Que bom que você está aqui!

É com prazer que te recebo neste espaço! Esta "casa" virtual está em permanente construção e em cada "cômodo" há uma inquietante necessidade de fazer diferente! Meus textos, relatos e imagens buscam apresentar a você os passos que constituem minha caminhada pessoal, profissional e acadêmica. A partilha que faço não intui caracterizar-se por uma postura doutrinária, autoritária ou impositiva-opressora, mas ao contrário, apresenta-se como ato solidário (jamais solitário) de contribuição à discussões humanas, planetárias e éticas!



Como educador me vejo no compromisso de participar do processo histórico de libertação dos oprimidos, marginalizados e esquecidos, a começar por mim. Despindo-me de qualquer resquício de arrogância, prepotência e soberba apresento-me como aprendente num contexto de intensa renovação de conceitos e atitudes!



Assim convido-o a juntos pensarmos em nossa condição de partícipes da grande Salvação! Salvação plena do homem e da mulher místicos, políticos e planetários!



Fraterno abraço!








Casa Rosada - sede do governo argentino. Em frente está a Praça de Maio. É um local em que é possível conhecer um pouco da história e da cultura argentina.

domingo, 11 de novembro de 2012

Desenvolvimento econômico insustentável: um modelo brasileiro

Em tempos em que o termo sustentabilidade é considerado fundamental para toda e qualquer atividade humano, cumpre analisar as razões que tornam tão difícil a sua aplicabilidade. Inicialmente parte-se do princípio de que a sustentabilidade seja possível, o que já é questionado por importantes pensadores modernos. Na hipótese de sê-lo há que se considerar diferentes aspectos históricos, culturais e políticos que conduziram-nos a um modelo definitivamente insustentável. O Brasil, até meados do século XX era um país essencialmente agrícola, exportador de commodities e pouco expressivo na produção de manufaturados ou industrializados. Inicia-se então o processo de industrialização especialmente através da indústria automobilística. Alguns equívocos podem ser percebidos de imediato: as grandes montadoras são estrangeiras; a tecnologia e o conhecimento aplicados são estrangeiros; o público brasileiro não estava preparado para consumir o produto (veículos); não se preparou o país para suportar a inserção de milhares de veículos anualmente em sua malha viária; a produção demanda um grande contingente de recursos naturais. Assim explorou-se exaustivamente a mão de obra barata, os recursos naturais abundantes sem que houvesse uma preocupação efetiva com o impacto de tudo isso na realidade econômica e ecológica brasileira. Para que parte da sustentabilidade seja alcançada procurou-se popularizar o automóvel facilitando sua aquisição, seja pelo valor ou por linhas de crédito; transformá-lo em motivo de status e não apenas considerá-lo como um meio de locomoção. Entretanto não se dispensou preocupação efetiva em relação a estrutura viária e hoje vemos cidades transformadas em grandes estacionamentos e pessoas tomadas por dívidas e com um bem em constante desvalorização. Sem falar no grande dano ambiental gerado pela sua produção e pela sua utilização. Os outros setores da indústria percorreram caminhos semelhantes porém não tão impactantes. Pensar em sustentabilidade de um modelo concebido neste formado permite compreender a dimensão utópica que este conceito abrange. Hoje pagamos pela despreocupação do passado, uma vez que uma das grandes preocupações atuais é a mobilidade urbana. É preciso reconhecer também a incapacidade preventiva do Estado que não desenvolveu estratégias eficientes de transporte coletivo utilizando os diversos modais disponíveis. Conclui-se que incompetência e insustentabilidade são conceitos complementares e efetivamente assimilados pelo Estado brasileiro. Parece que há uma vocação por corrigir em detrimento de prevenir. O caos ecológico e econômico gerado por atitudes impensadas reflete concretamente na qualidade de vida das pessoas. Perdem-se horas em rodovias transformadas em estacionamentos, respira-se mal e gasta-se parte do trabalho para pagar a conta. Definitivamente estamos na contramão de qualquer tentativa de sustentabilidade. Precisa-se de um Estado competente que pense nas futuras gerações e não de políticos que planejem apenas as próximas eleições; de cidadãos que se percebam mais do que potenciais consumidores, mas autores de uma história mais sustentável mais digna e com reais perspectivas de futuro.

