Que bom que você está aqui!

É com prazer que te recebo neste espaço! Esta "casa" virtual está em permanente construção e em cada "cômodo" há uma inquietante necessidade de fazer diferente! Meus textos, relatos e imagens buscam apresentar a você os passos que constituem minha caminhada pessoal, profissional e acadêmica. A partilha que faço não intui caracterizar-se por uma postura doutrinária, autoritária ou impositiva-opressora, mas ao contrário, apresenta-se como ato solidário (jamais solitário) de contribuição à discussões humanas, planetárias e éticas!



Como educador me vejo no compromisso de participar do processo histórico de libertação dos oprimidos, marginalizados e esquecidos, a começar por mim. Despindo-me de qualquer resquício de arrogância, prepotência e soberba apresento-me como aprendente num contexto de intensa renovação de conceitos e atitudes!



Assim convido-o a juntos pensarmos em nossa condição de partícipes da grande Salvação! Salvação plena do homem e da mulher místicos, políticos e planetários!



Fraterno abraço!








Casa Rosada - sede do governo argentino. Em frente está a Praça de Maio. É um local em que é possível conhecer um pouco da história e da cultura argentina.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Enfim 2012...

Enfim 2012! As previsões afirmam que este será o ano derradeiro. Será mesmo verdade? Haverá mesmo uma grande hecatombe? Quais as chances reais disto acontecer? Escusem-me os místicos e supersticiosos de plantão, mas valo-me da ciência para dizer que a chance disto acontecer em 2012 é a mesma de acontecer neste exato momento ou em qualquer outro. Considerando a ordem natural dos acontecimentos é preciso dizer que cronologicamente 2012 será um ano de grandes demandas. Demandas políticas, econômicas, sociais, ambientais e humanitárias para evitar o grande colapso planetário. Afinal a América estará em eleições e como a grande parte do mundo subserviente veleja pelos sopros “generosos” de Tio San, guerras começam e terminam num piscar de olhos; nações inteiras rastejam pedindo clemência econômica e sacrificando seu povo para manter algumas poucas economias num nível mínimo de sustentabilidade. Nem mesmo as cada vez mais intensas e frequentes tragédias ambientais despertam os gigantes econômicos para a enorme tarefa de salvar a vida do Planeta. Em nosso país haverá uma nova eleição municipal, momento sublime da democracia em consolidação e de grande expectativa enquanto se decide se corrupção é crime. Sem dúvida um tempo de eleitores confusos e perplexos com um grande poder em suas mãos e com enorme dúvida se poderão exerce-lo de fato. Afinal a Ficha Limpa vale ou não vale? Em 2012, finalmente integridade e decência serão importantes ou ainda vamos tentar escolher o menos pior? Estaremos diante de uma hecatombe previsível até para o maior dos céticos? Será enfim 2012, o ano da quebra de alguns dos mais odiosos paradigmas como o de que nem todos podem e os que podem sempre querem poder mais? Será em 2012 o início de uma nova forma de convívio entre os diferentes seres humanos? A Terra será vista com a grande Mãe (viva) e geradora de vida? No que depender de nossos desejos, repetidos ano após ano, sabemos quais seriam as respostas, porém ainda nos predemos a esperanças. Apenas lamentáveis esperanças! Afinal que todos sejam tratados por igual, que todos se respeitem e que a Terra seja santuário de vida é extremamente elementar num mundo que se diz pós-moderno. Mas afinal se não houver esperança, perderíamos a razão de lutar por algo que ainda não temos, seja ou não elementar. Mesmo que nada do que desejamos se realize conforme imaginamos, que não cheguemos ao final de 2012 lamentando a covarde postura de quem sequer se dispôs a fazer sua parte. Que em 2012, façamos a nossa parte, sejamos felizes e façamos a felicidades dos que nos acompanham pela vida!

domingo, 18 de dezembro de 2011

Então é Natal...

Luzes, canções, presépios, árvores, celebrações e infinitas mensagens se multiplicam, por que é Natal. Há sempre quem queira relembrar o verdadeiro sentido do Natal e a seu modo procuram inserir o nascimento de Cristo como o grande evento a ser celebrado, como de fato é. Mas o fato é que um grande Natal tem sido aquele em que superou o anterior em vendas, com recordes de produtos consumidos e de dinheiro circulando. Mas há temas que merecem, neste tempo, uma reflexão mais profunda... Inicialmente o fato de movimentar a economia não é de todo ruim, pois gera trabalho, emprego e renda. O grande problema que remete a inúmeras reflexões é a perda do sentido místico e transcendente (religioso) e o acesso restrito aos produtos que tanto querem que se consumam. Numa análise mais profunda há mazelas que merecem discussões permanentes, não apenas no Natal mas ao longo de todos os dias, todos os meses e anos. Em 2011, por exemplo, discutiu-se muito acerca da questão ambiental, mas em nome do sucesso econômico de um modelo ecologicamente fracassado, protelou-se a implementação de soluções. Trazendo o tema para o Natal, cada produto consumido (especialmente os supérfluos) produz um impacto antes, durante a após sua produção. Mas com o “desespero econômico” do continente europeu não é possível imaginar que a questão ambiental seja tratada com a seriedade que merece, em 2012. Em 2011, outro assunto sempre presente em todas as mídias, como reflexo da prática de muitos de nossos políticos, é a corrupção. Se muitas ceias deste Natal forem menos fartas ou simplesmente não acontecerem é por que a falta de ética e respeito de homens públicos transformam nossas contribuições tributárias em inspiração inesgotável para a sua voracidade. A despreocupação com estes dois temas, entre tantos, acaba por consolidá-los como naturais e aos poucos passa-se a conviver e até aderir a estas práticas. Assim, neste Natal poderíamos aproveitar toda a mística que o envolve e além de partilhar presentes, mensagens e ceias, celebrar o início de uma nova vida. Uma vida atenta aos valores mais simples e também mais complexos que poderão nos garantir o direito de sonhar. Sonhar que o nascimento de Jesus, com toda a sua simplicidade foi e é divinamente projetado para que cada ser humano se veja como um mero ser que habita este planeta, mas com uma responsabilidade maior pela sua proximidade com Deus. Afinal Ele manifestou toda a sua generosidade através de seu Filho feito homem. Em tempos em que “ser do bem” virou um certo modismo é preciso compreender que o bem não faz mal a ninguém e o mal não faz bem a ninguém. Cuidar do planeta, respeitar o patrimônio público são esforços coletivos que merecem a atenção de todos. Da mesma forma assumir valores individuais e aparentemente tradicionais, como família e religião é uma necessidade eminente. Afinal em nome da ruptura de paradigmas, lançou-se a humanidade a uma liberdade que mais se assemelha a anarquia. Assim, que este Natal seja uma esperança de recomeço, onde a liberdade seja usufruída com a sensibilidade necessária para que o bem seja o valor maior. Bem que nos faça melhores como parte de uma família e como habitantes deste planeta.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Para que ter fé?

Certamente não há ser humano que pelo menos uma vez na vida não tenha parado para pensar em Deus. Independente de sua confissão religiosa, de seu credo e até de seu descredo, a divindade não é um elemento estranho, oculto ou desconhecido. Os mais fervorosos ateus, certamente estão entre os que mais analisaram, pensaram e discutiram a figura de Deus. Associa-se a Sua figura a necessidade de se ter fé. Este é um estágio mais aprofundado da discussão desta figura, quando se passa não apenas a discutir sobre Deus, mas passa-se a tratar com Deus. A fé é o caminho pelo qual se constrói a verdadeira intimidade com Deus. Não se trata de apenas acreditar, mas entregar-se confiantemente a Ele de tal forma que não há espaços para dúvidas. Fé presume fidelidade, ou seja, ter fé em Deus é reservar-lhe um espaço que sempre foi, é e será seu. Fé também tem a ver com suficiência. Ao testemunhar sua fé, o sujeito assume a condição de que para aquelas perguntas não cabem outras respostas. Mas e os conflitos entre ciência e religião que tem produzido confrontos, desentendimentos e até preconceitos? Ora, como não se questiona um engenheiro para que este construa um diagnóstico de uma enfermidade ou um médico quanto a durabilidade de uma construção, pois há conceitos específicos para a engenharia e para a medicina, assim também ocorre com a ciência e religião. Há fenômenos e circunstâncias que só podem ser tratadas pela ciência, assim como outros somente pela religião. Fazer com que uma faça o papel da outra é descaracterizar a ambas. A fé definitivamente não tem um caráter científico, assim como a ciência não tem um caráter místico. Mas como muitos fenômenos ainda não foram elucidados, historicamente, atribuem-se explicações às divindades. Mas retomando o conceito de fé, é preciso descrever-lhe algumas atribuições. Uma delas é estabelecer um caráter transcendente ao ser humano, fazendo-o sensível às suas atribuições e á sua missão. Outra atribuição é estabelecer um vínculo entre o sujeito e sua própria transcendência. Não há como aproximar-se de Deus senão pela fé. Outro aspecto fundamental da fé é seu caráter único. Assim como o mesmo servo não pode servir a dois senhores, um único indivíduo não pode manifestar duas formas de fé. A constante necessidade de respostas a fenômenos desconhecidos ou a perguntas sobre as quais ainda não se encontrou um esclarecimento atiçam a criatividade e a “esperteza” humanas e surgem “respostas mágicas” e enredos grotescos que distorcem qualquer tentativa de estabelecer vínculos de fé ou de acesso a Deus. Um dos fenômenos para os quais se recorre a fé para encontrar explicações é a morte. O inconformismo com o fim biológico e a expectativa em relação à continuidade espiritual faz surgir “esperanças” diversas e não comprovadas como é o caso do processo de reencarnação onde biológico e transcendente se confundem. Assim afirma-se que a obra divina é imperfeita e como tal necessita constantemente ser refeita, passando por um processo claro de “evolução”. Seria esta uma forma de se ter fé? Seria uma fé com buscas científicas? Em relação a mesma busca, encontram-se interpretações que afirmam que retornaremos a uma dimensão paradisíaca de infinita felicidade. Mas afinal cabe ao ser humano a luz daquilo que conhece julgar como seria este lugar e defini-lo como de absoluta felicidade? Teria o ser humano, na condição de criatura, meios para compreender, descrever e dimensionar o Criador e suas intenções? Como dissemos a fé é o caminho pelo qual construímos nossa intimidade com Deus e toda a intimidade exige amorosidade. Assim, enquanto experiência amorosa a fé é um valor, cuja intensidade e descrição não cabem em métodos conhecidos ou descritos. É muito mais uma experiência individual, única e particular do que um modelo a ser representado. Mas para que ter fé? Esta é uma resposta igualmente individual, única e particular, a ser construída pela experiência vivenciada. O cuidado a ser tomado neste momento está na necessidade de se estabelecer uma fé individual capaz de servir de caminho para Deus. Uma fé que não admita a ingenuidade de supor que Deus é apenas um “sujeito” capaz de solucionar pequenos problemas do cotidiano. Pela fé podemos perceber a grande necessidade de Salvação. Utilizar algo tão precioso como a fé para encontrar respostas ralas para questões tão complexas é no mínimo desmerecer o grande sacrifício do Criador. É imaginar que a criatura superou o criador e pode dominá-lo. Devaneio humano...

sábado, 3 de dezembro de 2011

De quem é a culpa?

