equilíbrio planetário são tentativas de transformar uma percepção de um determinado tempo e local em verdade absoluta. Infundiu-se por séculos a idéia de que era preciso explorar, dominar e se apossar de recursos e fontes naturais e transformá-las em bens e serviços, uma vez que, estes existem exclusivamente para este fim.

O século XXI, ainda em seus primeiros anos, vem sendo o tempo da grande ruptura, mudança e conflito em relação a este conceito historicamente afirmado. A crise tem despertado discussões que transcendem os limites da análise quantitativa dos efeitos antrópicos no seio da natureza e passa figurar numa discussão de âmbito planetário. É possível afirmar que “a atual crise ambiental é, portanto, muito mais a crise de uma sociedade do que uma crise de gerenciamento da natureza, tour court. (expressão francesa que significa na sua totalidade, por si só)” (BRÜGGER, 1999, p. 25). Mais do que uma questão de sobrevivência econômica num determinado tempo e espaço, trata-se de uma questão de sobrevivência do planeta. A intervenção humana, nas complexas de redes de sustentabilidade planetária, representa uma ameaça igualmente planetária.

A falência do modelo tradicional de conceber a relação entre a humanidade e a natureza (dominante x dominado) poderia ser explicada matematicamente ao se romper equações simples como as que sustentam e explicam o funcionamento das teias alimentares. Mas se isso não basta para convencer mentes de que: o alto grau de miséria em que se situam milhões de seres humanos; a elevada incidência de epidemias entre populações marginais ao modelo econômico adotado; o desaparecimento de espécies pelas alterações climáticas e pluviométricas, são de responsabilidade exclusiva da humanidade.

Enfim, um inumerável elenco de dados poderia ser citado para dizer que estamos diante de um modelo falível e em falência, responsável pela maior tragédia coletiva já vivida, que parece se anunciar ao longo de décadas e se aproximar sempre mais e mais rapidamente. As organizações têm, por sua vez, uma grande responsabilidade histórica em relação à problemática descrita e haverão de assumir um compromisso solidário no sentido de buscar possíveis caminhos que conduzam a soluções eficazes, eficientes e efetivas.

Há que se reconhecer também, que a presença humana, de forma racional, munida de conhecimentos e técnicas nunca será totalmente isenta de cometer equívocos ou promover alterações ambientais. Assim, “muitas pessoas acreditam que o crescimento econômico possa ser saudável ao ambiente. Na verdade isto nunca é possível. A maioria das atividades econômicas envolve consumo de energia e matéria-prima; este consumo, por sua vez, cria lixo que o planeta tem de absorver. Portanto, o crescimento verde é uma quimera. Mas o crescimento mais verde é possível” (CAIRNCROSS, 1992, p. 19). Esta parece ser a alternativa, agredir menos, utilizar melhor e aproveitar mais.

Assim, pelo que se conhece até o momento é possível dizer que não há desenvolvimento totalmente sustentável. O que emerge é a necessidade de promover um desenvolvimento menos agressivo, menos impactante e mais atento a vida. Esta mudança exige, por sua feita, um entendimento de que é preciso, além de inovar condutas de produtores e fornecedores, formar consumidores sensíveis à necessidade de utilizar produtos alternativos, energias menos sujas.

As mudanças de hábitos, no que diz respeito à relação entre a humanidade e o meio ambiente, é um caminho alternativo, genitor de uma nova concepção de desenvolvimento e que, por sua vez, exigem um novo gestor (administrador). Há várias formas de alcançá-la, porém, vislumbraremos três:
- impondo o novo modelo, punindo a quem não se adequar a ele;
- privilegiando a quem o adota, oferecendo-lhe visibilidade mercadológica em detrimento de quem não o faz;
- sensibilizando os seres humanos à necessidade de cuidar e mudar hábitos com o auxílio de políticas públicas adequadas.

As duas primeiras, de certa forma eficientes, parecem apelar a instintos como o da competitividade, punição e premiação. A eficiência relativa ocorre pelo fato de que o seu mérito encontra-se restrito ao campo econômico. Enquanto for lucrativo, não pagar multas ou vender melhor seus produtos, a organização apelará para modelos mais verdes, porém, em se esgotando estas vantagens o modelo será posto em questão.