sábado, 7 de julho de 2012

A (auto)mediocrização do professor

É comum, ao sabor do senso comum, ouvir afirmações de que a profissão professor está em extinção devido às tecnologias, novas mídias ou novas concepções de aprendizagem. Efetivamente a existência destas “novidades” é algo real e conquistou um espaço significativo na vida de crianças e adolescentes que certamente vêem na figura caricata do professor “dono do saber”, um instrumento ultrapassado, uma verdadeira sucata humana. Para sorte da garotada este perfil de professor está em extinção de fato, não pelas “novidades” mas pelo fato de que os novos educadores estão fomentando um novo paradigma de “ser professor”. Se antes o professor era responsável pela disseminação do saber sistematizado, aos poucos assumiu o papel de coadjuvante como mediador entre o saber e seus alunos. Esta mediocrização, muitas vezes aceita pelos professores, deixou-os numa posição aparentemente cômoda, porém estrategicamente arquitetada para sucatear a profissão professor. Aos acomodados e conformados certamente caberá a triste despedida pela porta dos fundos daquilo que um dia foi sua profissão. Entretanto cumpre dizer novas perspectivas fundam um novo “ser professor”. Um professor inconformado, protagonista da sua ação pedagógica, participante ativo da vida de seus alunos, exercendo sua profissão de forma a fazer a diferença em relação ao contexto em que se situam. Neste novo paradigma profissional surge o “ser educador”, sujeito capaz de valer-se de crises e conflitos para romper com a estagnação de seu papel mediador. Este novo ator assume-se como sujeito político pois optou pela ação, pela crítica e por sua inserção pessoal no processo educativo. O educador emergente neste novo paradigma não será o amo que fará pela família o que lhe cabe, mas um personagem fundamental que se ocupará da tarefa de inconformar cada geração em relação ao que a história lhe propõe. Caberá ao educador transmitir saberes e principalmente propor caminhos para utilizá-los de forma adequada e especialmente buscar mais. Neste sentido, tecnologias, mídias e novas metodologias podem auxiliar em sua tarefa, porém o “ser educador” é algo a ser construído através do comprometimento do professor consigo e com seus alunos. Extinguir o medíocre é próprio da história em qualquer profissão ou função em diferentes sociedades ou organizações, e no magistério não poderia ser diferente. O padecer de alguns, entretanto não permite a ninguém generalizar, exceto aos próprios padecentes que consideram o trabalho de seus colegas cópias de seu próprio fracasso. Mas com a extinção deste grupo, decretada pela sua própria conduta abre espaço para a inovação. Os medíocres cedem seu espaço aos que acreditam que “ser educador” não é uma missão ou uma vocação, mas uma atitude genuinamente profissional, de respeito a si e aos educandos.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Avaliação nota dez para reprovação zero