O final de mais um ano letivo faz ressoar esta pergunta em diferentes contextos, mas com o mesmo propósito. Justificar o que não deu certo. Assim, pais, alunos e até professores procuram identificar culpados pelo fracasso que na verdade foi de todos e do qual todos são vítimas. Há um longo processo histórico em que equívocos, interpretações distorcidas, ações descoordenadas induziram à educação a assumir funções que não lhe cabem e a renunciar as que lhe são exclusivas. O que efetivamente deveria ser perguntado neste momento é: onde erramos e como vamos fazer para resolver ou pelo menos o que fazer para não repetir o mesmo erro? Obviamente isto exige comprometimento, mudanças de postura e a retomada de uma série de atribuições da família, da escola, dos gestores e de toda a comunidade escolar. Assim, a remota possibilidade de se achar um culpado ativa a de uma isenção coletiva. Ora, se um culpado for encontrado a ele caberá a responsabilidade da correção. Durante muito tempo a escola se insentou e lançou a culpa sobre a sociedade e especialmente sobre a família. Excluiu pessoas, baseou-se num modelo tecnicista de ensino, promoveu reprovações em massa, etc. Mais recentemente, por força da má (intencionada) interpretação das leis e normativas, a culpa tende a voltar-se sobre a escola, chegando a convertê-la em segunda família. Ora família é família e escola é escola. São instituições distintas,com atribuições próprias que se complementam, mas jamais se fundem. O fato é que reprovações, insucessos ou aprovações sem se atingir os objetivos e metas planejados,denotam a explícita necessidade de deixar a caça aos culpados de lado, e procurar construir soluções imediatamente. Afinal nossas crianças e adolescentes precisam ter o direito de ter esperança e não podem adiar o seu ingresso no futuro. Se hoje vemos jovens, que após mais de uma década de escolarização, incapazes de escrever uma frase ou interpretar um parágrafo, precisamos nos preocupar. Neste sentido precisamos atuar duas frentes básicas: políticas públicas e partilha de responsabilidades. Quanto as políticas públicas, de responsabilidade do Estado (municípios, estados e união), estas devem procurar oportunizar universalmente, condições de acesso e permanência de crianças e adolescentes, numa escola de qualidade. Esta qualidade diz respeito a estrutura física, projetos pedagógicos consistentes, profissionais qualificados e bem remunerados, gestão profissional e prioridades democraticamente definidas. Quanto a partilha de responsabilidades, trata-se de uma discussão profunda e permanente entre escola, famílias e entidades comunitárias. Esta discussão não pode se debruçar sobre culpados, mas sobre o que cada um deve fazer para contribuir com o outro, no propósito de encontrar soluções. Um trabalho solidário, partilhando responsabilidade, jamais culpas. O comprometimento coletivo e a junção de habilidades e possibilidades pode ser a diferença entre a esperança e o conformismo, a mudança e a estagnação. Diante disto podemos concluir, para os ávidos por respostas, de que a culpa é de todos nós, que tanto insistimos em achar culpados. Não somente culpados pela situação propriamente dita, mas pela falta de perspectivas de soluções. O fato concreto é que o fracasso de cada criança e de cada adolescente é o resultado da somatória do fracasso de todos aqueles que poderiam ter construído soluções, mas se acovardaram na busca de culpados.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

45 anos de PMDB: democracia, liberdade e cidadania

A democracia é um dos valores mais elementares da política moderna e representa o que há de mais civilizado no processo de escolha de governantes e projetos de governo. Mesmo que não seja o regime perfeito (e nunca houve um que o fosse) é o que de melhor temos. Nascida na Grécia a democracia é uma forma de governo em que o poder de decidir está com os cidadãos, que o fazem de forma direta ou por meio de representantes eleitos. Apesar disso é um dos regimes mais ameaçados e mais desvirtuados em todos os tempos. Embora todos os cidadãos tenham os mesmos direitos, os que se apossam do poder estabelecem “critérios” obscuros que diferenciam os cidadãos, e mesmo num regime democrático esta igualdade é relativa. Assim sucessivos tempos históricos testemunharam eventos que comprometeram e comprometem o estabelecimento e consolidação da democracia. No Brasil não tem sido diferente. Basta dizer que estamos vivendo, nestes 26 anos, o mais longo período de regime democrático de nossa história. Para que este período fosse possível passamos por um dos períodos mais tristes e sombrios de nossa história em que a força militar repressora e a ideologia civil neoliberal entreguista, lançaram o Brasil à submissão e à subserviência. A violência física, moral e política do regime intimidou, mas também fez crescer muitas convicções e movimentos contrários a esta submissão. Assim em 24 de março de 1966, o MDB foi registrado junto a justiça eleitoral para fazer frente à ARENA, partido que dava sustentação ao regime civil-militar que governava o país. Somente em 1980, passa a denominação atual. O surgimento do MDB foi um marco deste período devido a todas as limitações impostas pelo regime e pelos absurdos cometidos em nome da ordem nacional. Confundia-se liberdade de expressão com contravenção e por isso estudantes, artistas, profissionais liberais e lideranças populares foram executados e torturados. Graças a coragem, ao civismo e ao comprometimento de todas estas pessoas o regime ruiu e hoje experimentamos um novo tempo. Nestes 45 anos, o PMDB teve uma participação muito significativa, como movimento político organizado na retomada aos caminhos da democracia e em sua consolidação. Embora também se tenha testemunhado uma série de distorções ideológicas e de postura de algumas lideranças, a história do PMDB não pode simplesmente ser contata a partir delas. Grandes líderes como os saudosos Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Franco Montoro, Mário Covas, José Richa, Marcos Freire, Dante de Oliveira, Itamar Franco e tantos outros consolidaram uma nova forma de fazer política. Fizeram acreditar que a democracia seria possível e que a liberdade seria o primeiro passo para a construção de uma nação verdadeiramente cidadã. Fazer parte deste história não foi definitivamente uma obra do acaso, mas do envolvimento pessoal e da coragem de assumir uma condição de oposição à tortura, a repressão e ao desrespeito aos mais elementares direitos humanos. Ao contrário de outras agremiações que trocaram de nome e sigla, o PMDB consolidou-se como organização política e não se envergonha de seu passado. Em relação ao presente, sabe-se que há uma necessidade efervescente de se voltar às origens. Em respeito ao passado é fundamental buscar constantemente uma renovação de condutas e posturas, para que a expressão deste movimento político seja também a expressão da democracia, da liberdade e da cidadania. As lições e a conduta de líderes passados e presentes pode servir de inspiração para que novas gerações surjam, com a coragem e a determinação necessários a impedir que nunca questionemos o valor da verdadeira democracia. Se hoje é possível criticar, exigir e ser diferente é por que no passado, lutou-se por isso, mesmo tendo a vida e a dignidade ameaçadas. Diante disto é possível dizer que se há uma certeza, é que não há liberdade e cidadania sem democracia. Se para muitos, que defendemos o respeito a tradição, a história e aos valores do velho MDB, é preciso impor novas mudanças e transformações, em tempos de democracia é fundamental lutar para que um patrimônio como o PMDB seja visto como um espaço de construção de cidadania e liberdade. O fortalecimento da democracia brasileira passa pela incondicional e permanente reestruturação dos partidos políticos, com especial atenção aos valores que os credenciem e os creditem a representar os interesses de todos os cidadãos.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra!

A necessidade que determinou a criação do Dia Nacional da Consciência Negra flagra também a fragilidade de nossa democracia no que diz respeito à garantia de que todos somos iguais perante a lei. Se assim o fosse, a cor da pele não seria determinante para que pessoas pudesse e outras não. Se ainda é necessário lembrar que negros e brancos merecem o mesmo respeito e a mesma atenção por parte do Estado e que devem respeitar-se mutuamente, nossa democracia ainda é um projeto.
Enquanto o caminho das cotas for o mais viável para o negro alcançar a universidade poucos se preocuparão com a necessidade de oferecer às classes pobres (onde estão negros e brancos) uma educação básica de qualidade. Enquanto ação afirmativa, a política de cotas, merece todo o louvor, mas enquanto política pública de inserção do negro no universo acadêmico, é digna de preocupação. Aqui também é importante afirmar que é totalmente refutável, o argumento que afirma que a política de cotas reforça a prática do preconceito racial. Se chegamos a esta situação, é por que a escola pública, onde estão a maioria dos alunos negros, não oferece condições para que estes possam chegar a universidade, ou ainda, por que uma grande maioria das criança negras sequer pôde frequentar a escola.
Da mesma forma, cabe uma reflexão consistente sobre como os não-negros tratam aqueles que foram arrastados ao nosso território como animais. Sim, por que o negro não colonizou o continente americano, foi seqüestrado e animalizado em nosso continente. Se foi preciso estabelecer o chamado Estatuto da Igualdade Racial, é por que a formação ética do povo brasileiro não foi eficiente para se compreende-se a grande tragédia afro-americana. Enquanto, para alguns, agredir alguém pela cor de sua pele, for apenas um crime, e não um atentado a ética e a dignidade humana, ainda não somos uma nação livre. O Estatuto foi e é extremamente louvável, porém denota o quanto ainda precisamos amadurecer e o quanto a animalização do negro foi e é cruel!
Tomar consciência de que somos diferentes e que esta diferença não faz ninguém melhor ou pior é um exercício que a lei ou políticas afirmativas não poderão resolver por si só. O máximo que farão é amenizar ou mascarar uma realidade cruel onde a cor da pele distingue não apenas “raças”, mas camadas sociais. Numa nação verdadeiramente democrática as únicas diferenças que devem existir são as ideológicas. Neste sentido os diferentes devem ser respeitados e vistos de forma diferenciada por serem desiguais. O direito de ser diferente deve estar implícito nos chamados direitos individuais, assim como o dever de respeitar a diversidade dos outros.
O mosaico de rostos, culturas, tradições e costumes faz da nação brasileira, um espetáculo único. Um espetáculo tão belo que um dia permitirá acabar com o Dia da Consciência Negra e celebrarmos o “Dia da Diversidade Humana”. Um dia para festejar a diferença e a beleza que isto representa numa nação. Mas enquanto isso não acontece, e para que isso venha a acontecer, faz-se necessário discutir a condição do negro, do índio e de outras “minorias”. Certamente o primeiro passo é fazê-las perceber que não são minorias.
Celebrar o 20 de novembro é reconhecer a necessidade de nos enxergarmos melhor, sermos mais sensíveis e mais solidários. É perceber que a negritude de nossos rostos ainda tende a ser embranquecida. É perceber que nossa democracia ainda é imoral e demagoga, pois estabelece legalmente que todos somos iguais independente de nossa origem, mas não garante a todos as mesmas oportunidades.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Corrupção: um mal necessário à democracia e à liberdade?

Os escândalos envolvendo agentes públicos em atos de corrupção tem sido uma constante em nosso país. Estes tornam-se públicos graças a democracia e a imprensa livre, que são uma grande conquista do povo brasileiro. Equivocam-se os que afirmam que em tempos passados, especialmente nos períodos de ditadura, não havia nada disso. A falta de democracia e de liberdade obscureceram a história e iludiram gerações que hoje se veem perplexas diante do que se revela nos bastidores do poder. Se hoje ainda escolhem-se mal os que nos governam é importe que se ressalve que é preferível que seja assim, a não se ter a oportunidade de fazê-lo.
Mas seria a corrupção, o elevado preço a ser pago pela democracia e pela liberdade que se consolida diariamente em nosso país? Seria a corrupção um mal necessário? É preciso dizer que corrupto e corruptor são seres humanos, dotados de valores e por isso a corrupção é essencialmente um ato humano, uma opção. Efetivamente não há como regular o caráter de alguém e convertê-lo por decretos ou dispositivos legais. Mas isso não permite que se considere a corrupção como algo inerente à democracia e à liberdade.
Ao contrário, a consolidação da democracia e da liberdade incidem diretamente sobre o estabelecimento de leis que façam frente a corrupção em dois aspectos: que impeça corrupto e corruptor de agirem e que puna os que pratiquem a corrupção. E isto não fere a democracia e a liberdade, mas ao contrário estabelece um alicerce moral e ético que lhe dá ainda maior estabilidade. Afinal os recursos que escorrem do tesouro público pertencem a cada cidadão que transfere percentuais significativos de sua renda ao Estado. Caberia a estes recursos financiar educação, saúde, bem-estar social e qualidade de vida a toda a população.
Se hoje temos milhares de analfabetos e famintos é porque a contribuição de cada cidadão não está chegando a seu destino. Da mesma forma a violência, a mortalidade infantil, a falta de moradia são frutos do mau uso do que pertence a todos. Por tudo isso, é possível afirmar que a corrupção é um crime contra a humanidade e que precisa ser impedido e punido com o máximo de rigor possível. Mas para isso, efetivamente é fundamental que se promovam mudanças na legislação para que a justiça possa ser feita. Mas como muitos dos que se sustentam pela corrupção são alguns dos que deveriam mudar a legislação, nossas esperanças se reduzem e se sustentam na expectativa de que a própria democracia e liberdade façam com que o eleitorado escolha melhor.
Mudar a legislação e tornar a justiça mais célere é o que pode reduzir este mal que está longe de ser necessário. Um mal que deveria ser punido com maiores e mais rigorosas penas, visto que compromete a vida e a dignidade de toda uma nação. Tanto compromete que faz os cidadãos terem dúvida do valor da democracia e da liberdade e da importância de seu voto. A medida em que 2012 se aproxima e o pleito municipal se anuncia vemos interesses partidários e individuais se camuflarem em propostas coletivas que ultrapassam a utopia e atingem o inaceitável.
Obras públicas e investimentos são anunciados como se partissem do bolso de alguns personagens conhecidos e são decoradas com faixas e cartazes que iludem e mascaram a verdade. Usar dinheiro público para promoção pessoal também se caracteriza com ato de corrupção. Mas graças à democracia e a liberdade, temos a possibilidade de tecer este tipo de crítica e ainda ter a esperança de que o futuro possa ser diferente. Assim, se o mal da corrupção ainda persiste, que ele não seja visto como necessário, mas como algo execrável, combatido e publicado, para que não seja mais preciso pagar por ele com analfabetos, doente, famintos e mortos.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Função social da escola: algumas interpretações