A terceira será mais eficiente, porém, mais lenta e exige uma maior somatória de forças. Trata-se de alcançar o mérito da questão ambiental. Sensibilizar as pessoas para que renunciem a certos privilégios em favor da possibilidade de todos poderem viver melhor, renunciando a necessidade de lucrar mais, é uma ruptura altamente significativa. Este é um grande desafio para o eco-gestor que, no cumprimento de sua função sócio-empresarial, deverá implementar em sua prática e no contexto da organização, transformações de grande impacto, especialmente no campo econômico.

Entretanto, é importante lembrar que o Estado também tem um papel fundamental no cuidado com o meio ambiente, porém, não é possível atribuir apenas ao Estado o papel de imprimir mudanças no modo de vida e sobrevivência das pessoas. A sustentabilidade é de responsabilidade também das organizações. Estas precisam cumpri-lo de forma incondicional. Neste sentido afirma-se que

“O desenvolvimento sustentável nas organizações apresenta três dimensões que são: a econômica, a social e ambiental. Do ponto de vista econômica, a sustentabilidade prevê que as empresas têm que ser economicamente viáveis... Em termos sociais, a empresa deve satisfazer aos requisitos de proporcionar as melhores condições de trabalho aos seus empregados, procurando contemplar a diversidade cultural existente na sociedade em que atua, além de propiciar oportunidade aos deficientes de modo geral... Do ponto de vista ambiental, deve a organização pautar-se pela eco-eficiência dos seus processos produtivos, adotar a produção mais limpa, oferecer condições para o desenvolvimento de uma cultura ambiental organizacional, adotar uma postura de responsabilidade ambiental”... (DIAS, 2006, p 39-40)

Esta nova percepção torna-se necessária não apenas do ponto de vista da sustentabilidade e viabilidade do modelo econômico, mas também, da vida na Terra. Os excessos cometidos inviabilizam dramaticamente a existência de ambos: economia e vida. Parte desta inviabilidade se pode atribuir ao fato de que poucas vezes se percebeu que ambas têm uma forte relação de interdependência. Mas não se trata de perceber a vida como um recurso meramente econômico, mas ao contrário, a economia como uma ciência promotora da vida. A preocupação com a defesa e promoção da vida é outra importante característica do eco-gestor.

Emerge então um novo paradigma, no qual, o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental sejam parte de um todo. Com isso, os velhos modelos, de falência já decretada, cedem lugar a este, oportunizando o desejado desenvolvimento econômico aliado ao imprescindível cuidado ambiental. “O paradigma da economia ambiental, por ser este o paradigma do movimento ambientalista, é o desenvolvimento sustentável” (MONTIBELLER FILHO, 2004, p. 83). Seu sucesso dependerá não apenas da sua operacionalização na organização, mas em fazer com que fornecedores e consumidores também o considerem no momento de cumprir sua função na cadeia produtiva. Como mencionamos, é preciso que a sensibilidade seja o instrumento de incorporação e adoção deste paradigma.


O eco-gestor: atribuições e ações

A incorporação do conceito de sustentabilidade acena para um novo conceito de gestão e de gestor. O eco-gestor será aquele que além de administrar a casa, preocupa-se com ela. O gestor, neste contexto, será alguém atento não apenas ao sucesso da organização, mas aos valores que permeiam a vida em sua plenitude. Tanto o gestor quanto a organização estão inseridos num contexto planetário, o qual transcende os limites do mercado ou de qualquer sistema organizacional. Esta mudança de concepção traduz-se numa análise de métodos de produção e comercialização historicamente consolidados. Este vem sendo o desafio dos últimos anos
“a intensificação do comércio internacional a partir da Revolução Industrial... gerou um incremento da exploração predatória do ambiente natural nos países colonizados, que tinham suas riquezas naturais extraídas sem nenhuma preocupação com a sua reposição... O quadro não se alterou até a segunda metade do século XX, quando cresceu a preocupação com as modificações geradas pelo comércio internacional”... (DIAS, 2006, p. 103)

A dificuldade de compreensão em relação ao novo paradigma tem, portanto, uma historicidade muito peculiar. Se até a Revolução Industrial o homem extraiu da natureza o suficiente para sobreviver e alguns poucos excessos (porém restritos a poucos), no período que segue o que mais se vê é produção de excessos, estimulada pelo comércio e por outras formas de intercâmbio de mercadorias e produtos. O que era restrito a poucos, agora vai absorvendo uma quantidade cada vez maior de consumidores. Mais do que isso, o nível de exigência amplia-se proporcionalmente ao volume de invenções e descobertas ocorridas.