A cada ano as políticas públicas em educação tendem para o que se pode chamar de reprovação zero. Há quem diga que isto acontece para que o poder público possa alcançar índices numéricos positivos para mascarar certas deficiências, enganando-se e enganando a toda a sociedade com aprovações não necessariamente vinculadas ao sucesso do processo educativo. Efetivamente são opiniões válidas e que num ambiente democrático podem e devem ser respeitadas, porém passivas de discussões e crítica. O que mais encaminha à crítica é a forma como a reprovação é produzida: um sistema de ensino metodologicamente arcaico e uma avaliação unidirecional e punitiva. Ao se considerar o que ocorre na maioria das escolas públicas, com honradas exceções, percebe-se uma tendência e induzir às pessoas (educadores, gestores e educandos) a acreditarem que o conhecimento só existe e é possível passando pela escola. Sendo assim, a forma como esta o apresenta é a única aceita e, portanto avaliada positivamente. Eis umas das fontes da reprovação, quando o educando não se adapta ao “sistema”. Este passa a personificar algo quase místico, pois poucos lembram-se que o “sistema” é produzido e sustentado por pessoas (gestores, educadores). O processo educativo sistematizado nestes moldes não se percebe da mudança permanente em que os seres humanos e o conhecimento estão inseridos. Não se percebe de que é preciso “preparar” as pessoas para o contato com o conhecimento. Prepará-las para que saibam compreender a intencionalidade e a imparcialidade de cada novo conceito e suas conseqüências para a vida como um todo. Prepará-los para que saibam responder perguntas, resolver problemas e a questionar de forma crítica, os conceitos postos, visto que a ciência é por excelência um exercício de crítica e curiosidade. Vale dizer entretanto que os conhecimentos arcaicos são sumamente significativos se considerarmos a historicidade da ciência e do conhecimento, pois impulsionaram novas perguntas, problematizações e novos saberes. O arcaísmo condenável é a imitação engessada e insana de valores superados que conduzem a uma cultura escolar do desprazer, do sacrifício e do autoritarismo. A avaliação implícita neste contexto pressupõe uma certa arrogância da escola sobre os educandos, considerando-se detentora de um saber imprescindível o qual deve ser assimilada compulsivamente. Partindo disto surge o caráter unidirecional e punitivo da avaliação, especialmente aos que compreendem a escola como não sendo a depositária exclusiva dos saberes necessários ao futuro das pessoas. Aos que questionam ou discordam resta a ameaça da retenção (reprovação), por parte de quem pretende conservar um pseudo-poder sobre os educandos. O arcaísmo escolar deseja sustentar este poder, negando outras fontes de saberes e principalmente as novas demandas do processo educativo, que se fundamentam na necessidade de incitar a curiosidade, a criticidade e a potencialidade reflexiva de cada sujeito. Obviamente que para tanto é fundamental que cada educador se sinta suficientemente disponível à mudança e à constante transformação e construa sua autoridade pela confiança e pela potencialidade transformadora de seu trabalho na vida dos educandos. Quando este trabalho estiver ameaçado por questões disciplinares ou até de violência é preciso recorrer a outros instrumentos legais e institucionais. O primeiro passo nestes casos é exigir da família a sua participação no processo, que é intransferível no que diz respeito a construção de certos valores como respeito, ética e solidariedade. Esta distorção transcende inclusive às funções da própria instituição escolar a qual não responde por atitudes punitivas em relação a questões de caráter por exemplo. Impor respeito pelo “poder do medo” transforma a instituição escolar num espaço desprovido de atrativos e os educadores em caricaturas de um processo ultrapassado e sem sentido. Assim avaliar será um ato diagnóstico, revisor e crítico de um processo no qual está implicitamente inserida. Cabe-lhe a função de apresentar a compreensão de tal processo (o educativo) e estabelecer caminhos pelos quais será possível à instituição escola cumprir a sua. A mera solução pela retenção (reprovação) revela neste contexto, um fracasso evidente de diferentes atores do processo educativo: escola, família e poder público. Assim faz-se necessária uma inovação de posturas por parte da escola, novas condutas familiares e a promoção de novas políticas públicas educacionais por parte dos gestores públicos.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Em busca de uma elite intelectual na escola pública

Ao se discutir a problemática inerente à educação são comuns debates em torno da falta de recursos, de bons salários e de políticas públicas adequadas às demandas emergentes do contexto deste terceiro milênio. Estas são reivindicações legítimas e que devem pautar continuamente as reflexões relativas à educação. Entretanto elas não são suficientes e dificilmente haveremos de promover a grande revolução necessária para que a educação seja efetivamente concretizada no âmbito da educação pública. A grande razão de existir da escola, inclusive e especialmente, pública é promover a inserção de todos, por meio de oportunidades iguais, ao universo do saber. Assim as temáticas dos debates atuais torna-se relevante e impactante na medida em que houver também a preocupação em se formar uma elite intelectual na escola pública. O conceito de elite a que nos referimos não sugere a existência de uma “casta” intocável e arrogante que encarne a supremacia repressiva e opressora sobre uma grande “massa” rasa e incapaz de acender humana, intelectual e socialmente. Entenda-se elite, com um conjunto de pessoas que se postem com humildade e respeito diante de quem está “nascendo” para o mundo através do saber, oportunizando-lhe condições, desafios e espaços para elitizar-se de forma a libertar-se do estado de ignorância e desconhecimento. Esta elite intelectual são os educadores, que além de conhecimentos e conceitos, detém a sensibilidade dos inconformados, a coragem dos desafiadores, a ternura dos solidários e a perseverança dos esperançosos. A elite que se torna necessária na escola pública é a que desafia os educandos a se superarem, que exige deles comprometimento, carisma e humildade. Uma elite ética que não sentencie os ignorantes ao fracasso, apresentando-lhe um mundo ideal, sem competições, obstáculos ou dificuldades, propondo-lhes uma postura passiva diante da agressividade a que o contexto social os submete. A ética da elite intelectual da escola pública propõe que os educadores apresentem aos educandos os mecanismos necessários para garantir o respeito a sua dignidade e a sua diversidade. Desta forma investimentos, novas metodologias, projetos emergenciais e certas tentativas de mascarar uma realidade de miséria intelectual na escola pública, resultam apenas em índices e dados estatísticos que refletem uma realidade ideal. Entretanto, a real é absurdamente vergonhosa com adolescentes incapazes de escrever e interpretar um texto e educadores incapazes de libertar-se dos velhos manuais e cartilhas. Embora existem inúmeras e honrosas exceções será que nos educadores teríamos coragem de dizer aos nossos alunos quantos livros lemos num ano? Teríamos coragem exigir deles alguma leitura? Se estas simples perguntas comprometem muitos de nossos colegas, ousaríamos nos intitular “elite intelectual”? Mas há que se dizer que como é de costume do ser humano agir por imitação e como temos muitos educandos de excelente nível intelectual é porque uma parcela de educadores já caminha para uma elitização. No lastro destes, outros virão e a perseverança dos esperançosos permite sonhar com a formação de uma grande elite intelectual na escola pública. Como sonhar é o primeiro dos passos da longa caminhada, espera-se que os outros (mais recursos, bons salários e políticas públicas adequadas) sejam garantidos a quem é de dever. Espera-se também o comprometimento das famílias, afinal a ela também cabem deveres intransferíveis e irrevogáveis.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Escola tradicional e equívocos pós-modernos