Dentre os muitos princípios que regem as instituições públicas está o de que elas devem apresentar e desempenhar uma função social relevante. Isto quer dizer que deve obrigatoriamente apresentar alguma aplicação junto a sociedade que lhe justifique a existência e o financiamento, visto que instituições públicas pertencem e são mantidas por esta sociedade. Assim um hospital tem por finalidade cuidar da saúde das pessoas; uma prisão a de manter afastados da sociedade elementos que lhe são nocivos; as praças a de promover momentos recreativos. A escola pública também deve ter a sua.
Digo deve ter, pois há uma verdadeira celeuma em torno da definição concreta da função social da escola. Na prática a escola pode ser um restaurante em que entre uma refeição e outra se ofereçam alguns conteúdos e/ou treinamentos; um clube em que se promovam eventos em que se estabeleça a socialização dos seus frequentadores; um centro social em que se promovam ações assistenciais como escovar os dentes, receber um traje passando pelo aconselhamento familiar. Mas isto é função social da escola pública?
Acredito que não seja possível responder a esta pergunta, mas podemos contribuir para que se faça uma discussão mais profunda sobre a real importância de uma instituição de ensino numa comunidade. Obviamente a merenda escolar, os uniformes, os eventos, as escovações e o acompanhamento familiar não podem ser omitidos, mas isto não pode ser a razão de ser da escola nesta comunidade. O centro das atenções pode e deve ser outro. Coincidentemente ou não cabe a escola participar e fomentar a formação de crianças e adolescentes, ou seja oferecer uma parte de sua educação.
Quando digo uma parte, é por que não há dúvida de que a família também e responsável pela educação e formação de seus filhos. É na família que ocorre o primeiro parto, o biológico, e a construção de relações sociais primárias, aquelas que servirão de base para as outras. É na família que se aprende a conviver, partilhar e agir solidariamente. Este aprendizado não se dá apenas na fase anterior a escola, mas ao longo de toda a vida. Portanto, escola não é segunda família, pois esta é única.
Cabe a escola, estabelecer um segundo parto onde munido de valores, o sujeito inicia seu contato com o saber, com sua construção e (trans)formação. Este é parto cidadão. É o momento em que o sujeito não apenas um ente de um corpo social (a família) e passa a ser um constituinte de um universo maior, do qual é responsável pela sua transformação. Compreender que escola e família são duas instituições com compromissos diferentes é essencial para que se possa definir a função social de ambas.
Especificamente em relação a escola, cabe-lhe a função de ser libertadora, transformadora e promotora da construção solidária (e não solitária) de sujeitos capazes e responsáveis por não se conformar com a realidade que se tem. Mais do que assistir ou cuidar de pessoas, a escola tem como compromisso, lançar crianças e adolescentes ao desafio de fazer diferente. De estabelecer um novo ethos, no qual a vida seja preservada em suas múltiplas expressões.
É função social da escola, promover a paz, a liberdade, o respeito, a justiça e a solidariedade. Porém estes valores precisam estar estabelecidos no sujeito antes de seu ingresso no espaço escolar. Com eles e com o seu aprimoramento a escola faz com que os saberes (conceitos) tenham uma nova significação. Direciona-os a promover a vida e a dignidade de tudo o que existe.
O que se percebe e se considera como equívoco de interpretação é na realidade uma verdadeira sobreposição de função. Uma escola menos assistencial e mais libertadora será capaz de formar sujeitos menos subservientes. Sujeitos que sejam livres o suficiente para jamais renunciar ao direito a liberdade. Sujeitos que não precisem do opressor para guiar seus passos, pois se veem em condições de pensar e refletir sobre sua própria função social.
Para tanto o sujeito precisa conhecer, interpretar, criar e estabelecer uma relação íntima de cumplicidade com o saber. Não pode ser apenas benificiário da clemência da aprovação em massa ou da nivelação pelo rendimento mínimo, mas pela postura ética de uma escola que o sensibilize para suas mazelas e o faça sentir-se prazerosamente envolvido pela necessidade de saber mais. E saber mais, não significa dominar um rol padrão de conceitos, mas os necessários a promoção de sua dignidade e de sua função no meio social. Em síntese pode-se dizer que a função social da escola é fazer com que cada sujeito descubra sua própria função social.

domingo, 9 de outubro de 2011

Dia do profissional da Educação: desafios e esperança!

Poucas são as pessoas que não tiveram contato com pelo menos um professor ou professora. Quem é professor(educador) sabe e já deve ter se dado conta da sua participação e até influência na vida das pessoas. A profundidade dessa participação e dessa influência merece ser considerada, pois é a partir dela que se estabelecem todas as relações entre o educador e a sociedade.

O que tem comprometido a qualidade destas relações é a distorção da real função do educador no atual contexto. A “ imposição” da condição de segunda família à escola, a transforma num local onde o exercício da profissão de educador se torna um desafio cada vez menos atingível. Como ministrar conceitos científicos num ambiente onde é necessário executar tarefas essencialmente da família? O que fazer diante de famílias que assumidamente não sabem o que fazer com seus filhos? Como tratar de valores com os filhos de quem apenas procura por culpados de seus próprios erros?

Embora estejamos falando de uma minoria não estamos falando de exceções. A cada dia se percebe crescente, a absoluta renúncia familiar à condição de formadora de valores e atitudes como respeito, tolerância, responsabilidade e comprometimento. O que chama a atenção neste sentido é que esta minoria tem crescido constantemente pela comodidade das famílias e pelo conformismo dos educadores.

O trabalho, a mídia e o excessivo assistencialismo contribuem para acomodar ainda mais a família justificando inclusive sua renuncia a condição de provedora econômica e moral das próximas gerações. Transfere-se esta tarefa ao Estado e à escola, e por conseguinte a maternidade e a paternidade ao educador e à educadora. Estes por conformismo e por opção histórica, assumem-se vocacionados à tarefa. Une-se assim, o “útil ao agradável”.

Esta condição faz do educador um profissional sem uma identidade clara. Impõe-se sobre ele a formação acadêmica, intelectual, moral, social, política e religiosa de crianças e adolescentes. A família limita-se a função de culpar a escola e os educadores por aquilo que ela própria deixou de fazer. Estabelece-se uma relação adversa onde a cada geração, percebem-se fenômenos como a fragilização da autoridade do educador e a desarticulação da estrutura familiar.

Sem referências e sem compreender os limites da liberdade, cada geração dificultará ainda mais o exercício da profissão de educador. A esperança que resta, é que ainda estamos falando de uma minoria. Não há dúvidas de que a grande parceira da escola é a família. Pais e educadores sintonizados podem garantir uma formação ampla, digna e completa às futuras gerações. Esta sintonia se traduz pelo respeito mútuo e pela identificação de funções que cada um deve exercer.

Assim, os verdadeiros e únicos “amigos da escola” são as famílias e sua maior homenagem aos educadores será o de cumprir sua função. Desta forma o educador poderá exercer a sua função e todos saberão o quanto vale uma família e um educador. Desta forma, celebrar o dia do educador é também celebrar a sensibilização de que este é um profissional que necessita de condições morais para exercer seu trabalho.

sábado, 27 de agosto de 2011

Independência e morte na Pátria Mãe gentil

Conta a história que em 07 de setembro de 1822, Dom Pedro I teria lançado sobre a terra brasileira o heróico brado “Independência ou Morte”. Embora seja questionável, esta é a narrativa que conhecemos e é a partir dela que se fará uma breve análise crítica. Segundo o famoso brado, ou passaríamos a condição de Pátria livre ou mergulharíamos num tempo sombrio, semelhante a morte. Como sabemos “optou-se” pela independência sem, entretanto reinventar a nação brasileira. Velhos vícios, antigas oligarquias abandonam o regime colonial e migram para o Império, mantendo o país na mesma rota histórica. Manteve-se a escravidão, ignorou-se a democracia, a miséria, a exclusão e todas as mazelas.

Portanto, a opção foi pouco definida e carregou-se para dentro do Estado independente a morte que já vinha de outros tempos. Com a “Libertação dos Escravos” e a “Proclamação da República”, aparentemente deu-se mais um passo rumo a concreta independência, porém aos negros libertos restou o cansaço, o preconceito e a crueldade da exclusão cidadã. As velhas oligarquias coloniais e seus vícios arrastaram-se para dentro da República, o que se viu evidenciado na chamada “política do café-com-leite, em duas ditaduras e em muitos resquícios que ainda vivemos no chamado período de redemocratização. Esta, por acaso, é a fase que vivemos no momento e que merece uma avaliação mais criteriosa.

A Pátria Mãe gentil hoje é uma terra inundada por uma necessidade constante de transformação. O combate a miséria e a fome são caminhos inteligentes para finalmente proclamar nossa independência e podermos finalmente chamar de gentil nossa querida Pátria Mãe. Outro caminho é o combate ostensivo a corrupção, não apenas promovendo a tão comentada faxina, mas criando meios para que os corruptos não possam se aproximar do poder. Criar instrumentos legais que não permitam transformar cargos eletivos em refúgio para criminosos protegidos pela imunidade (impunidade) da legislação brasileira que ainda carrega manchas coloniais.

Um terceiro caminho, e não menos importante, é fortalecer a formação de todos os brasileiros, garantindo-lhes condições de exercer funções não apenas produtivas no mercado, mas cidadãs no contexto da sociedade do século XXI. Se a Pátria Mãe deseja exercer sua maternidade efetiva é preciso que trate seus filhos desiguais de forma diferenciada, porém, garantindo a todos e a todas oportunidades semelhantes. A Pátria, a exemplo da Mãe gentil, não pode excluir, privilegiar e beneficiar alguns de seus filhos em detrimento de uma absoluta maioria.

Combater a corrupção, a miséria, a fome, a violência e o analfabetismo são oportunidades para que finalmente se proclame a Independência e se possa reconhecer a Pátria, como Mãe gentil, coerente e ética. Assim, a Independência é uma conquista diária, sustentada pela democracia, pela legalidade e por cidadãos capazes de escolher o que é melhor para todos.

domingo, 14 de agosto de 2011

Democracia e o fim dos pequenos impérios


Se há algo de que podemos nos orgulhar em nosso país, é da democracia. Periodicamente somos chamados a escolher livremente os que nos governam e representam nas mais variadas esferas de poder. Acerta-se muito e cometem-se erros, mas o simples fato de poder errar é uma conquista. Graça a isso a política passa a se aproximar mais das pessoas e as pessoas da política. Se em outros tempos se enfatizava ao povo, que o “talento” para fazer política pertencia a poucos de determinadas famílias, hoje caminhamos para o acesso livre por parte de todos.

Se nos tempos de repressão o Brasil via surgir em grande parte das suas cidades, pequenos impérios familiares que dominaram o povo e o convenceram que somente eles poderiam governar, hoje percebe-se que após a democratização, estes pequenos impérios ruíram. Alguns remanescentes daquele período ainda insistem em dizer que se não fossem eles, nada do que temos hoje seria possível. Fazem das migalhas, grandes realizações do passado e tentam fazer acreditar que realizaram o que foi possível à época. No entanto não admitem que reprimiram, coagiram e controlaram economicamente as pessoas e lhe tiraram a liberdade.

