Que bom que você está aqui!

É com prazer que te recebo neste espaço! Esta "casa" virtual está em permanente construção e em cada "cômodo" há uma inquietante necessidade de fazer diferente! Meus textos, relatos e imagens buscam apresentar a você os passos que constituem minha caminhada pessoal, profissional e acadêmica. A partilha que faço não intui caracterizar-se por uma postura doutrinária, autoritária ou impositiva-opressora, mas ao contrário, apresenta-se como ato solidário (jamais solitário) de contribuição à discussões humanas, planetárias e éticas!



Como educador me vejo no compromisso de participar do processo histórico de libertação dos oprimidos, marginalizados e esquecidos, a começar por mim. Despindo-me de qualquer resquício de arrogância, prepotência e soberba apresento-me como aprendente num contexto de intensa renovação de conceitos e atitudes!



Assim convido-o a juntos pensarmos em nossa condição de partícipes da grande Salvação! Salvação plena do homem e da mulher místicos, políticos e planetários!



Fraterno abraço!








Casa Rosada - sede do governo argentino. Em frente está a Praça de Maio. É um local em que é possível conhecer um pouco da história e da cultura argentina.

domingo, 26 de outubro de 2014

O fio educador: uma metáfora necessária à análise do currículo escolar

Certo dia Dom Hélder Câmara, teria dito: “Diante do colar – belo como um sonho – admirei, sobretudo, o fio que unia as pedras e se imolava, anônimo para que todos fossem um...” Desta expressão inspiram-se muitas análises e discussões, seja de cunho teológico, cultural ou educativo. Particularmente evoco o educativo para tratar de uma metáfora necessária que nos permite estabelecer paralelos entre a feitura de um colar de pérolas e a formação de um ser humano. Como disse Dom Hélder, não haveria como unir as pérolas e fazer um colar sem que houvesse a presença discreta, imperceptível do fio que praticamente se anula diante da beleza da obra final. Mas que fio é esse? Quem o escolhe? Que “qualidades” deve ter esse fio? Participando de discussões acerca da apresentação de uma proposta de ensino, que seja significativa ao tempo e espaço em que vive-se contemporaneamente, atrevo-me a dizer que este fio é o currículo. É ele que une conceitos (pérolas) materializando um ensino significativo e que seja capaz de habilitar as pessoas a intervir na realidade. Um currículo (fio) capaz de compreender a preciosidade de cada conceito ao longo do percurso de formação dos sujeitos, será por excelência um espaço desprovido de vaidades pessoais ou pré-conceitos. Do contrário o fio será mais visível que as pérolas e o colar perderá sua beleza e seu encantamento. A escolha do currículo (fio) cabe essencialmente ao professor, conhecedor de seus alunos, de seu contexto e de suas intenções. Esta escolha será portanto, um ato político que implicará em definir estratégias para que os conceitos sejam consolidadores de grande obra. Se o fio for inadequado poderá danificar as pérolas, produzir um colar sem beleza e portanto, de pouco valor. Para que o fio possa fazer valer o colar e enaltecer as pérolas, necessita ser discreto, flexível e resistente. Da mesma forma o currículo. Sua discrição se dá quando os métodos e conceitos nele apresentados, auxiliam na formação que é uma característica própria de cada pessoa. Isto sim deve ser explorado, exposto e evidenciado. Flexibilidade e resistência são características fundamentais para um currículo que se proponha a atender as premissas básicas de sua função. Será flexível o suficiente para acomodar o contexto e a historicidade de alunos e professores e resistente na medida em que coordena um processo de aprendência, no qual os sujeitos possam compreender e intervir no mundo em que vivem para além de seu próprio contexto e historicidade. E o colar? O que é mesmo o colar de pérolas? Muitas são as possíveis respostas. Podemos dizer que o colar pode ser o conjunto de saberes, conceitos e ciências que fazem a humanidade caminhar e existir para todos os seres humanos. É para isso que o fio existe... Para unir saberes, conceitos e ciências e fazê-los brilhar!