A palavra tradição, de acordo com sua aplicação, pode suscitar variadas interpretações podendo gerar preconceitos e compreensões distorcidas. Quanto se aplica à questões culturais pode ser vista como algo positiva, como uma forma de preservar valores, costumes e práticas históricas . Entretanto, em educação, a tradição é vista com restrições. Normalmente está associada a práticas arcaicas, excludentes e pouco atrativas. Mas afinal qual a verdadeira face da tradição e do tradicional no contexto escolar? Esta certamente não é uma resposta simples ou que possa ser aplicada a qualquer instituição escolar. O que se pode perceber é que determinadas tendências foram incorporadas ao conceito de escola tradicional, como é o caso do tecnicismo e não se promoveu grandes discussões em torno de sua complexidade. Graças a teorias emergentes partiu-se para o que muitos chamam de pós-moderno e estabeleceu-se uma série de paradigmas: conteúdos não são mais fundamentais; conceitos devem ser discutidos, selecionados e construídos de acordo com o interesse do aluno; o educador aprende com seus alunos; a família pode e deve partilhar do processo pedagógico. Tudo isto obviamente não é ruim, ao contrário, representa um salto qualitativo de grande relevância e impacto. O grande equívoco foram os extremismos. Assim, para muitos educadores, gestores e instituições, os conteúdos e principalmente os conceitos foram simplesmente ignorados com o pretexto de que em qualquer mídia, por exemplo, é possível encontrá-los. De fato, as mídias disseminam informações e dados, que por sua vez são apresentados de forma parcial e frequentemente controlados. Em relação aos conceitos, estes devem realmente ser amplamente discutidos, porém de forma competente e comprometida. São os educadores os profissionais adequados e preparados para coordenar esta discussão, incorporando-se a ela e não servindo apenas de mediador. Ao educando é preciso garantir o espaço de manifestar seus interesses e necessidades para que o processo educativo seja visto como de efetiva significância para a sua vida. Porém algo merece atenção especial neste momento: a participação da família no processo educativo. Como diz a constituição federal, a educação é um dever do Estado e da Família, portanto, sua participação é indispensável e insubstituível, visto que é nela que o sujeito passa a relacionar-se com o mundo. Não há avanço moderno ou pós-moderno que poderá suprimir a função familiar no processo de formação das pessoas. Assim, discursos e teorias que tratam da necessidade de superar concepções tradicionais por outras pós-modernas, é preciso ter o cuidado para não comprometer valores que possam garantir o sucesso de todo um processo. Educar é também servir-se de valores e princípios, tradicionais ou não, que imponham segurança e significação ao que se está propondo. Assim tradição e inovação podem e devem caminhar juntas também no processo educativo, tornando-o dinâmico e sempre mais vivo.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Pelo respeito a desigualdade na escola pública