As preocupações em relação às questões ambientais intensificaram-se a partir da segunda metade do século XX. O ano de 1962 pode ser considerado um divisor de águas, pois os problemas derivados da relação do homem com o meio ambiente eram abordados de forma muito superficial. Foi nesse ano, que Rachel Carson publicou o livro Silent Spring (Primavera Silenciosa), que teve enorme repercussão na opinião pública e que expunha os perigos de um inseticida, o DDT. A atenção da comunidade econômica passou, num primeiro momento, no sentido de minimizar o alerta, o que não ocorreu no meio científico, que passou a se debruçar de forma intensa sobre a temática.

Além do conhecimento técnico elaborado a partir de intensos estudos, culminou com conclusões amplamente instigantes. Desta forma, “uma das características mais patentes no ambientalismo é a exigência de novas posturas no quadro das relações entre nações, visto pressupor a necessidade de uma política ambiental global (tendo em conta que grande parte dos problemas relacionados ao meio ambiente extrapolam fronteiras geopolíticas)” (MONTIBELLER FILHO, 2004, p. 41). A intensidade destas discussões soma-se ao sofrimento vivido por parcela significativa da população mundial, fazendo com que novas dimensões sejam incorporadas à discussão. O eco-gestor é o administrador que se sensibiliza e lidera a constante luta pelo fim deste sofrimento e criação de novos caminhos.

Numa visão mercadológica afirma-se que “globalizamos a nossa preocupação com o meio ambiente. De fato, parece que a preocupação com a Guerra Fria está sendo substituída por uma preocupação global com a preservação do meio ambiente” (NAISBITT, 1999, p. 25-6). Esta é uma afirmativa verdadeira, porém, ainda não se globalizou o mérito da questão. A tendência está mais alicerçada nos princípios da punição a quem não cumpre certas determinações e uma premiação a quem segue a risca o que é estabelecido por agencias internacionais de controle. O eco-gestor é o administrador visionário, que percebe a tragédia humana contemporânea que tem vitimado a vida na terra como grande punição histórica. Além disso, é o cidadão planetário que percebe na possibilidade de uma vida mais digna para todos os seres vivos, especialmente para os que ainda não nasceram.

Em contrapartida é possível afirmar que
“O que deve ser mundializado atualmente é menos o capital, o mercado, a ciência e a técnica. O que deve ser mundializado, fundamentalmente, ser mais mundializado é a solidariedade para com todos os seres, a partir dos mais afetados, a valorização ardente da vida, em todas as suas formas, a participação como resposta ao chamado de cada ser humano e à dinâmica mesmo do universo, a veneração para com a natureza da qual somos parte, e parte responsável”. (BOFF, 1996, p. 41)

Trata-se de uma visão humanista, ética e solidária, assumida por muitos gestores públicos e de organizações e que pode representar um caminho possível entre o apresentado por Naisbitt e que poderia ser considerado ideal. A utopia apresentada não pode ser encarada como algo improvável ou até impossível, mas ao contrário, vista como um desafio. O fato das organizações manifestarem, a seu modo, certas preocupações representa um avanço igualmente improvável há poucas décadas. Perseguir um ideal não é apenas parte de um sonho, mas um compromisso a ser inserido na formação acadêmica de gestores, os quais em pouco tempo farão ecoar este ideal em seu campo de atuação.

A mundialização destas novas demandas já apresenta certa intensidade em setores significativos da comunidade planetária. Mas não o suficiente, pois “a solidariedade internacional é hoje assumida apenas por associações humanitárias, ao passo que houve um tempo em que ela concernia em primeiro lugar aos sindicatos e aos partidos de esquerda” (GUATTARI, 1990, p. 26). A percepção coletiva desta necessidade requer um aprofundamento ainda maior das políticas públicas em torno do tema e da sensibilização da sociedade como um todo. É neste quesito que contemplamos os gestores destas organizações que além de seu compromisso pessoal, podem imprimir um comprometimento do grupo social em que estão inseridos.