Opinião pública, opinião popular e democracia

Do ponto de vista estatístico uma eleição é uma consulta à toda a população de um território (cidade, estado ou país) acerca de quem deve comandar seus destinos. Antes disto, os métodos utilizados eram os mais diversos desde a violência física até a simples sucessão hereditária como ainda hoje temos em várias partes do mundo que estão mergulhadas em carnificinas seculares ou povos dominados por dinastias milenares. A Grécia trouxe a experiência de democracia que se aprimorou e se alastrou pelo mundo como o melhor modelo a ser praticado politicamente. Mas a aplicação de um modelo dificilmente obedece o que os moldes lhe propõe. A consulta popular deveria expressar unicamente a opinião livre dos cidadãos sobre o projeto que representa o que há de melhor naquele momento para os interesses da coletividade. É a consagração da opinião pública ao avaliar as condições daquele território, naquele momento diante das possibilidades que se apresentam. Ocorre que a consulta popular é “preparada” de forma a desconstruir sua própria função. Inicialmente é preciso perceber que há poucos projetos originais, autênticos e exequíveis. O que se tem visto, são roteiros empobrecidos pela sistemática tentativa de desprestigiar o adversário sem apresentar um projeto alternativo consistente. Sem contar que a liberdade de escolha encontra-se maculada por propagandas espetaculosas e recheadas de mensagens que buscam a todo o instante, induzir o eleitor à mera avaliação pessoal do candidato e não do eventual projeto. Mas o mais grave em tudo isso é que a opinião pública vem sendo sorrateiramente substituída pela opinião popular. Esta ecoa sobre uma grande massa historicamente manobrada por uma elite que ao longo de séculos lhe concedeu algumas migalhas ou simplesmente a ignorou. Fizeram-na acreditar que a pobreza e a miséria eram fundamentalmente um caminho natural para quem nasceu pobre e miserável. Recentemente viu-se que é possível sair da miséria extrema engrossando as migalhas e oferecendo oportunidades, porém mantendo um clima de constrangimento sutil e velado. Esta grande massa de manobra, geralmente pouco escolarizada se vê finalmente abandonando a margem econômica da sociedade e não quer voltar para lá. A opinião popular desaprova a corrupção por exemplo, mas sua atenção maior está em manter ou melhorar, mesmo que singelamente, sua condição. Não há uma preocupação com o coletivo, com o público. Estão errados? Claro que não. Afinal, podem finalmente sentir-se gente tanto quanto qualquer outro cidadão. E aí está a resposta de uma pergunta recorrente: afinal, se todos querem mudanças por que estão votando nos mesmos? O fato é que desejam uma mudança coletiva, porém sem que isso represente uma perda em relação o que lhe foi dado ou conquistado individualmente. Falta-lhe a liberdade da necessidade, ou seja reconhecem que é preciso mudar mas temem que a mudança lhe ameace a sobrevivência. E enquanto um grande contingente de eleitores veem uma perspectiva real ou imaginária de que sua sobrevivência pode ser ameaçada por um ou outro possível governante de plantão, não há como se imaginar uma democracia plena. Assim, vive-se uma democracia que se movimenta ao sabor da opinião popular, fundamentada na dependência, na opressão e no medo disseminado pelas mais diversas correntes políticas. Vive-se assim uma sequência de projetos de poder pelo poder como se o Estado pudesse ser loteado ou até sorteado. Ideologias cedem lugar à propaganda; pensadores cedem seu espaço à marqueteiros e a democracia converte-se num grande negócio.

Os ornitorrincos que nos esperam nas urnas!

O ornitorrinco é um animal semiaquático típico da Austrália e Tasmânia, possui bico semelhante ao de um pato, além de ser ovíparo (põe ovos). Mas por ter o corpo coberto por pelos e mamar é classificado como mamífero. Trata-se de um animal bastante incomum e pouco conhecido à grande maioria da população. Ao dizer que o referido animal irá às urnas não estamos falando da escolha de um mascote, mas fazendo um comparativo ao que o eleitor encontrará quando teclar para depositar seu voto: as coligações. Nos últimos dias os partidos políticos demonstraram claramente que estão de fato partidos. Como já se viu noutras vezes, coligações são construídas para atender propósitos nem sempre muito republicanos. Os que se odiavam, agora tecem verdadeiras declarações de amor entre si. Os que, há alguns dias, andavam abraçados, hoje se declaram absolutamente traídos por seus antigos parceiros. O que dizer então das ideologias? Direita e esquerda tornam-se mão única. Partidos políticos são criados sem qualquer preocupação em dar-lhe uma identidade ideológica. Defendem o que lhe parece conveniente, sem convicções ou posturas definidas. Já os partidos antigos sepultaram suas ideologias com seus antigos líderes. A estes líderes rende-se a homenagem do esquecimento. E as prioridades? Educação, saúde, mobilidade urbana e infraestrutura sedem lugar à disputa por cargos e postos e à soma de alguns segundos no horário eleitoral gratuito. Um ministério, uma secretaria ou uma diretoria convencem mais que convicções, lutas e velhos líderes. Como disse um senador a respeito de seu partido, trocamos nossa história pelo quartinho dos fundos de um ministério. E diante deste cenário está o eleitor! Ao votar para um cargo visualiza seu partido aliado ao maior adversário na disputa de outro cargo. Mesmo que queira, não poderá votar por uma ideologia, por uma convicção ou por uma prioridade. Definitivamente necessita de certa genialidade para encontrar o melhor, ou como muitos diriam, o menos pior. Eis que lhe aparece o ornitorrinco: uma ave que mama ou um mamífero que põe ovos? Um reacionário conservador de esquerda ou um revolucionário progressista de direita? Assim como aves e mamíferos são absolutamente diferenciados, também os partidos políticos deveriam sê-lo. Sabe-se que foram, mas os cruzamentos (coligações) produziram verdadeiros ornitorrincos eleitorais. Os adversários, que em outros tempos foram parceiros, não se manifestam como deveriam, pois em breve poderão reatar sua parceria. Assim, o eleitor por mais que queira compreender apenas contempla, afinal não há muito mais para se fazer. Vota, paga impostos, padece, vai às ruas, mas sem líderes e sem ideologias consistentes perde o rumo e conforma-se. Afinal o ornitorrinco é um fato consumado, não há como negar! Defini-lo é uma questão de interpretação.