A desigualdade é sempre um sério problema no contexto humano e social e algo absolutamente condenável do ponto de vista ético. Todos devem ter garantido o acesso aos mesmos direitos numa sociedade que queira ser justa. Se houver um privilégio e, por conseguinte, privilegiado ela deixará de ser justa e ética. Porém há igualdades que são tão cruéis e anti-éticas quanto o seu oposto. Imaginar que todos os seres humanos aprendem da mesma forma ou que queiram aprender a mesma coisa é algo brutal e desumano e tem condenado vidas à ignorância e a exclusão. Se num aspecto é preciso garantir igualdade de oportunidades por outro é preciso garantir a diversidade de caminhos e valores. Diferenças econômicas, étnicas, religiosas, por exemplo não podem justificar a exclusão de ninguém de qualquer processo educativo, porém a liberdade de pensamento, valores individuais e habilidades não podem ser tolhidos em nome da dita igualdade. Assim a escola, especialmente a pública, tem sido um espaço em que os desiguais se apresentam de forma mais evidente e menos velada. Nela estão crianças e adolescentes provenientes dos mais variados universos, com perspectivas, esperanças, frustrações, sonhos, traumas e expectativas. Não há como imaginar enquadrar a todos num padrão pedagógico ou numa postura educacional determinada por decretos, por exemplo. Há na escola pública um grande desafio e um grande valor. O desafio de garantir o respeito a esta desigualdade e a diversidade como valor. Se as diferenças entre as pessoas que nela se encontram forem vistas como um caminho para compreender que cada ser humano precisa construir seu caminho e sua história a partir de sua experiência planetária, então será possível fazer da educação um campo de construção e respeito às diferenças. Assim, diariamente observamos relatos de educadores surpreendidos por uma criança ou adolescente que realizou algo inesperado. Justamente por que estabeleceu-se um “limite esperado” como se não fosse possível transcender. Eis um alerta necessário: os educadores, que são os grandes fomentadores da discussão dos conceitos científicos historicamente elaborados, deveriam saber que a ciência se constrói a partir do inesperado. Afinal se tudo o que fazemos devesse obedecer regras “esperadas” estaríamos a milênios, repetindo os mesmos conceitos e os mesmos erros. Neste sentido é preciso ponderar que os próprios educadores provém de um sistema de formação que lhes impôs a igualdade (padrão) como regra para o sucesso. Esta ruptura pessoal e depois profissional é um verdadeiro parto em que o invólucro de certezas se rompe e o sujeito é surpreendido por fenômenos nunca experimentados. Para o educador que se vê como infalível, auto-suficiente e por isso arrogante, a sensibilização para uma revisão de posturas, a procura por novos saberes e o respeito ao pensamento divergente são exercícios extremamente sacrificantes. Não se trata de aprender conceitos científicos com seus alunos, mas de aprender a compreender a diferença, a diversidade e a capacidade que cada criança e adolescente tem de se fazer parte do mundo. Quanto ao domínio do saber cientifico, este é uma prerrogativa para que o educador possa se fazer perceber como profissional. Portanto, promover a desigualdade neste sentido, significa manter viva a esperança de que ainda temos muito a construir, a descobrir e a inventar. Tirar essa possibilidade é condenar os seres humanos a nulidade, excluí-los da vida. É negar a capacidade de (trans)formação que a história testemunhou em milhares de anos. Publicada na edição de 11 de abril de 2012, do Jornal do Médio Vale (p. 17)