A compreensão planetária do compromisso a ser assumido no ato de gerir uma empresa ou organização requer uma concepção clara de planetariedade. Além disto, há que se sensibilizar cada homem e cada mulher no sentido de tomar o cuidado necessário para que sua presença no mundo não seja uma ameaça para a paz ambiental e consequentemente a paz planetária. Neste sentido os modelos convencionais de gestão têm se demonstrado altamente falíveis. Prova disto são as conseqüências de bilhões de toneladas de carbono lançadas na atmosfera, que aquecem todo o planeta e, frequentemente, vitimam os grandes aglomerados e bolsões de miseráveis.

Assim, constata-se que “o dano ambiental pode ocorrer longe da causa original. A chuva ácida na Noruega pode ser provocada pelas usinas movidas a carvão na Inglaterra ou pelos veículos alemães. Pode acontecer muito tempo depois do evento original e ser tarde demais para a ação preventiva” (CAIRNCROSS, 1992, p. 28). Por conta disto, é que tem sido comum desde a década de 60 buscar estabelecer consensos internacionais através de acordos que possam minimizar os efeitos e impactos causados pela equivocada relação entre o homem e a natureza.

Publicações e conferências ocorridas em diversas partes do mundo contribuíram para que se construísse uma nova percepção acerca da equivocada relação homem e natureza. O que efetivamente não representa a solução definitiva da problemática ambiental, pois muitos dos eventos foram motivados por questões econômicas e de conveniência regional, em detrimento das razões ambientais, humanas e planetárias. Apesar disso, fazem parte de uma seqüência de fatos históricos que conduziram a humanidade a atual conjuntura de preocupações ambientais.

Prova disso é que surgem diferentes conceitos que buscam a superação das concepções convencionais. Uma delas é o conceito de eco-desenvolvimento que
“pressupõe, então, uma solidariedade sincrônica com os povos atuais, na medida em que desloca o enfoque da lógica da produção para a ótica das necessidades fundamentais da população; e uma solidariedade diacrônica, expressa na economia de recursos naturais e na perspectiva ecológica para garantir possibilidade de qualidade de vida às próximas gerações”. (MONTIBELLER FILHO, 2004, p.47)

Este é um conceito que merece uma atenção especial pela sua complexidade e apelo à racionalidade. A racionalidade é, pois, uma característica humana, a qual não pode ser ignorada, ao contrário, o eco-gestor será a parte humana e racional, que fará valer sua condição de co-responsável pela preservação e promoção da vida. Não apenas a sua vida, mas de todos que estão vivos.


Perspectivas de sustentabilidade: solidariedade e comprometimento planetário

O debate que tange o tema da sustentabilidade implica em transcender as providências de correção e recuperação. Há que se estabelecer uma intensa busca em direção a medidas preventivas que ultrapassam os limites do que permite compreender a ciência convencional. Para tanto, é necessário apelar para que é essencialmente humano: a solidariedade. O gestor solidário é também um sujeito comprometido com o planeta, sempre atento às alternativas para modelos clássicos sem, no entanto, ignorar sua importância.

Tal tendência alimenta perspectivas reais de um contexto de convívio possível, porém, diferente dos modelos convencionais que se conhece. Isto é possível partindo-se da inserção de valores éticos. “o ser humano vive eticamente quando renunciar estar sobre os outros para estar junto com os outros” (BOFF, 1996, 36). O gestor será então, um agente ator de um processo que poderá expressar apenas preocupações econômicas e financeiras, ou então, utilizar-se de sua condição para estabelecer uma conduta inovadora.

A inovação está na mudança de paradigma, uma vez que, tradicionalmente, se tem atribuído valor à prática de sobrevivência em termos de mercado e agora a sobrevivência alcança o espaço planetário. As preocupações com a qualidade de vida das pessoas passam a dominar os debates, inclusive no campo da gestão de empresas e organizações. A complexidade desta temática associada a da sustentabilidade impõe uma discussão de grande impacto em todos os campos da vida humana.