Fizeram isso de forma covarde, aproveitando-se da miséria, da falta de instrução e da coação moral para fazer acreditar que não havia alternativa. Hoje, graças a democracia, derrotados e esquecidos, apresentam-se como responsáveis pelo progresso presente e futuro, como se no passado, como fruto de seu desapego pessoal, tivessem posto em risco sua família, sua saúde e a própria vida. Certamente tem alguns méritos, e talvez o mais importante é o de que hoje o povo percebe que a nossa maior conquista é a democracia e a liberdade para escolher.

Se houve desenvolvimento e progresso no passado e no presente é porque milhares de pessoas contribuíram com seu trabalho, sua luta e com suas vidas para que hoje possamos enxergar o futuro com mais esperança. Manter esta esperança viva é uma tarefa árdua e exige de nós algumas atitudes: impedir que os mercenários do passado voltem; sensibilizar as novas gerações para as armadilhas embutidas em histórias mal contadas e encorajar as pessoas a manifestar seus sonhos, suas esperanças e suas indignações.

Certamente ainda temos alguns impérios para derrotar e isto será possível através do aperfeiçoamento da democracia, reforma política e rigor no combate a corrupção. Em nossas pequenas cidades, o povo tem escolhido melhor, e como dissemos, cometido pequenos erros até, mas mostrou que não vota por medo ou por ilusão. Vota-se com esperança e sem medo de renovar. Graças a isso os pequenos impérios se foram e dificilmente voltarão.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Complexidade na gestão da escola pública: competência, humildade e ética

A gestão pública, através de seus princípios básicos e de suas múltiplas peculiaridades, torna-se complexa e desafiadora. Ao contrário da gestão convencional, a púbica não visa essencialmente o lucro, mas o correto investimento de recursos pertencentes a coletividade, respeitando princípios legais e éticos. Em se tratando de gestão de escola pública, uma série de peculiaridades configuram uma complexa rede de interesses, intenções, desejos e esperanças. Assim, administrar uma escola pública não requer apenas um(a) burocrata capaz de cumprir prazos e executar tarefas. Faz necessário um(a) gestor(a) que compreenda, não a sua importância individual mas, a relevância da instituição em que se encontra para as pessoas que nela se inserem.

Assim, dentre muitos, três valores tornam-se especialmente importantes no exercício da gestão da escola pública: competência, humildade e ética. A competência diz respeito a uma série de atribuições dentre as quais a compreensão dos fundamentos legais, do respeito e cuidado ao utilizar recursos públicos, a preocupação com a qualidade das ações empreendidas. Além disso é fundamental dispensar atenção à diversidade, tratando a todos conforme suas particularidades, garantindo a todos o direito de expressar sua diversidade. A competência do(a) gestor(a) requer habilidades em conciliar uma ampla diversidade de interesses que naturalmente se manifestam num espaço coletivo.

Noutro aspecto, o(a) gestor(a) necessita agir com humildade, como aprendente num processo humano de constante transformação: a democracia. A humildade não somente rima, mas estabelece uma forte relação com outro valor: humanidade. Portanto, ser humildade é essencialmente reconhecer-se humano(a) capaz de perceber no(a) outro(a) a esperança e o desejo de ser mais e melhor. Não no sentido da sobreposição, mas da superação de mazelas como a miséria, a violência, a exclusão. Mesmo diante da competência do(a) gestor(a), a ausência de humildade o(a) torna arrogante que por sua vez não somente rima, mas é praticamente sinônimo de ignorante.

A ética por sua vez é a expressão-síntese do comprometimento do(a) gestor(a) com as pessoas com que partilha suas esperanças, sonhos e projetos. O agir ético requer além de competência e humildade, um elevado desejo de respeitar e ser respeitado(a) diante da diversidade de sonhos, utopias e esperanças. A gestão da escola pública é também a gestão dos sonhos daqueles a quem o elementar é utópico e das esperanças daqueles que vêem nela sua melhor e única forma de garantir sua sobrevivência. O(a) gestor(a) ético(a) é pois sensível às demandas daqueles a quem foi historicamente negado o direito de esperançar. Esperançar, ao contrário de esperar, é a atitude ativa na direção de seus sonhos, melhor sustentado por uma formação qualificada numa escola pública atenta ao momento histórico vivido.

Assim cabe a(o) gestor(a) da escola pública a complexa tarefa de fazer da escola um espaço de promoção das pessoas. Para tanto é preciso que manifeste sua autoridade e estabeleça uma relação de confiança com seus parceiros fazendo-os assumir juntos um compromisso em favor da qualidade do ensino público.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Algumas lições de democracia do futebol para a educação!

Que a escola é um espaço seletivo e, portanto exclusivo não é nenhuma novidade! A começar, pela idade em que as crianças começam a ser educadas. Algumas começam nos berços a ter contato com estímulos, palavras, letras e significados e uma grande maioria somente após os seis anos. Aos seis anos, algumas serão efetivamente estimuladas, orientadas e instigadas a aprender, outras serão apenas treinadas a repetir, copiar e decorar sem saber para que. A grande maioria deixa a escola aos catorze anos e uns poucos seguem.
No futebol os fatos são diferentes com algumas especificidades. A grande maioria dos meninos (e das meninas) tem contato com uma bola, assim que começa a andar. Muitas vezes aprendem a andar para correr atrás da bola. O mais importante, a bola é redonda para todos! Alguns demonstram talento, treinam, aperfeiçoam a técnica e transformam a brincadeira de criança em profissão. Outros continuam brincando, transformando a brincadeira em hobby.
Esta comparação é muito providencial para falarmos de democracia e oferecermos uma boa lição para a educação. Ambas são excludentes uma vez que, assim como nem todo o estudante vira doutor, a grande maioria dos meninos e meninas não se transforma em craque. Mas a exclusão se dá de forma diferente. Na escola a exclusão se dá pelas condições econômicas, de tal forma que para cada tipo de classe econômica há um tipo de escola. No futebol é pelo talento, pela persistência, pela habilidade. Como a grande maioria dos meninos e meninas que tocam numa bola é pobre, a grande maioria dos craques de futebol também emerge desta classe social.
As condições para virar craque são as mesmas! Já para virar doutor o caminho é outro. Se no futebol, todas as bolas são redondas, na educação elas são quadradas, retangulares e até ocultas. Por mais que se tenha talento, persistência, habilidade, a bola não ajuda! Sem contar, em muitos casos, na falta de habilidade da comissão técnica e dos cartolas. Obviamente ninguém pode dizer que deixou de ser feliz por que descobriu que não poderia vir a ser um craque de futebol. Diante disto, trocou de esporte ou de hobby, e tudo bem! Mas o fracasso e a exclusão da escola podem não permitir uma troca tão fácil.
Estar fora da escola, afasta muitas oportunidades, diminui consideravelmente as chances de tudo ficar bem! Portas se fecham, esperanças se esvaem! A democracia do futebol estabelece que as chances sejam as mesmas para todos e todos têm a liberdade de manifestar seu talento. Já a democracia escolar estabelece que quem puder (financiar) poderá manifestar seu talento, porém do contrário, pouco muda ter ou não talento.
Justo seria, se assim como no futebol, outras possibilidades surgissem. Obviamente, independente das condições das escolas, nem todos os meninos e meninas tem talento para aderir as regras e aos rigores dos métodos de ensino, como ocorre no futebol. Então é possível dizer que, assim como o futebol, a universidade não é para todos, por exemplo. Mas seria justo, democrático e ético, que todos pudessem ter o direito a uma vida digna, sem necessariamente precisar transpor todas as etapas seletivas da escola.
Assim com é possível ser feliz sem saber jogar futebol, poderia ser possível ser feliz aprendendo coisas diferentes daquilo que se ensina na escola convencional. Uma educação democrática de verdade não pode apenas impor regras, mas estabelecer critérios para que diferentes habilidades possam aflorar em torno de oportunidades iguais.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Onde está nossa indignação?

O mundo nos tem feito insensíveis, incapazes de perceber o absurdo, o horrendo? Não acredito. A mídia tem anestesiado nossa capacidade de reagir, engessado nossas cordas vocais? Pouco provável. Mas afinal por que não nos indignamos mais? Porque toleramos corrupção, prostituição, fome, analfabetismo, violência e sua causa maior, a impunidade? Onde está nossa indignação?
Quando lemos o relato histórico de episódios típicos da indignação popular, como o das Diretas Já, onde intelectuais, artistas, religiosos, estudantes e líderes (os verdadeiros) mobilizaram o país em torno de uma causa, nos questionamos sobre o que faz nosso país ser tão “pacífico”. Milhares de pessoas se mobilizam para tratar do direito a liberdade de opção sexual, para expressar sua religiosidade, para defender o uso de entorpecentes ou a praticar o aborto, por exemplo. Legítimos ou não, cada um julgue por si, mas são movimentos que ainda mobilizam, porém incapazes de causar um estado de indignação coletiva.
A crescente luta pelo sucesso individual, ou mesmo a simples sobrevivência, parece desmobilizar qualquer movimento que vise o interesse coletivo. Assim, mesmo ciente da necessidade de se indignar diante do que compromete o futuro e a dignidade de todos. As grandes tragédias humanas, sociais e ecológicas são equivocadamente vistas como um problema alheio, que não pertence a ninguém. Esta renúncia ao compromisso e a indignação coletivos tem feito de nosso país uma nação vulnerável à violência, corrupção, exclusão e miséria.
Enquanto a indignação não se faz ouvir, o campo continuará banhado de sangue, nossas crianças continuarão sem saber interpretar uma frase, nossas florestas tombarão e nossa ampla miséria sustentará a restrita fartura. O mais grave, continuamos a achar tudo isso “natural” e nos conformamos com a condição de impotentes diante de uma realidade única e impossível reverter. Confundiu-se democratização com domesticação e pacifismo com conformismo.

domingo, 17 de julho de 2011

Mídias e desenvolvimento humano: mística e dialogicidade

Tecnologias midiáticas, instrumentos e estratégias para comunicação, divulgação e interação de saberes e seres humanos é uma realidade inegável e tem produzido um novo formato de relação entre as pessoas. Tornam o tempo mais “útil” reduzindo o seu “desperdício”, efervecendo a mobilidade de dados, informações e conhecimentos. Por estas características a tecnologia da informação, expressa através das mídias, estabelece uma verdadeira mística, onde ambientes virtuais, substituem o mundo físico, acessos e cliks substituem o convívio e o diálogo entre as pessoas e o anonimato e a atitude solitária tomam o lugar do diálogo e da solidariedade cooperativa.

Os mitos que fazem do fascínio por este novo universo de possibilidade de “ser gente”, podem representar uma forma de consolidar ainda mais a desumanização das relações humanas e a coisificação das próprias pessoas. Considerando que este universo tende a penetrar no contexto da educação, que é essencialmente de relações, necessitamos estabelecer um compromisso em favor da liberdade e da possibilidade de fazer da educação uma relação essencialmente dialógica.

Ao se supor que as tecnologias assumam um papel educativo, e não informativo, o compromisso com a liberdade e o diálogo cede espaço a uma mística que confunde treinamento com aprendizagem. Qualquer mídia, por si só, representa apenas uma forma de divulgar informações e dados, os quais somente se transformarão em conhecimento e formação humana, pela relação entre estas informações e dados e os seres humanos. as relações aqui referidas não são as que comumente chamamos relações de troca, mas de interação e de constante discussão dialógica e dialética.

Ao contrário se associarmos as tecnologias midiáticas às chamadas técnicas de relações humanas convencionais, corre-se o risco de fortalecer a prática da alienação e dominação humanas. Estas supõem os seres humanos como extensão de máquinas, aumentando a proporção da produção, gerando maior lucratividade com menor custo possível. trata-se portanto de uma mistificação pouco ingênua, absolutamente ligada ao interesse elitista com o propósito de forma “bons e competentes” trabalhadores.