domingo, 11 de março de 2012

As cicatrizes da Revolução: de Jango à comissão da Verdade

Um dos deveres intransferíveis da educação é formar a consciência (capacidade crítico-reflexiva) e a sensibilidade (capacidade de intervir) da população em relação a sua própria memória. Assim um dos episódios mais cruéis da história contemporânea do Brasil, a Revolução de 1964, que é descrito como passo natural para a nação,dadas as condições da época precisa ser recontado. Segundo as versões didáticas, vivia-se num tempo de instabilidade, de um governo fragilizado, comandado por um presidente fraco, com tendências comunistas e de competência duvidosa, o que justifica o uso da força e da repressão para restabelecer a ordem. Além disso, passados 47 anos da Revolução de 1964, que na realidade se caracterizou por um golpe de Estado na mais crua acepção do termo, o Brasil ainda discute se deve ou não revelar a verdade sobre o que aconteceu em 21 anos de Regime. A criação da chamada comissão da verdade tem gerado discussões polêmicas em torno dos seus propósitos e resultados. O fato é que após décadas do fim do Regime, há ainda dúvidas, dores e cicatrizes que não permitem esquecer um dos períodos mais tristes e traumáticos da história recente do Brasil. O que se percebe é que além da crueldade dos fatos há também a da forma como estes foram descritos. Personagens são lançados ao esquecimento ou ainda são descritos de forma absurdamente destorcida, beirando ao crime. Um destes personagens é o então presidente João Belchior Marque Goulart (Jango), visto como um político fraco, submisso e até incapaz por alguns autores, que inclusive o responsabilizam pelo ocorrido e por suas conseqüências. O desrespeito à sua memória o transformou em personagem condenado a marginalidade histórica expondo-o a ridicularização por ter sido um pacifista e legalista. Se a nação ainda chora o sangue derramado e o horror vivido pelas vítimas da “revolução”, deve-se a Jango, a capacidade e a coragem de renunciar às próprias glórias, em nome da preservação da vida de milhares de brasileiros. Poderia, segundo a história, ele próprio ter lutado e deflagrado um golpe e sujeitado a nação a uma guerra civil, para manter-se no poder. Assim, é preciso reescrever a história para que se chegue o mais próximo possível à VERDADE. Assim como Jango, aos poucos desaparecem da história brasileira, personagens colossais, como Miguel Arraes, Leonel Brizola, Dom Paulo Evaristo Arns sem contar com milhares de outros anônimos que de fato construíram o que hoje chamamos de “redemocratização”. Alguns destes anônimos sacrificaram suas vidas, expuseram-se à humilhações, foram submetidos à torturas de toda sorte. Não é justo esquecê-los, simplesmente ignorá-los ou ainda macular sua memória considerando-os simples subversivos. Diante disto, ao criar a comissão da verdade, a atual geração está apenas restaurando parte da dignidade das vítimas de um período que envergonha a todos que acreditam no inviolável direito à vida. É um inegável momento histórico, que não pode passar despercebido sob pena, de enterrarmos, além das vítimas, a história e a dignidade do povo brasileiro. Educar é também reescrever a história para que ela não repita seus horrores, para que os seres humanos possam lançar-se ao desafio de recomeçar de um jeito diferente. Educar é também honrar a memória de quem “não temeu a própria morte” diante da perspectiva de entregar às futuras gerações, uma “pátria mãe mais gentil”.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Corrupção: um crime contra a humanidade

O clima de democracia, a liberdade de imprensa e a coragem de denunciar tem estampado em jornais, sites e programas televisivos uma verdadeiro carcinoma de nosso tempo: a corrupção. Prédios públicos inacabados, obras superfaturas ou que nunca saíram do papel, mas que já foram pagas inúmeras vezes, são exemplos de nosso cotidiano jornalístico e já não chamam a atenção tanto quanto deveriam. Por esta razão já não nos indignamos mais e antes mesmo do desfecho já apostamos na impunidade absoluta. Mas é preciso analisar a corrupção em toda a sua complexidade uma vez que a lesão ao patrimônio público se dá forma dupla. Afinal ocorre a apropriação indébita (leia-se roubo) do que não pertence ao sujeito e com isso recursos que poderiam salvar vidas ou alfabetizar crianças não chega a seu destino. Expropria-se o dinheiro público e não se atende às demandas fundamentais da sociedade. Coloca-se em risco a vida e dignidade das pessoas, o que caracteriza um crime contra a humanidade. Assim quando são divulgados os milhões de reais desviados não se dá a devida atenção para a conseqüência que isto impõe. Estes números não são meros dados estatísticos, mas um vergonhoso desrespeito aos direitos humanos de toda a nação. Afinal, certamente com este dinheiro a qualidade da saúde, educação, segurança, lazer, rodovias, etc, poderia ser bem melhor. Um passo importante foi dado recentemente pelo STF ao validar a chamada “Lei da Ficha Limpa”. É uma luz de esperança que se acende no breu dos porões da deplorável prática de alguns políticos brasileiros. A Suprema Corte respondeu a altura, aos clamores e anseio da nação. Assim para concorrer a um cargo público é preciso ter um passado minimamente honrado, o que credencia o eleitor a fazer escolhas menos ruins. Mas obviamente o que se faz necessário e cada vez mais distante é uma ampla reforma política, através da qual a democracia possa se manifestar de forma mais substantiva. Financiamento público de campanha, formação política e capacidade técnica aos que ocupam cargo público, profissionalização da gestão púbica, punição à corruptos e corruptores são alguns passos muito esperados. Embora estes passos ainda sejam utópicos é preciso mobilizar a população mostrando a ela a barbárie cometida contra seu próprio patrimônio. Mas enquanto atenção da nação está voltada para o próximo capítulo da novela das oito ou com as intrigas “da casa mais vigiada do Brasil” torna-se difícil imaginar que os maiores interessados e manter tudo como está, façam alguma coisa. Talvez um dos maiores crimes cometidos contra a humanidade em favor da corrupção seja exatamente este: incapacitar as pessoas de refletir ou perceber o que é realmente significativo. Assim um pais mergulhado na corrupção é necessariamente alienado, com cidadãos permanentemente alimentados por uma falsa sensação de bem estar, consumindo ilusões e fantasias. Robotiza-se os seres humanos impondo-lhes uma condição de subserviência extrema. Algo excessivamente perverso, humilhante e cruel, que não nos dá o direito de permanecer alheios a história. Em outubro teremos uma excelente oportunidade de completar a obra iniciada pela Suprema Corte. Quem sabe, com o exemplo de bons gestores e legisladores municipais, poderemos partir para uma verdadeira faxina.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Inicio do ano letivo: compromisso e esperança!