domingo, 23 de março de 2014

50 anos de uma tragédia Brasileira: um tributo e uma reflexão!

A “história oficial”, por muito tempo, afirmou que em 31 de março (ou 1º de abril) de 1964 ocorreu a queda de um governo frágil, comandado por um governante fraco com tendência comunista e a ascensão de um governo moralizador, progressista e capaz de reconduzir o Brasil ao “bom caminho”. Para fazer isso todas as medidas corretivas e de consolidação do novo regime se justificaram, assim como o controle da imprensa e até mesmo do pensamento de intelectuais, artistas e lideranças populares. Esta é a cortina que escondeu uma das maiores tragédias de nosso tempo. 50 anos depois, estamos reescrevendo uma parte da história! Inicialmente é preciso reconstruir a figura e o pensamento de João Goulart (Jango). Seu governo contou com personagens da envergadura de Darcy Ribeiro, Waldir Pires, Celso Furtado, San Tiago Dantas e tantos outros, que ao seu lado propuseram grandes reformas que iriam transformar e revigorar o Estado brasileiro. Os golpistas sabiam da seriedade de seu governo e de sua figura, tanto que fizeram de tudo para impedi-lo de assumir o comando do governo e percebendo o seu fracasso, tiraram-lhe grande parte do poder decisório com a invenção do parlamentarismo. Invenção rechaçada pela expressão da maioria votante em plebiscito. Acusado de comunista (o que a época soava como grave defeito), maquiado pela mídia como um governante fraco, foi enxotado do poder. A suposta fraqueza foi comprovada quando não quis resistir ao golpe arquitetado pela direita civil reacionária e consolidado pela maioria dos militares da época. Hoje é sabido que sua opção por não resistir, é na realidade a maior demonstração de grandeza de um estadista: evitar o derramamento de sangue de seu povo. Infelizmente isto aconteceu depois na “consolidação” do governo revolucionário, que transformou-se numa das mais cruéis ditaduras da história. Jango enxotado também do país só retornaria ao Brasil para seus próprios funerais. Foi o único líder político expressivo do país a morrer no exterior. Repressão, tortura, censura e desaparecimentos calaram vozes e deixaram a nação inerte, a deriva. Passados 50 anos, muitas comissões da verdade depois, ainda convivemos com vários dos ranços da ditadura civil-militar. A velha ARENA, por exemplo, produziu filhotes que hoje se travestem de progressistas, liberais, democratas e até socialistas e cristãos, apostando na absoluta falta de memória histórica da sociedade brasileira. Em nome de vitórias eleitorais a qualquer custo, formalizam-se alianças tão absurdas quanto inimagináveis, unindo lobos e cordeiros a ponto de não se saber que história estamos vivendo e vamos contar. Mas é preciso manter viva a memória desta tragédia para que as gerações futuras não se tornem vítimas de qualquer movimento que se pareça com ela. Encerando estas singelas palavras de tributo à Jango e à tantas vítimas, vale lembrar estas palavras pronunciadas por Jango no comício de 13 de março de 1964, na Central do Brasil, Rio de Janeiro: “O nosso lema, trabalhadores do Brasil, é ‘progresso com justiça, e desenvolvimento com igualdade’”. Passados 50 anos o lema tornou-se utopia, o sonho divaga no mais profundo sono, do gingante que por algumas vezes pareceu que poderia recuperar sua consciência. Este lema (sonho, utopia) foi o motivo da condenação de Jango e do país!