Assim, um curso de graduação em administração não pode apenas atender as demandas restritas a seu campo, até porque, os campos de atuação das ciências não são mais restritos. A multi e a transdisciplinaridade são fenômenos recorrentes das inovações reais e concretas dos modelos que já demonstram falibilidade. A falibilidade, longe de ser um defeito, é uma característica fundamental em relação a qualquer ramo da ciência, como no caso da administração. O eco-gestor, como portador dos saberes da ciência da administração, deverá ser flexível às constantes mudanças das ciências e preparado para estar em permanente (trans)formação pessoal.

Para tanto, conta-se com a humildade, como característica do ser humano, que há em cada eco-gestor. A onipotência foi uma característica do homem do século XX, o que o fez acreditar que tudo o que existe é apenas um apêndice da criatura maior: ele próprio. Hoje é preciso “conhecer o humano, não separá-lo do Universo, mas situá-lo nele” (MORIN, 2005, p. 37). Este sentimento de presença, partilha e compromisso, é o que tem feito a referida mudança de paradigma uma constante entre seres humanos, empresas e organizações.

Condutas éticas em favor da vida, posturas solidárias e de tolerância são caminhos apontados como de grande significação no sentido de reverter o quadro desastroso em que a humanidade se lançou. Para tanto, como mencionado anteriormente, há que se perceber a gestão, de uma organização ou empresa, como um campo multi/transdisciplinar onde é necessário investir em políticas de prevenção e formação de sujeitos atentos à nova demanda.

Mas não basta fazer isto em relação ao gestor. É preciso estender a fornecedores, produtores, consumidores, enfim, há que se sensibilizar o ser humano em relação a sua responsabilidade. São, portanto, passos que devem ser planejados simultaneamente, atores a sensibilizar diante de um espetáculo que poderá ser encantador, ou ter seu brilho ofuscado pela insensível incapacidade do ser humano de cuidar amorosamente de seu lar.



Conclusão

O eco-gestor será um ser humano compreendido na essência do termo. Longe de ser um super-herói, será o que há de mais virtuoso na concepção de ser humano: um ser solidário. Um ser capaz de reconhecer sua responsabilidade e superar valores historicamente impostos por regimes e modelos já superados pelo tempo e, principalmente, por seus resultados.

Estas características não se assumem espontaneamente, mas como fruto da vivência social e acadêmica. As circunstâncias e contextos, aos olhos atentos de seres humanos sensíveis à causa ambiental, representam um campo fértil de buscas de novas posturas e condutas. Mas é a academia, a grande responsável pelo salto qualitativo em direção a formação de um administrador imerso no compromisso de defender a dignidade da vida planetária: o eco-gestor. Um administrador formado pelo conhecimento e (trans)formado pela sensibilidade solidária que o torna mais ético.

Desta forma, é fundamental que a academia (universidade) seja capaz de fomentar este novo perfil de administrador. Ela não pode se lançar ao espontaneísmo e permitir que o acadêmico seja apenas um diplomado. É de sua responsabilidade imprimir um caráter inovador na formação dos acadêmicos, através de currículos flexíveis e atentos às demandas dos novos tempos. Não será a academia a transformadora da sociedade e, muito menos ela, ventríloqua de seus paradigmas engessados. A formação de um eco-gestor necessita de uma relação dialética entre academia e sociedade, promovendo um permanente processo de (re)construção humana.

A “Primavera Silenciosa” parece ter dado voz ao desejo firme e concreto em favor de um futuro possível. O próprio homem, através da ciência, tem provado que é possível explorar de forma sustentável toda a sorte de recursos e fontes de matéria-prima e energia sem comprometer substancialmente o equilíbrio e a vida na Terra. A utopia do possível é transcrita em forma de uma renovada esperança, através da qual, seja possível estabelecer um novo paradigma: o da sobrevivência sustentável.

As respostas para os conflitos emergentes não são poucas ou definitivas, mas ilustram o grande potencial que é carregado por cada ser humano. O gestor empresarial, como ser humano, também o possui e sua utilização será determinada por valores, perspectivas e compromissos que assumir.