Uma das grandes preocupações da escola moderna, especialmente a pública, é estabelecer um contato permanente com a família. Não para delegar a ela funções que cabem a escola, mas para fazê-la parceira, uma vez que a formação de um ser humano (criança) é muito mais complexa que a simples assimilação de conceitos ou conteúdos. Assim é preciso definir funções e compromissos. À escola cabe estabelecer meios de acesso e compreensão ao saber historicamente acumulado e divulgado, bem como estabelecer perspectivas em relação a sua (re)construção. A escola é essencialmente um espaço de formação crítica em relação ao mundo que cerca a criança e o adolescente. De maneira alguma poderá assumir as funções que cabem a família ou então delegar a ela aquilo que lhe cabe. À família cabe a construção de valores e princípios que permitirão à criança e ao adolescente ter discernimento e posturas para saber o que fazer com o saber que lhe é apresentado. É importante lembrar que em se tratando de século XXI a escola não é a primeira e muito menos a única fonte de contato com o saber. Assim estes valores serão imprescindíveis para que não sejam formadas gerações de “alienados”e “bem conduzidos” por toda sorte de tendência. Assim quando uma família “entrega” um filho ou filha à escola, não o está fazendo para que o eduquem, mas para que complementem aquela formação que iniciou em casa. Está apenas estendendo o rol de possibilidades de formação, permitindo a seu filho ou filha, concepção de novos sonhos e esperanças. Sonhos e esperanças que se desenham num cenário em que se pressupõe, já estão postos princípios consistentes e valores humanizantes. Sem esta parceria cria-se um clima de adversidade onde família e escola não lograrão êxito em suas ações, seus objetivos não serão alcançados e crianças e adolescentes serão enganados. Um pai que afirma não saber mais o que fazer com o seu filho anuncia um fracasso tão gigantesco quanto o da escola que não sabe como apresentá-lo com dignidade ao saber. A soma destes fracassos não resulta apenas em uma geração mal formada, mas numa forte ameaça ao futuro de todos. Assim, o início do ano letivo é também o início de uma jornada, a ser vivida com a seriedade comparada a de um pai que recebe um filho após o parto. Afinal, ao inserir seu filho num espaço que se propõe transformar o rumo de sua vida, o está expondo a um novo parto. Passará a conhecer letras, números, conceitos e saberes o que não permite ao conhecedor agir como se não conhecesse. Desta forma o inicio do ano letivo deve também selar o compromisso entre escola e família, no sentido de garantir às crianças e adolescentes a possibilidade de sonhar e ter esperanças. Um compromisso dialógico onde família e escola construirão caminhos seguros para que crianças e adolescentes sejam promovidos e jamais oprimidos pelo saber. Assim família e escola não são faces opostas de uma mesma moeda, mas parte de um cenário onde o espetáculo da vida se renova a cada dia.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Evolução tecnológica e extinção do saber