Percebe-se uma evidente condução das pessoas convertendo a educação numa agência de qualificação profissional. Na contracorrente desta tendência, torna-se eminente, a necessidade de educadores éticos, adeptos à prática dialógica e dialética. A medida em que o mito que converteu as mídias em instrumentos de formação humana se estende pelas práticas educativas, é preciso fazer ampliar a discussão dialógica em torno do real compromisso do educador ao fazer uso desta tecnologia.

Caberá ao educador e a educadora dialógica garantir a liberdade das pessoas se constituírem agentes de sua própria formação rejeitando qualquer tentativa ou ameaça de se coisificar as relações essencialmente humanas. Numa atitude sábia, utilizar as mídias e as tecnologias para executar tarefas mecânicas e repetitivas, para que as pessoas tenham mais possibilidade e tempo de fazer que máquina alguma pode fazer: ser gente. A grande mística a ser aceita e enaltecida deverá ser a da criação pelo diálogo, interação, respeito e solidariedade entre os diferentes, que somente se encontram quando estes diferentes se tocam física e afetivamente.

terça-feira, 28 de junho de 2011

A sustentabilidade como negócio

O termo sustentabilidade é recorrente em todas as discussões em torno das perspectivas em relação ao futuro da economia, da humanidade e do planeta. Assim generaliza-se o termo sustentabilidade considerando seu sentido idêntico em qualquer das suas aplicações. Mas é preciso antes de estabelecer qualquer crítica a esta relativização conceitual, determinar algumas diferenças conceituais de aplicação deste conceito. Do ponto de vista econômico, o termo sustentabilidade representa a garantia de que determinada atividade produtiva possa se estabelecer, assegurando fontes de matéria-prima e energia para tal, além de público potencialmente habilitado e capacitado a consumir. Assim tudo o que existe necessita garantir lucro.
No que diz respeito a sustentabilidade humana, representa a garantia de que as necessidades básicas (todas se possível) possam ser satisfeitas independente do que isso representa para o planeta. Nela pode ser incluída a sustentabilidade econômica, vista como forma de garantir produção, renda e consumo de produtos e serviços. Partindo-se deste princípio tudo existe para garantir a existência humana. Do ponto de vista planetário, acima do lucro e da garantia a existência humana, está a existência do planeta como ente vivo e gerador de vida. Esta concepção conceitual de sustentabilidade não compreende o de sustentabilidade econômica e humana aqui descritos.
Pode-se dizer que existe um conceito de sustentabilidade como negócio ou empreendimento econômico através do qual promovem-se ações que baseiam-se na relação custo-benefício. Empresas e entidades agem de forma pontual mascarando efeitos nocivos de suas atividades sem, entretanto assumir um compromisso maior com a humanidade e principalmente com o planeta. Iniciativas tímidas que não representam diferenciais significativos na ralação entre capital e vida planetária. Bem-estar e cooperação cedem espaço à lucratividade e competitividade fazendo com que se tenha apenas uma possível sobrevivência dos “mais fortes”.
Assim a sustentabilidade alardeada e ostentada e muito bem paga, pode ser uma das manifestações mais explícitas de hipocrisia e incoerência já protagonizadas pela humanidade. A sustentabilidade é pois, exigência de novas atitudes, uma nova crítica frente ao que se consolida como único caminho para permitir a existência de um futuro. A sustentabilidade como forma de estabelecer um novo paradigma planetário nasce da sensível percepção de que a viabilidade da vida, inviabiliza a atual relação homem x planeta, onde um se coloca como adversário do outro.
A sustentabilidade vista como novo ethos no convívio planetário, requer do ser humano, a humildade de se perceber responsável pela histórica tragédia ecocida vivida e pela necessária reconciliação planetária. Uma reconciliação em que ser sustentável não será apenas um negócio viável, mas que faça da viabilidade da vida na Terra, objeto de preocupação permanente de todas as gerações.

sábado, 18 de junho de 2011

A ameaça legalizada

Os tempos recentes nos surpreendem por debates abordando os mais diversos temas. Um destes temas é a defesa pela chamada descriminalização do uso da maconha, que já congrega um número considerável de adeptos. Dentre este adeptos encontramos figuras notáveis das artes, da cultura e da política. Ex-líderes mundiais manifestam-se afirmando que esta é uma guerra perdida e que não dispomos de meios para reverter o quadro.
Respeitando-se a opinião de ilustres figuras é preciso dizer que o cidadão comum também precisa ser ouvido diante deste tipo de afirmativa. Em primeiro lugar é preciso dizer que se até o momento não se encontrou um caminho para resolver este problema não significa que ninguém encontrará, afinal, para citar como exemplo, lembramos que doenças vistas como incuráveis foram tratadas ou até exterminadas.
Assim, ao contrário de desistir, é preciso intensificar pesquisas, investimentos e ações que possam determinar o início de uma nova era, livre das drogas, que representam uma ameaça a dignidade e a vida humanas. A postura cômoda e descomprometida, de quem defende a legalização do uso da maconha (de outras drogas a reboque) estabelece um precedente em relação a outras discussões. Assim, se mesmo com todas as formas de coerção a crimes como seqüestro, estupro, assassinato ainda percebemos que continua-se seqüestrando, estuprando ou assassinando, não podemos imaginar que estes crimes passem a ser admitidos ou até ignorados.
Uma outra análise a ser feita diz respeito ao fato de que se estes ex-líderes fracassaram em suas ações, quando detinham o poder, não podem por isso penalizar gerações futuras pela sua incapacidade e incompetência. Certamente esta grave mazela não se dissipará espontaneamente, mas com atitudes e políticas públicas sérias, será possível estabelecer um compromisso em favor da vida. Entregar nosso futuro ao acaso seria uma atitude extremamente covarde. Algo inaceitável quando se pensa na possibilidade de se ter um futuro.
De qualquer forma o debate é útil se considerarmos que diferentes entidades passam a discutir de forma mais insistente, o tema drogas, identificando-o como de extrema gravidade. A partir desta discussão passa-se a refletir a família, suas qualidades e sua falibilidade, a formação que está sendo oferecida à crianças e jovens, os valores que estão sendo apresentados às pessoas.
É importante que as instituições formadoras de pessoas participem deste debate, apresentando não apenas a sua posição, mas compromissos para que, mesmo diante do fracasso de determinadas políticas públicas, ou a ausência delas, não exponham nosso futuro ao caos. É pela mobilização coletiva e institucional que haveremos de promover um debate sério e qualificado, afinal o tema parece se estar evitando o debate, ou pelo menos não acontece com a profundidade que merece.

terça-feira, 31 de maio de 2011

As mídias como instrumento de formatação humana: uma análise ética na contracorrente da mecanização do ensino

A inserção de equipamentos, programas e tecnologias na vida humana é inegável. Sabe-se também que esta inserção não é fruto do acaso, mas da consolidação de um processo histórico, através do qual, invenções e descobertas possibilitam uma nova relação entre os seres humanos. É consensual também, o fato de se reconhecer as mídias como um conjunto de aparatos criados e manipulados exclusivamente por seres humanos, refutando completamente a idéia de que as máquinas estão em condições de dominar seres humanos. O que há de fato são seres humanos dominando outros através de máquinas, fenômeno perceptível em relação às mídias.
Ao contrário de outras máquinas e tecnologias, como carros, eletrodomésticos, as mídias não interferem na execução de tarefas mecânicas, mas nas cognitivas, interferindo na capacidade de criar, questionar e conviver entre seres humanos. O fascínio que estas tecnologias despertam nos seres humanos tem sido identificado como uma estratégia para formatar mentes e hábitos. “Adequações” de linguagens, métodos e formatos transformam seres humanos em meros espectadores, sentenciados a deslocar-se para um mundo irreal.
Certamente a TV foi um dos grandes acontecimentos do século XX e seus mentores, diretores e roteiristas transformam seu trabalho num constante exercício de conquista de espectadores. Sua popularização, foi estratégica para a disseminação de ideologias e hábitos tendenciosos que induzem as pessoas a renunciar a sua condição de pensante. Sob o ponto de vista da formatação humana, é importante que a máquina acomode o espectador, transmitindo-lhe informações “pensadas”.
Nos últimos anos, tem se percebido um fenômeno semelhante em relação ao computador e a INTERNET, agregando ainda o fato de serem extremamente interativos. Estabeleceu-se um mundo paralelo ao físico: o chamado mundo virtual. Porém não é um mundo determinado por leis naturais e fenômenos espontâneos, movido por sentimentos e relações. Trata-se de um mundo construído, arquitetado, conforme interesses e valores determinados por grupos que buscam dominar outros. É um mundo essencialmente comercial e direcionado a interesses, posturas e valores que conforme sua origem, podem comprometer até mesmo a dignidade humana.
Ao se inserir as mídias na educação, corre-se o risco incorporar todos estes riscos ao processo de formação humana, deformando pessoas e formatando gerações. O risco maior, o da mecanização do ensino, é contrário a qualquer valor ético que se possa desejar inserir ao ensino. A submissão à máquina, aos programas, as limitações geradas pela previsibilidade sistemática do mundo virtual representam uma forma cruel de desumanizar o ensino, lançando a um segundo plano, valores como convivência, solidariedade e respeito.
O que se deseja para o futuro da escola não são apenas tecnologias inovadoras, mas relações afetivas que comprometam as pessoas com seu próprio futuro. Uma geração que reconheça na máquina, apenas um instrumento de auxilio para que possa dedicar-se mais a necessidade ser gente. Ser gente, neste contexto, não se resume em ser hábil ao executar determinadas tarefas, mas ser flexível para encantar-se com o imprevisível, ser dialético para não se aceitar formatado.
Um bom programa educativo jamais poderá ser tão bom quanto um bom diálogo entre educador e educando. Um diálogo pautado no respeito e na contradição, de quem se percebe constante aprendente e que não deseja ser apenas treinado. Enfim, um ser humano que se rebele e lute pela direito de ser amorfo e jamais se permitir caber numa ou noutra fôrma. Para isso é necessário um educador-gente e não apenas um instrutor, que faça do ato educativo, um momento de encantamento do ser humano, pela beleza de ser gente.

sábado, 21 de maio de 2011

Autoridade, Populismo e Mediocridade na Gestão Pública

Graças a democracia a gestão pública tem vivenciado inúmeras transformações conduzindo-a cada vez para mais perto das pessoas e dos interesses das comunidades. A verdadeira autoridade pública tem se aproximado das pessoas através da chamada gestão democrática pautada em valores e princípios básicos. Estão entre estes princípios estão a garantia do respeito ao interesse público, a otimização dos recursos, a descentralização da gestão, a subordinação a lei e a obediência a valores éticos quando da gestão do patrimônio público.

Assim, a autoridade é um elemento articulador de ações que em favor da melhoria da vida das pessoas, volta-se ao interesse da coletividade. Não há mais espaço para arrogâncias, imposições e abusos. Há poucos que ainda ostentam seus cargos como forma de sobrepor aos outros, encarnando o poder como instrumento de dominação. Assumem assim uma postura medíocre, de pouca credibilidade, normalmente populistas sustentados em discursos e bravatas que pouco convencem.

Umas das formas de extirpar este estágio de mediocridade é exercer plenamente a democracia. O Brasil está consolidando esta prática renovando legislativos, governos e confirmando gestores que demonstrem respeito às pessoas e aos interesses públicos. Se não é o modelo ideal, mas é o que melhor resultados têm produzido. Democratizar a gestão pública implica em fazer com que cada gestor priorize o coletivo em detrimento do individual.

Assim um gestor público não pode simplesmente atender interesses politiqueiros e mesquinhos de líderes, que em nome da representação popular, agem de forma prepotente e inconseqüente para defender interesses individuais e até pessoais. Se estivessem atentos aos interesses da população estariam mais preocupados em fortalecer a autoridade de quem está construindo uma nova postura frente aos desafios do cotidiano.

Estes desafios caracterizam-se pelo cumprimento rigoroso da lei e pela incessante preocupação em ser justo tratando a todos por igual, respeitando as diferenças. Assim não há mais espaço para o “jeitinho” e para o improviso o que pode causar estranheza naqueles que contam com isso para manter sua “popularidade” e omitir sua mediocridade.