Bibliografia

BOFF, Leonardo. Ecologia, mundialização e espiritualidade: a emergência de um novo paradigma. 2ª edição. São Paulo: Ática. 1996.

BRÜGGER, Paulo. Educação ou adestramento ambiental? 2ª edição. Florianópolis (SC): Letras contemporâneas, 1999.

CAIRNCROSS, Francês. Meio ambiente: custos e benefícios. Tradução: Cid Knipel Moreira. São Paulo: Nobel, 1992.

DIAS, Reinaldo. Gestão ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade. São Paulo: Atlas, 2006.

GUATTARI, Félix. As três ecologias. Tradução: Maria Cristina F. Bittencourt. Campinas: Papirus, 1990.

MONTIBELLER FILHO, Gilberto. O mito do desenvolvimento sustentável: meio ambiente e custos sociais no moderno sistema produtor de mercadorias. 2ª edição revisada. Florianópolis: Editora da UFSC, 2004.

MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Tradução: Eloá Jacobina – 11ª edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

NAISBITT, John. Paradoxo global. Tradução: Ivo Korytowski. Rio de Janeiro: Campus; São Paulo: Publifolha, 1999


terça-feira, 5 de agosto de 2008

Turmas da EEB Teófilo Nolasco de Almeida - 2007

Número de Alunos da EEB Teófilo Nolasco de Almeida - 2007

Tecnologia aplicada à educação

Um eco humano

Os tempos atuais estão nos impondo uma dialética cruel: optar pela vida ou pela morte. Mais cruel é a constatação de que a opção tem sido pela morte. É uma opção orientada por princípios econômicos que parecem ultrapassar a compreensão de vida e morte. Ecoa sobre a humanidade um estridente pranto de dor e luto, capaz de silenciar o doce sussurro da vida. A discussão em torno da questão ambiental tem feito do homem um mero espectador, incapaz de se incluir e se sensibilizar pela causa e resolução do problema. Mal percebe que está instalando em si uma chaga mortífera que responde por diferentes nomes e sintomas.

A preservação de matas, florestas, mares, aqüíferos, solo e ar é uma demanda significativa no contexto da discussão ambiental, porém não se pode reduzi-la a apenas isso. Em última instância, é também uma busca incessante por qualidade de vida. Para tanto é preciso cuidar da vida na sua essência, preocupando-se com o planeta como um todo, por aqueles do presente e do futuro. A equivocada concepção de que é preciso acumular o máximo ao longo do tempo que se vive, em detrimento dos que ainda não nasceram, é uma atitude gananciosa e irresponsável.

O assombroso espetáculo que conduz a natureza a uma autofagia involuntária, tem feito vítimas entre humanos. Certamente o ser humano é neste aspecto, o mais estúpido e inconseqüente de todos os viventes, uma vez que dificilmente é conhecido, qualquer outro ser vivo, capaz de destruir sua casa, matar e violentar os de sua espécie e ser totalmente intolerante e inflexível com os de outras espécies. Agora é tempo, como se diz na gíria, de “correr atrás do prejuízo”, utilizando meios que garantam sucesso imediato e concreto.

Isto parece despertar a humanidade, através da ciência, a encontrar meios mais solidários e responsáveis para se viver. Mesmo assim, ainda é insuficiente. Ricos e pobres ainda sentam em mesas diferentes para tratar dos mesmos assuntos como se houvessem duas humanidades. Uma apta a se deliciar do banquete farto e mortífero advindo da exploração incontida do planeta e outra condenada a sobreviver das migalhas da primeira. Tal paradigma se instalou de forma absolutamente ‘natural’ que as diferenças entre uma e outra humanidade são compreendidas como óbvias.