O fato de nos depararmos com milhares de pessoas absolutamente alheias a temas de grande relevância social e para a vida de cada sujeito revela o quanto estamos equivocados quando afirmamos que hoje o acesso ao saber é mais fácil e mais rápido. Quanto a rapidez e a facilidade não há o que discutir, mas o que se está acessando é realmente saber? Numa nação em que a maioria das pessoas sabem opinar apenas sobre o seu time de futebol e sobre o comportamento de alguns sujeitos confinados numa casa luxuosa de reality show, há que se pensar sobre o que está sendo apresentado às pessoas. Se houve e há uma preocupação concreta em elaborar meios físicos e logísticos para divulgar informações de forma rápida e eficiente, não se vê similar preocupação com a qualidade do que se dissemina. Em relação ao expectador, procura-se atingir as chamadas classes populares que teoricamente absorvem mais facilmente esta "massa de informações", por se tratar de algo facilmente compreendido o que se revela extremamente atraente. Mais ainda deturpam-se valores elevando-se à categoria de heróis, sujeitos que se permitem expor de forma imoral e aética, ridicularizando princípios que a maioria das mães e pais (estes sim verdadeiros heróis) buscam transmitir a seus filhos. Diante disto não há outra conclusão senão a de que a deterioração social e cultural de uma nação se constrói com a ajuda da tecnologia em mãos e mentes mal intencionadas. Trata-se de uma evidente extinção do saber, o qual permite estabelecer e compreender valores, princípios e condutas. Percebe-se, portanto, uma evolução tecnológica diretamente proporcional a uma involução intelectual lançando a grande massa num sistema poderosamente alienante. Esta alienação fere mortalmente qualquer possibilidade de consolidação de uma sociedade atenta e preparada para libertar-se dos modernos modos de opressão e repressão. Se no passado e no presente algumas ditaduras se valem de artifícios como a tortura, as democracias liberais alicerçam-se na alienação irrestrita. Indivíduos aprovados mas não preparados são lançados para fora da escola, iludidos de que seu saber lhe proporcionará dignidade e segurança. Uma ilusão dupla, pois não estão efetivamente preparados e o que levam não é saber, mas algumas informações sobre as quais são incapazes de refletir ou tecer críticas. Alguns sequer sabem ler, apenas soletram frases e desenham letras. Uma realidade cruel diante dos múltiplos desafios que se apresentam sempre mais complexos, dinâmicos e difusos. A escola (pública e privada) por sua vez se vê refém de políticas públicas inconsistentes e tendências mercadológicas que transformam a educação em mero tema político eleitoreiro ou produto a ser comercializado a qualquer condição. Indivíduos que conhecem as melhores lojas e fest foods, as músicas mais tocadas do momento (com apenas meia dúzia de frases soltas); mas que sequer imaginam que existem lojas que vendem livros; que ridicularizam artistas que proclamaram sua indignação e a de uma nação pelas suas músicas. O berço não lhe ofereceu condições para compreender que arte e entretenimento podem formar sujeitos melhores, mais atentos, mas críticos e menos oprimidos. Aqui cabe questionar: a quanto tempo não surge em nosso país um grande ícone da arte ou da literatura? Por que nossos grandes autores e pensadores pertencem aos séculos passados? Não há grandes pensadores e artistas no século XXI no Brasil? Não há dúvidas que há, mas a mídia não lhe oferece espaço e mesmo que ofereça os expectadores, em sua maioria não lhe dariam a devida atenção. As "facilidades" midiáticas, o despreparo da escola e o comodismo familiar, somados às múltiplas "intenções" de um sistema que privilegia o capital em detrimento do social e do cultural, tende a levar o saber a sua extinção. Enquanto pensar for "coisa de intelectual" e ser intelectualizado é ser "chato" continuamos transformando auto-ajuda em filosofia, imoralidade em diversão, elegendo quem nos oprime, trabalhando por menos do que merecemos e sendo menos felizes do que deveríamos.

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Benedito Novo, Santa Catarina, Brazil
Sou Mestre em educação, graduado em Biologia e Matemática, professor da rede estadual de Santa Catarina, com experiência em educação a distância, ensino superior e pós-gradução. Sou autor e tutor de cursos na área da educação no Instituto Veritas (Ascurra) e na Atena Cursos (Timbó). Também tenho escrito constantemente para a Coluna "Artigo do Leitor" do "Jornal do Médio Vale" e para a revista eletrônica "Gestão Universitária". Fui diretor da EEB Frei Lucínio Korte (2003-2004) e secretário municipal da Educação e Promoção Social de Doutor Pedrinho (2005). Já atuei na rede municipal de ensino de Timbó. Em 2004 coordenei a campanha que conduziu à eleição do Prefeito Ercides Giacomozzi (PMDB) à prefeitura de Doutor Pedrinho. Em 2011 assumi pela segunda vez, a direção da EEB Frei Lucínio Korte.

Historicidade de meus passos