Desta forma com o aperfeiçoamento da democracia e a profissionalização da gestão pública está se construindo uma nova fase do exercício da autoridade. Cumprir a lei, ser justo, coerente e ético na gestão pública passa a ser a regra e com isso consolida-se um tempo de respeito ao patrimônio e a dignidade da coletividade.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

A justiça como instrumento de consolidação da Paz Mundial

O terror tem assombrado este início de século de tal forma que há um clima generalizado de desconfiança, ameaças e discursos radicais em favor de teses no mínimo perigosas. Como nada é fruto do acaso, sabe-se que houve uma série de eventos históricos que suscitaram o ódio entre diferentes “civilizações” dividindo o mundo entre “bons” e “maus”. Graças a isso tornou-se possível conceber como natural o fato de alguns poderem e outros não, de alguns comerem e outros não. Enfim, dividiu-se o mundo em fragmentos “legitimamente” caracterizados expondo uma chaga cruel dos chamados tempos “pós-moderno”.
Ocorre que este enquadramento não foi absorvido por todos com a “naturalidade” prevista e se tem percebido uma reinvenção do próprio conceito de guerra. Se antes seria conveniente invadir territórios para tomar as pessoas e as mentes, hoje toma-se a mente das pessoas para depois tomar-lhe os bens, o território, as riquezas. O chamado terror tem tomado não apenas o sossego, mas gerou uma instabilidade emocional coletiva poucas vezes vista na história da humanidade. A morte de Osama Bin Laden, ostentada como um troféu revela apenas uma vingança, nos mesmo moldes das ações cometidas por ele. Parece muito pouco diante da promessa de se fazer justiça e buscar construir um tempo de paz mundial. Como diz Leonardo Boff “se fez vingança, mas não se fez justiça”.
Afinal se o terror representa uma ameaça ao mundo contemporâneo, o que dizer de nações que invadem outras, interferem politicamente em seus vizinhos, estabelecem regras unilateralmente? Afinal a submissão e remota possibilidade de construir uma identidade nacional, a que muitos países foram submetidos ao longo de décadas, lançando-os a miséria, é menos cruel que as ditas práticas terroristas? Afinal, se realmente é possível dividir as nações em eixos do bem e do mal, como serão formados estes eixos? E os povos que compõe estas nações também são do bem e do mal?
Essa prática maniqueísta e manipuladora de líderes insanos tem encharcado nosso chão de sangue, mutilado corpos e almas, gerado milhares de órfãos e refugiados. Não é por acaso que as vitimas da naturalização da miséria e exclusão sejam facilmente manipuladas por oportunistas transformando-os num verdadeiro exército suicida. Neste contexto falar de paz é muito mais do que desarmar. Embora utópico, o conceito de paz está intimamente ligado ao conceito de tolerância e respeito universais, solidariedade e humanidade. O que se percebe é uma necessidade eminente de se promover uma reinvenção do jeito de ser gente.
Partilhar de um mesmo lar (planeta) é também partilhar do tempo e da história. Partilhar nos remete ao conceito de que somos uma grande família onde cada membro contribui com o que dispõe e usufrui do que precisa. Quando deixa de contribuir com sua função e usufrui mais do que precisa gera injustiça, marginalização, exclusão e desigualdade. Diante disto torna-se extremamente difícil sonhar com paz mundial! Ao se fazer justiça, inspirados na solidariedade e no respeito aos diferentes está se escrevendo a primeira página de uma nova história...

quinta-feira, 21 de abril de 2011

O trabalho: da condição humana à alienação

João Paulo Dória de Santana (1)
Fabio Zoboli (2)
Nilton Bruno Tomelin (3)

A existência material do ser humano se configura essencialmente através do seu corpo. O corpo é o principal instrumento do homem pelo qual estabelece suas relações consigo mesmo, com o outro e com o cosmos. O trabalho se caracteriza por uma relação que o homem e a mulher estabelecem com a natureza a fim de transformá-la através do uso de alguma ferramenta/conhecimento. Esta relação consolidou-se historicamente por princípios de dominação, controle e exploração, seja dos recursos, dos povos ou da própria força de trabalho.
Karl Marx na sua mais célebre obra “o capital” caracteriza o trabalho como sendo uma condição de existência do ser humano, independente de todas as formas de sociedade, eterna necessidade natural de mediação de metabolismo entre homem e natureza. Os animais também trabalham e produzem, porém somente para atender suas necessidades práticas imediatas e seguindo seus instintos, consumindo o que necessitam na forma em que se apresenta na natureza. É justamente nesse ponto que o homem enquanto espécie se coloca como ser único na terra, pois conseguiu dominar as forças da natureza, colocando-as ilusoriamente a seu serviço. As grandes tragédias denunciam o mais absoluto descontrole do homem sobre o meio natural convertendo fenômenos naturais em episódios de devastação e morte
Dessa forma o trabalho se constitui como elemento central em qualquer tipo de sociedade, e teve participação crucial na evolução do homem. Especialmente na no que diz respeito a evolução das relações sociais. Não é difícil perceber que em boa parte das sociedades, especialmente as ocidentais, o homem ou a mulher valem pelo que trabalham, produzem e geram. Esta é sem dúvida uma forma cruel de alienação através da qual pessoas deixam de existir na condição de cidadão, de gente e surgem os trabalhadores, executores de tarefas, de ofícios.
O trabalho humano deve ser um mediador no modo e nas relações de produção que são estabelecidas, assim como na construção de conhecimento, possibilitando a emancipação humana. Contudo na atual conjuntura da sociedade, o capitalismo na sua configuração neoliberal transformou a lógica do trabalho. O trabalho é reduzido a apenas um meio que permite a existência física, biológica, obscurecendo o sujeito autor, vivo e potencialmente transformador que há em que cada ser humano.
Tal transformação se dá mais especificamente a partir da revolução industrial. O surgimento da propriedade privada e a conseqüente divisão do trabalho introduziram um estranhamento entre o trabalhador e o trabalho, na medida em que antes mesmo do trabalho se materializar em seu produto, já pertence à outra pessoa que não ao trabalhador. O trabalhador produz bem mais do que ele recebe (salário). A força de trabalho cria um valor maior do que o estipulado inicialmente, valor esse que não é pago ao trabalhador, e se estabelece como o lucro do “patrão”.
Assim, percebe-se o quanto essas relações inerentes ao trabalho transformaram o homem, alienado-o, pois não se reconhece no que produze e nem qual seu valor enquanto trabalhador, vendo no seu salário a única razão da sua vida. Percebemos hoje que o capitalismo esgotou sua capacidade civilizatória e contraditoriamente, para continuar crescendo, destrói as forças produtivas. Se por um lado, vemos o avanço da tecnologia, aumento das riquezas mundiais, produção de alimentos para servir duas vezes a população mundial, há no mundo mais de um bilhão de famintos, morrendo de doenças facilmente curáveis, sem contar com o aumento do desemprego estrutural, da degradação do meio ambiente.
Dessa forma alguns questionamentos para reflexão: até onde vamos com isso tudo? Será isso tudo normal? Pois afinal de contas, como muitos dizem, foi sempre assim? Será que a lógica da vida é nascer, estudar e arrumar um emprego, no qual eu não me contemplo, mas que me permite sobreviver? Será que mesmo com todas essas contradições, o capitalismo é o melhor modelo econômico? Pra finalizar faço referência a István Mészáros, um dos mais importantes intelectuais marxistas da atualidade, que questiona “o que queremos? A barbárie ou o socialismo?”
Diante disto é preciso afirmar que somente com a mobilização da sociedade, através de uma educação capaz de libertar os seres humanos da alienação historicamente consolidada, que será possível estabelecer uma nova relação entre o ser humano e o trabalho. Uma relação de liberdade em que se respeitem valores fundamentais à vida e a dignidade de a que todo o ser humano tem direito.

1. Acadêmico do curso de Educação Física da Universidade Federal de Sergipe – UFS.
2. Doutor em Educação pela Universidade Federal da Bahia – UFBA.
3. Mestre em Educação pela Universidade Regional de Blumenau - FURB

domingo, 3 de abril de 2011

O educador solidário no contexto da informatização da educação

A modernização das relações entre o ser humano e o saber incide sobre a necessidade de se prover a educação de tecnologias, especialmente de mídias. Esta inserção não se limita a instalar equipamentos e contratar técnicos para o interior das instituições de ensino, mas impõe a discussão em torno de valores que hão de permear a informatização da educação.

Os valores a que nos referimos estão essencialmente relacionados a ética e à solidariedade fortalecendo o processo de humanização do processo educativo. Estes valores terão importância fundamental no processo de ruptura da tradição tecnicista que concebe a educação como uma forma de treinar e capacitar as pessoas para uma determinada tarefa.

A prática educativa baseada, na ética e na prática da solidariedade no contexto escolar, requer um educador sensível à exclusão, à marginalização e à crueldade produzidas pela falta de acesso à uma educação de qualidade. Sua função é, portanto de articulador e mobilizador de seres humanos e movimentos em favor de uma formação efetivamente humana.

Fazer acontecer esta articulação e mobilização não é um mérito, mas um compromisso constante de sua ação no processo educativo. Este compromisso se consolida, utilizando-se também de recursos modernos de mídias que permitem fortalecer a educação como instrumento de libertação de seres humanos.

Esta utilização, não se faz ética e solidária espontaneamente, mas pela opção incondicional pelo ser humano e pelo respeito a sua dignidade. Concebendo a educação como um direito humano inalienável, ela somente deixará de sê-lo se não for universal. E se não for um direito universal será apenas um privilégio, que distanciará ainda mais as pessoas.

A informatização da educação e a prática educativa solidária não podem se excluir. São faces da mesma moeda que se fundem na luta pelo extermínio da miséria, da exclusão e do analfabetismo, provendo os seres humanos de qualidade de vida e de bem-estar social. Esta fusão somente se fará consistente se o seu edificador, o educador, construir sua obra em alicerces como esperança, ética e respeito ao ser humano

A escola que abriga a educação e o educador munidos destes valores também deverá ser diferente. A nova escola que se quer é aquela que valorize o respeito e a tolerância à diversidade, que se manifeste atenta às especificidades, que promova a liberdade, a ética e a dignidades de todos os seres humanos. Uma escola que para isso mobilize a todos para uma sensibilidade planetária, de trato amoroso e solidário para com a vida.

As tecnologias, desta forma exercerão uma função primordial, executando tarefas mecânicas e repetitivas, garantindo mais tempo para que o ser (substantivo) humano possa se dedicar a ser (verbo) humano. assim cumpre-se o preceito de que a criatura não será maior que o seu criador.

domingo, 20 de março de 2011

Campanha pela fraternidade

Mais uma vez a CNBB promove uma campanha em nível nacional em favor de um tema de interesse de todos os brasileiros, não apenas dos católicos. Apresentada às vésperas da Páscoa, serve de inspiração para amplas reflexões no período de Quaresma, segundo a tradição católica. Por ser um período de rever conceitos e atitudes é bastante oportuno, por exemplo, tratar de questões ambientais, como é caso da campanha de 2011.

Mas analisando todos os temas objetos de dezenas de campanhas passadas pode-se dizer que é fundamental estabelecer a fraternidade como instrumento de convívio entre os seres humanos. Em relação a questão ambiental, é evidente a absoluta falta de fraternidade entre as pessoas e entre as diferentes gerações.

A falta de preocupação em cuidar da água, do solo, do ar e de tudo o que está vivo é um sinal claro que não há entre as pessoas um verdadeiro sentimento fraterno. A destruição de fontes de recursos e de vida nos inspiram a buscar uma campanha pela fraternidade onde todos se sintam responsáveis pelo bem estar e pela qualidade de vida de todos os seres que habitam a Terra.

A campanha pela fraternidade haveria de ser um compromisso constante e assumido por todos, independe de sua condição econômica, social, religiosa ou política. O fato do planeta ser uma espécie de condomínio global faz com que todos precisem sentir-se responsáveis uns pelos outros. Do contrário, sem a fraternidade universal não há como esperar empenho e participação da coletividade.