Enquanto a humanidade não se sentir responsável pela sua sobrevivência, pelo seu futuro e pelas suas esperanças, o que se fizer em favor da causa ambiental será apenas o cumprimento de uma obrigação. Quando a obrigação se tornar uma prazerosa atitude em favor da vida, e vida com dignidade, então a ameaça ecoará como desafio, aos ouvidos sensíveis e solidários de homens e mulheres corajosos e inovadores.

domingo, 3 de agosto de 2008

Entre a competitividade e a solidariedade

O século XXI está se firmando como um tempo de intenso movimento nos diferentes campos da ciência. Está reduzindo a cada dia, o tempo que tiramos para fazer e apreciar um bom prato, conversar com pessoas queridas, ler um bom livro, assistir um bom filme, dar boas gargalhadas, cuidar de um canteiro ou de um animal de estimação ou simplesmente fazer nada. Mais do que nunca as máximas de que “tempo é dinheiro” e “o trabalho dignifica o homem”, têm se revelado absolutamente verdadeiras e cruelmente aplicadas a vida das pessoas cada vez mais cedo. Crianças são mantidas ocupadas com atividades que as impedem de brincar, de cantarolar, pular descompromissadamente, enfim de ser simplesmente criança.

Tudo isto é feito porque desde criança o ser humano é condicionado a competir e vencer. A cada etapa esta tendência é reforçada e o sucesso se mede pela capacidade de ser o melhor entre o maior número de pessoas possível. Num contexto exclusivamente competitivo não se percebe que a “vitória” de um é a derrota de uma multidão e que o vitorioso não é necessariamente o melhor. Diz-se que é preciso educar as pessoas para que aprendam a competir, afinal, não se pode alienar crianças e jovens com um discurso utópico de que não é preciso se preparar para ser competitivo.

Realmente, formar alguém alheio a competitividade seria um equívoco inaceitável, mas fazê-lo(a) um(a) mero(a) competidor(a) seria de uma crueldade imperdoável. Afinal ainda há pessoas que não querem apenas garantir o melhor lugar, mas se sentem responsáveis pelo sucesso alheio e trabalham para isso. Pessoas que se importam com o bem-estar e a felicidade alheia, inclusive participam dela. Agem de forma ética e justa, cooperam espontaneamente, assumem uma conduta solidária. Crianças e jovens haverão de se preparar para não admitir que um ser humano seja melhor que outro pelo seu salário, cargo, cor de pele, religião ou opção sexual. É imprescindível que crianças e jovens sejam preparados para agir solidariamente.

É preciso ensinar às nossas crianças que guerra nenhuma se justifica; que a fome não se explica; que a violência não se sustenta; que o mal não é regra; que prepotência não assusta e a dor não é valor. Está-se diante de um momento de profunda transformação mas de difícil aceitação. Tirar um tempo para o que realmente importa tem sido algo distante da realidade da maioria dos seres humanos. Inventamos tantas coisas para nos substituir e aproveitarmos melhor o tempo e definitivamente não percebemos isso.

O tempo que economizamos utilizando um computador em lugar de uma máquina de escrever não está sendo uso para fazer e apreciar um bom prato, conversar com pessoas queridas, ler um bom livro, assistir um bom filme, dar boas gargalhadas, cuidar de um canteiro ou de um animal de estimação ou simplesmente fazer nada. Usamos o tempo para sermos mais competitivos e menos solidários.
Competitividade pode assumir um sentido oposto ao da solidariedade, porém é possível e necessário fazer de ambas, faces de uma mesma moeda. A competitividade compreendida como meio de (auto)superação é uma forma de proporcionar a cada ser humano, a oportunidade de ser melhor. Não melhor que os outros, mas melhor que si mesmo, inspirado em valores humanizadores, éticos e planetários.

Quem sou eu

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Benedito Novo, Santa Catarina, Brazil
Sou Mestre em educação, graduado em Biologia e Matemática, professor da rede estadual de Santa Catarina, com experiência em educação a distância, ensino superior e pós-gradução. Sou autor e tutor de cursos na área da educação no Instituto Veritas (Ascurra) e na Atena Cursos (Timbó). Também tenho escrito constantemente para a Coluna "Artigo do Leitor" do "Jornal do Médio Vale" e para a revista eletrônica "Gestão Universitária". Fui diretor da EEB Frei Lucínio Korte (2003-2004) e secretário municipal da Educação e Promoção Social de Doutor Pedrinho (2005). Já atuei na rede municipal de ensino de Timbó. Em 2004 coordenei a campanha que conduziu à eleição do Prefeito Ercides Giacomozzi (PMDB) à prefeitura de Doutor Pedrinho. Em 2011 assumi pela segunda vez, a direção da EEB Frei Lucínio Korte.