Como numa grande família, cada qual precisa fazer sua parte, apreciar o cuidado com o que é seu e com o que é de todos. Responsabilizar-se por aquilo que lhe cabe, disponibilizar suas habilidades e humildemente reconhecer suas limitações. A prática da fraternidade é antes de tudo um ato de humanidade e humildade. Ser solidário, ético e sensível são qualidades fundamentais que precisam ser estimulados para que o presente nos permita sonhar minimamente com o futuro.

Chamar a todos de irmão é relativamente fácil, o desafio é conviver como tal. Cuidar do planeta, preservar a vida e conviver dignamente são compromissos fundamentais para que as futuras campanhas da fraternidade ecoem e produzam os resultados esperados e necessários. Mas se a atual campanha da fraternidade servir como inicio de uma discussão mais comprometida e séria sobre a questão ambiental, poderemos ter um pouco mais de esperança em relação ao futuro.

Se a vida for melhor respeitada e o planeta melhor cuidado poderemos dizer que estamos convivendo em fraternidade. Porém, enquanto a cor da pele, a prática religiosa ou qualquer diferença entre seres humanos for utilizada como justificativa para perseguir, excluir e até matar, estamos condenados a desperdiçar o pouco de tempo que ainda nos resta.

sábado, 12 de março de 2011

Problemas de aprendizagem x problemas de ensino

Uma das grandes preocupações de educadores, gestores e estudiosos da educação está na discussão e resolução dos problemas relacionados à dificuldade de aprendizagem de crianças e adolescentes. De fato eles existem e comprometem significativamente o sucesso do processo educativo. Mas um grande equivoco é abordá-los isoladamente como se fossem resultado exclusivo da má vontade em aprender ou de fatores externos, como os genéticos. Como aprender é resultado de um processo que se inicia com o planejamento estratégico e metodológico é preciso afirmar que os problemas de aprendizagem, em sua maioria, derivam de problemas de ensino.

A insistência em considerar a mente das crianças como páginas em branco e enaltecer a supremacia dos saberes historicamente sistematizados pela humanidade ocultou intencionalmente a gravidade da problemática educacional. Transferiram-se e ocultaram-se responsabilidades por comodidade e por insensibilidade, gerando exclusão e distorções incorrigíveis. Não se trata de estabelecer culpados e vítimas, mas de construir uma análise justa e coerente para que se possa construir um novo processo educativo.

Este novo processo deverá considerar a complexidade que envolve a relação entre ensino e aprendizagem partindo da necessidade de se reconhecer o profissionalismo do educador como base para uma verdadeira reinvenção do ato de educar. Os tradicionais discursos que mencionam o educador como mediador, vocacionado e multifuncional deturpam e degeneram sua real dimensão profissional, política, planetária e ética.

Outro aspecto que merece ampla revisão é a avaliação que tem sido mais classificatória, diagnóstica e até punitiva do que transformativa e construtora. A avaliação é assim, destinada à aprendizagem, sem tratar diretamente do ensino, unilateralizando demandas e preocupações. Numa perspectiva transformadora e construtora a avaliação é essencialmente um momento de consolidação de mudanças de estratégias em direção a uma formação efetivamente significativa e relevante. Vista desta forma, a avaliação torna-se instrumento de aperfeiçoamento e desvelo de equívocos, vislumbrando uma nova postura frente a eventuais carências.

Um terceiro aspecto, mas não menos importante, é a metodologia a ser adotada frente a cada realidade e a cada tempo. Não são tecnologias e teorias complexas que revelam a praticidade necessária na formação efetiva de sujeitos cidadãos e sensíveis ao seu próprio contexto. Práticas contextualizadas que revelam um significado singular à realidade de educandos e educadores, dispensam complexas teorias e instrumentos, oportunizando uma educação capaz de associar ensino e aprendizagem, como resultado de um momento de solidariedade e de compaixão.

Educar é, além da soma do ensino e da aprendizagem, uma atitude profissional e atenta a cada momento do processo de formação humana, sem ignora-lhe o seu elevado grau de complexidade e simplicidade. Complexidade por que não há uniformidade, mas uma indescritível diversidade; simplicidade por que educar é fazer do contexto de cada educando, um rico instrumento de humanização e sensibilização. Educar, desta forma é dar significado e esperança à quem não há outra caminho senão iniciar sua vida transformando-a.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Universalização do acesso e da qualidade do processo educativo no ensino fundamental

Um dos grandes desafios do século XXI é garantir o acesso à educação a todos os cidadãos. Esta garantia não se resume apenas a gestão, mas principalmente ao que diz respeito ao planejamento estratégico e metodológico do processo educativo. Se em tempos idos o grande desafio era universalizar o acesso físico de crianças e adolescentes ao ensino fundamental este é o momento de se refletir e agir em favor da universalização da qualidade do ato educativo.

Se crianças e adolescentes possuem vaga garantida em salas de aula, este é o momento de se questionar o impacto social, humano, ecológico e econômico deste avanço. Se a prerrogativa da quantidade está praticamente garantida, agora é preciso estender esta garantia à qualidade. Inúmeras discussões lançam-se ao desafio de conceituar epistemologicamente o termo “qualidade de ensino” a fim de propor uma prática educativa comprometida em transformar estatísticas em dignidade, qualidade de vida e bem-estar social.

Esta transformação em que quantidade e qualidade tornam-se parceiros indissociáveis de um complexo processo de intensa sensibilidade exige uma postura ética de todo o conjunto da sociedade, especialmente de educadores e gestores. O primeiro passo para aliar qualidade e quantidade em favor de uma nova proposta estratégica e metodológica de ensino, é romper com a indiferença gerada por números e estatísticas.

O simples aumento em índices avaliativos como o IDEB não reflete a desejada evolução qualitativa, que permanece à margem das grandes preocupações quando se discute políticas públicas de ensino. Ostentar índices e alardear números sem a devida atenção à qualidade é postura antiética e desumana, mascarando um processo de degradação da essência do ato educativo. Esta essência está em oferecer esperança e instrumentos de (trans)formação para a vida daqueles a quem é negado o direito de partilhar e contribuir na construção da riqueza do país.

O elevando índice de pessoas egressas do ensino fundamental incapazes de interpretar um texto ou desenvolver um raciocínio lógico elementar, evidenciam a gravidade da preocupação com a qualidade do ato educativo. A indiferença em relação aos chamados analfabetos funcionais, é uma atitude de desumanidade, visto que mascarra uma grave carência humana, que impede a idealização de sonhos e projetos de vida.

Estes sonhos e projetos de vida, por sua vez necessitam de uma “alfabetização planetária”, através da qual sejam inseridos numa perspectiva de formação de sujeitos auto-críticos, sensíveis, éticos e comprometidos com tudo o que existe e vive sobre o planeta. Ler e escrever passam a ser atos menos mecânico e previsível, para se transformar em momentos de (re)construção e dinamicidade. Mais do que interpretar códigos e executar processos repetitivos, saber ler e escrever significa inserir o sujeito num qualificado projeto de autoria, garantido-lhe a possibilidade de trilhar seu caminho e estabelecer suas próprias perspectivas.

Esta (trans)formação não será alcançada por decretos, mas por um comprometimento de educadores, gestores e famílias no sentido de oferecer uma formação capaz de intervir na vida das pessoas. Esta intervenção será estruturada a partir da compreensão da realidade temporal e do contexto em que o processo educativo ocorre. É esta relação que determinará qualidade ao processo educativo, fazendo-o significativo e relevante.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Gestão Pública Escolar: questões éticas

A gestão pública apresenta princípios que a diferenciam da gestão privada, especialmente no que diz respeito à questões de ordem ética. do ponto de vista prático obedecem a princípios comuns como os da economicidade, racionalidade e legalidade. Há outros, entretanto que são peculiares a cada modelo. Em relação a gestão pública há princípios éticos que necessitam ser observados como publicidade, moralidade e eticidade.

Em relação a escola pública, estes princípios se tornam ainda mais visíveis e relevantes, pois para uma grande maioria da população, se constitui na única esperança concreta de viabilizar seu futuro. Administrar uma escola pública, neste contexto, significa também administrar esperanças e projetos que poderão transformar vidas.

Assim o cuidado com o patrimônio e com os recursos que financiam a escola pública requer uma série de convicções de gestão como a otimização destes recursos e a preocupação em reverter em resultados, cada centavo aplicado. Estes resultados se caracterizam pela qualidade de ensino e especialmente da aprendizagem. Estas preocupações não estão nitidamente manifestadas pela legislação vigente, mas se constituem em princípios éticos derivados do comprometimento de gestores em favor da qualidade do que ocorre no espaço escolar.

Os princípios a que nos referimos derivam também do comprometimento do gestor da escola pública com a comunidade em que se insere, percebendo as suas mazelas e demandas. Assim, o exercício da gestão da escola pública, é também um exercício de sensibilidade e solidariedade para com as fragilidades de cada comunidade. Por esta razão é importante que as esferas financiadoras das escolas públicas consolidem o processo de descentralização de recursos para que cada instituição possa atender a sua comunidade de forma democrática e cidadã.

Assim a gestão da escola pública não se resume apenas ao gerenciamento de recursos, servidores ou patrimônio, mas de expectativas. Envolvem-se diferentes segmentos que munidos de ideologias, concepções e opiniões convergentes e divergentes, apresentam-se em constantes conflitos que fazem da escola pública um espaço de aprendizagem prática. Mais do que discutir ética, democracia, cidadania e outros princípios, a gestão poderá e deverá expor de forma prática, as implicações cotidianas destes princípios.

A gestão da escola pública, portanto constitui-se num espaço coletivo de tomada de decisões partindo da preocupação em garantir a qualidade de seu trabalho. Promover o bem comum e a formação ética dos cidadãos requer gestores, educadores e famílias em constante diálogo, construindo propósitos coletivos, com transparência e comprometimento social. É, pois um desafio a ser assumido coletivamente para que a comunidade se perceba presente na gestão da escola pública.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Um novo educador para um novo tempo: formação e ética no uso das mídias no processo educativo

A evolução do processo de socialização e racionalização do homem caminha a passos largos e rápidos, como nunca visto. Processos e métodos têm multiplicado a velocidade com que saberes e conhecimentos são produzidos e disseminados, estabelecendo novas relações do homem com o conhecimento. Novas demandas surgem como: acessibilidade aos meios de produção e de disseminação de informações; observância de valores e princípios éticos no uso destes meios; inserção das mídias no processo educativo. Estas discussões se tornam ainda mais significativas, tendo em vista, que o século XXI, em sua primeira década tem se revelado, o tempo das tecnologias no processo educativo.

Investimentos na aquisição de equipamentos, na criação de softwares educacionais e na qualificação de profissionais para o seu uso, fazem das mídias um importante aliado na proposição de uma nova forma educar seres humanos. O ingresso dos educadores nos vastos campos do universo midiático virtual lhe exige uma pré-disposição à transformação, convertendo-o num profissional em constante conflito com posturas e metodologias engessadas e retrógradas.

Assim, se na indústria convencional, as tecnologias representaram uma ameaça para os trabalhadores menos qualificados, na educação não é diferente. Porém, se na indústria a preocupação está no aumento da produção, na educação o enfoque é outro. A preocupação está na garantia de que todos tenham acesso à informação de forma equânime e saibam utilizá-la de forma a garantir-lhe qualidade de vida. Desta forma o educador do século XXI não será um tecnólogo em informática, mas um profissional que estabeleça uma relação ética entre o saber e o educando.

Mesmo diante deste universo efervescente de transformações e inovações é preciso lembrar que ninguém será capaz de substituir a relação entre seres humanos no processo educativo. Ao contrário, as mídias e todas as tecnologias agregadas a elas, servirão para que se tenham ainda mais tempo e motivos para fortalecer estas relações. O simples contato com o saber não significa aprendizagem, ao contrário, pode representar alienação, dominação e até exclusão.

Alienação pelo fato de que a não compreensão do que é disseminado pelas mídias pode distorcer a possibilidade transformadora daquele saber. O simples fato de estar informado, não garante ao sujeito que ele seja capaz utilizar aquela informação a seu favor e para o bem comum. Pode-se afirmar que um alienado informado pode assumir uma postura arrogante e prepotente convencendo de sua suposta superioridade frente aos demais.

A dominação se manifesta quando as informações são repassadas de tal forma que suas verdadeiras intenções permanecem obscuras. O uso de termos, expressões e a manipulação de estratégias de linguagem podem induzir às pessoas a submeter-se ao domínio de quem detêm a possibilidade de “rechear” os ambientes midiáticos de conceitos e idéias reacionárias. É sem dúvida, muito difícil identificar e desfazer este direcionamento, dada a velocidade com que as posturas reacionárias e dominadoras se dissemina.

A exclusão pode se dar pelo simples fato de que um grande contingente de seres humanos simplesmente não tem acesso a este novo universo, como pela incapacidade de perceber as intenções de determinadas informações ou conteúdos. Independente da forma, a exclusão se revela cruel e desumana, pois incide sobre a massa menos favorecida, fortalecendo o domínio da minoria sobre a maioria.

Assim, o educador do século XXI será um sujeito (trans)formado e comprometido com valores éticos e humanos. Mais do que saber conteúdos, necessita ser um sujeito apto a discutir saberes científicos e a analisar informações com base em valores. É fundamental que seja capaz da analisar a historicidade, o contexto e a intencionalidade de informações disseminadas através das mídias, transformando-as num rico espaço de desenvolvimento da criatividade, curiosidade e criticidade. Isto será possível através de uma postura ética do educador, que fará do educando um sujeito de esperança, de compaixão, de solidariedade em favor de uma sociedade em que todos convivam dignamente.

Como fabricar cadeiras e camisetas, cultivar eucaliptos e educar crianças!

O início das aulas é um momento em que muitos sentimentos se avivam. Para alguns representa o seu primeiro contato com um novo mundo, um verdadeiro parto. Novos amigos, novas possibilidades! Para outros é a continuidade de uma jornada que já vem se desenhando a vários anos. Há também os que iniciam seu último ano de estudos. Não podemos esquecer daqueles que já contam os dias para as próximas férias.

Mas de qualquer forma é tempo de novidades. Para os educadores é um recomeço, cheio de expectativas, esperanças, dúvidas, medos e certezas. Não podemos esquecer daqueles educadores, que da mesma forma que os educandos, também contam os dias para as próximas férias. Há um contingente de educadores que se vê como operário da educação. Confunde a formação de uma criança com atividades como fabricar uma cadeira, costurar uma camiseta ou plantar eucaliptos! Mas quais as consequências disto? Ao fabricar uma cadeira, o marceneiro estabelece medidas, escolhe a madeira, mas dificilmente imagina quem nela sentará! Quem recorta um tecido e com ele costura uma camiseta o faz a partir de um molde. Pouco se preocupa em saber quem irá vesti-la.

Desta maneira, preocupam-se com um produto, não com um resultado! O educador, ao contrário do marceneiro ou do costureiro, deve ter como foco a preocupação com quem irá estar diante dele no momento em que estiver propondo a discussão de um conceito. Além de preocupar-se com o que irá tratar em suas disciplinas precisa dispensar especial atenção às características, sentimentos e necessidades daqueles que estiverem numa sala de aula iniciando ou continuando sua vida escolar. Sem esquecer é claro daqueles que estão ansiosos, aguardando as próximas férias.

Mas, e os eucaliptos? Bem, um bosque de eucaliptos é cultivado, selecionando as melhores sementes, preparando as melhores mudas e plantando-as a uma distância padrão para que cresçam e produzam madeira. Seus troncos e copas serão muito parecidos. As mesmas cores, os mesmos odores e o mesmo formato. Assim não é difícil comparar salas de aula a verdadeiros bosques de eucaliptos. Os “melhores” alunos, alinhados, enfileirados, declamando conceitos e frases em coro! A mesma postura, as mesmas atitudes!

Assim profissionais e grandes “conhecedores” da educação estabelecem justificativas para atitudes e posturas que transformam seres humanos em objetos ou árvores. Crianças não são fabricadas ou plantadas. Precisam ser estimuladas e compreendidas por uma escola que as façam superar-se e surpreender-se. Sem moldes e formatos padronizados, precisamos de uma escola corajosa, capaz de aceitar suas imperfeições e lançar-se ao desafio de fazer diferente.

Fazer diferente significa fazer da escola e da educação um espaço de promoção dos seres humanos, estimulando a sensibilidade, o respeito e a solidariedade. Seres humanos que jamais possam ser comparados a cadeiras, camisetas ou eucaliptos. Educar crianças é, pois um ato de humanidade, uma aposta no futuro. Educar uma criança é garantir o direito de ter esperança!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Novos refugiados!

Desde que me conheço por gente, ouço falar de refugiados. Sempre que isso acontecia se via milhares de pessoas deixando sua terra para se proteger de grandes genocídios provocados por guerras, terror, etc. O resultado disto é que temos nações inteiras desalojadas, culturas dizimadas, identidades destruídas, dignidade perdida. Apesar disto ainda resta uma sinal de esperança de um dia poder voltar à sua pátria ou até mesmo (re)construí-la se for necessário.
Mas os tempos são outros, e como tantas coisas, o modelo de refugiados também é outro. Os novos flagelos humanos são os que vêem sua, sua cidade, sua nação simplesmente desaparecer. A estes, portanto nem a esperança resta. São os refugiados climáticos. Os deserdados ambientais. Literalmente o chão lhe sumiu aos pés! Não há mais para onde voltar. Discutir as causas já não é mais o tônus do debate, mas dúvidas como: o que acontecerá com estas pessoas? Quem os acolherá? Quantos serão?
O exemplo recente do Rio de Janeiro, traz a lembrança tragédias ocorridas também em Pernambuco e Alagoas em 2010 e Santa Catarina em 2008. Milhares de pessoas simplesmente não terão para onde voltar... Embora o quadro se desenhe assustador, não chega a surpreender! É a expressão do esgotamento, da exaustão!
Tuvalu, um arquipélago-nação no meio do Pacífico está condenado a desaparecer em poucos anos e outros paraísos e cidades litorâneas de todo o mundo estão na lista! Sem contar nos milhões de quilômetros de desertos que eclodem em meio a florestas e áreas produtivas. A medida que os tempos passam parece que nos aproximamos de um caos interminável, cruel, indigno e injusto!
A triste sentença que condena a humanidade ao caos vem sendo aplicada a todos. Se a prevenção não foi tomada como necessária, que se tome o remédio como obrigatório. Evidentemente que oferecer uma nova casa, construir uma nova cidade, um novo bairro não devolverá aos refugiados climáticos, a sua dignidade. Ser gente é muito mais do que habitar, sobreviver. Ser gente é ter identidade, história, passado, lugar.
Imagine o leitor e a leitora, se de uma hora para outra fosse preciso se implantar num outro lugar, com novos hábitos, novas condutas; se seu passado simplesmente fosse engolido pelo caos ambiental; se fosse necessário literalmente nascer de novo. Este novo nascer não é como curar-se de uma terrível doença ou de um grave acidente. É morrer e ser obrigado a assistir a própria morte.
O mais surpreendente é que pouco se fala a respeito disso. A imprensa tem tratado modestamente o assunto e quando trata é de forma superficial. A grande mídia prefere ignorar e mostrar a tragédia até fazer dela um fato comum. O tema causa constrangimento a quem tem a obrigação de apontar soluções, mesmo porque são os causadores desta tragédia. Como justificativa há quem afirme tudo isso é fruto do processo de globalização. Vale dizer que seja qual for o processo temos seres humanos em questão.
Se não temos como devolver a dignidade perdida, que não se permita que mais gente a perca. Que se tomem urgentes providências, que a ONU cumpra seu papel, que as igrejas façam valer seu poder, que os governos democratas arrastem pelo exemplo. Enfim que a humanidade seja capaz de oferecer a si mesma a esperança de que o fim não está tão próximo quanto se tem previsto. A menos que estejamos diante de uma espécie kamikaze.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Perigo e Medo do Ócio!

A convivência pode ser uma virtude ou um problema para o ser humano. Os excessos de convivência podem gerar conflitos, a falta de postura no ato de conviver pode torná-lo inviável. Isso entre vizinhos, parentes distantes, amigos, colegas de trabalho, etc. Mas entre pais e filhos, esposo e esposa a realidade é outra. A convivência é o que há de fundamental para que sintam fortalecidos os laços que os unem. O tempo ocioso (férias, finais de semana) é o espaço entre uma jornada e outra em que o convívio se faz acontecer. É um exercício de humanidade. Somente o ser humano é capaz de fazer do tempo ocioso, um tempo de vida, bem-querer. Um tempo para sentir-se feliz, sentir-se gente. Para analisar este tema utilizo-me de dois ditos populares: “mente ociosa, oficina do diabo” e “o trabalho dignifica o homem”.

O primeiro refere-se ao fato de que é preciso manter a mente das pessoas ocupadas com “coisas úteis” para que não se quede ao mal. Estas coisas úteis são: o trabalho, cursinhos intensivos, participação em grupos sociais, etc. Quem já não recebeu através de seu correio eletrônico, convites para fazer cursinhos ou participar de alguma atividade enquanto está gozando de suas férias ou para as suas horas ociosas? É preciso que as pessoas saiam de suas casas, afastem-se de seus familiares mais próximos. Talvez por isso muitos pais não saibam o que fazer com seus filhos nos períodos de férias ou num dia em que a escola pare para alguma reunião ou num final de semana.

A segunda refere-se ao fato de que o um ser humano será completo se exercer alguma atividade laboral. O trabalho não é apenas uma questão de sobrevivência, mas de garantia de que se pertence a um grupo seleto de pessoas: as dignas. O trabalho dignifica o homem sim, mas quando exercido com dignidade. Ao tornar o homem escravo de uma rotina perversa, que o exclua do convívio da família, transforma-o numa máquina, sem dignidade e sem vida.

O medo do ócio e o perigo por ele gerado tem transformado o ser humano numa “coisa”. Não é gratuita a preocupação de algumas pessoas em ser substituídas por máquinas, afinal fazem de sua vida o que qualquer máquina faria. Muitas vezes esta preocupação tem se confirmado, pois a tecnologia, criada pelo próprio homem, ao contrário de lhe oferecer mais tempo para o convívio, tira-lhe o sustento e a própria dignidade. A geração atual tem ocupado o seu tempo trabalhando e se especializando para garantir seu espaço no mercado de trabalho.

Os filhos são criados por estranhos, os velhos acompanhados por cuidadores! Refeição em família torna-se parte da tradição de Natal. No cotidiano diário não há refeições e muito menos em família. Como imaginar “perder tempo” para almoçar? Teríamos então um terceiro jargão: “tempo é dinheiro”. O mesmo dinheiro usado para custear longos tratamentos médicos de quem durante décadas não cuidou de seu corpo. De quem fez do ócio seu maior inimigo, transformando-o em um verdadeiro demônio.

Ser gente ainda é algo que somente as pessoas sabem fazer. Trabalhar, estudar são invenções que devem ajudar as pessoas a ser mais gente; a ter mais tempo para as outras pessoas. Uma conversa à mesa, uma brincadeira na varanda, uma pescaria, um bom livro são coisas de gente. Gente que faz de seu ócio um tempo de felicidade!

Quem sou eu

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Benedito Novo, Santa Catarina, Brazil
Sou Mestre em educação, graduado em Biologia e Matemática, professor da rede estadual de Santa Catarina, com experiência em educação a distância, ensino superior e pós-gradução. Sou autor e tutor de cursos na área da educação no Instituto Veritas (Ascurra) e na Atena Cursos (Timbó). Também tenho escrito constantemente para a Coluna "Artigo do Leitor" do "Jornal do Médio Vale" e para a revista eletrônica "Gestão Universitária". Fui diretor da EEB Frei Lucínio Korte (2003-2004) e secretário municipal da Educação e Promoção Social de Doutor Pedrinho (2005). Já atuei na rede municipal de ensino de Timbó. Em 2004 coordenei a campanha que conduziu à eleição do Prefeito Ercides Giacomozzi (PMDB) à prefeitura de Doutor Pedrinho. Em 2011 assumi pela segunda vez, a direção da EEB Frei Lucínio Korte.

Historicidade de meus passos