terça-feira, 11 de março de 2014

Testando limites

O ano de 2014 promete! Será um ano para todos testarmos nossos próprios limites. Limites de indignação, tolerância e esperança. Será um ano decisivo em vários aspectos. Por ser um ano eleitoral e sediarmos a copa do mundo já se somam alguns limites a testar. Há uma nítida sensação de tensão, vivida, segundo quem viveu e testemunhou, apenas nos tempos de ditadura. Um clima de tensão gerado por uma constante inversão de valores somente comparável àquele tempo de horror. Senão vejamos! Denúncias elevam suspeitas de que os violentos black bloks, bandidos infiltrados nos movimentos em favor da preservação da dignidade cidadã, seriam financiados para desacreditar a legitimidade destes movimentos. Algo que se assemelha a infiltração de espiões nos grupos de resistência ao regime de exceção. Políticos condenados e presos deixam a todos estarrecidos, não somente pelo inédito fato de sua prisão, mas pela intensa capacidade de angariar fundos por meio de “vaquinhas” eletrônicas para pagar suas contas com a justiça. E pior, quando um magistrado questiona a transparência destas arrecadações é inquirido a justificar sua legítima função de guardião da justiça. A cada dia é preciso dar maior razão a Rui Barbosa, quando este dizia que “de tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça; de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”. O processo eleitoral que se avizinha promete debates em torno do velho discurso quase irreciclável de governo e oposição. Não há efetivamente nada de excepcionalmente novo. Políticos aventureiros, estratégias mofadas, o que não alimenta muitas esperanças. Se em junho e julho de 2013 o povo foi às ruas pedir o novo, não se vê ninguém capaz de dar uma resposta. O que se ouve, são discursos de pessoas que parecem viver noutro mundo. Não percebem mas, estão testando até mesmo o esgotamento dos limites da mediocridade que impera no universo político. Se deixamos de ser um país pacífico e tolerante é por que nos faltam grandes líderes e grandes projetos de nação. Não querem manifestações durante a copa, não por preocupação em relação às demandas legitimas da população, mas para “não fazer feio” aos olhos do mundo. Enquanto isso percebe-se uma grande maioria dominada à moda do “pão e circo”. O pão são as migalhas distribuídas em programas que deveriam ser emergenciais e se transformam em única fonte de renda para toda a vida de milhares de famílias. Os milhões de brasileiros sustentados pelo chamado “maior programa de distribuição de renda” do mundo formam uma legião de dependentes. As conseqüências disto, a médio e longo prazo, costumam ser desastrosas. O programa de fato é espetacular e seria reconhecido como sério se as pessoas atendidas fossem preparadas com o tempo, a gerar sua própria renda. O circo está garantido pela copa do mundo e olimpíadas, verdadeiros ralos de dinheiro público. Mesmo que não haja desvios de recursos públicos (o que se espera num estado democrático de direito) a relação custo-benefício não parece muito satisfatória. Assim, enquanto for preciso pedir licença para defender o que é nosso, enquanto o algoz vestir o figurino da vítima, pode-se dizer que se vive numa meia democracia. Trata-se de um teste até mesmo para nossa esperança! *Publicado no Jornal do Médio Vale de 11/03/2014

Reze por mim!

Texto em homenagem ao primeiro ano de Pontificado do Papa Francisco Desde que o cardeal Jorge M. Bergóglio, assumiu sua missão pontifícia, inúmeras vezes fez este pedido. O fez a todos os homens e mulheres de boa vontade. Não se trata de um pedido simples tanto quanto possa parecer. Não é apenas sobre sua pessoa, mas sobre sua autoridade e sobre suas decisões. Passado um ano o reconhecimento mundial à figura do Papa Francisco, não se dá por outra coisa senão pela humildade e humanidade com que conduz sua rotina. Tem sido acusado de demagogo ou por repetir um discurso que não é novo. Realmente não é um discurso novo. Pregar a paz, o encontro e a alegria do Evangelho não se constitui numa grande novidade. Pregações deste tipo realmente soam como demagógicas, aos ouvidos de quem nunca se imaginou praticando-as. Mas o discurso de Francisco não é demagógico e tampouco repetitivo, por que como poucas vezes se viu, vê-se um líder traçar seu discurso assentado em sua prática. Recusou privilégios, propôs e se fez instrumento de mudanças estruturais na Igreja, varrendo a escada de cima para baixo. Pede que o clero tenha o cheiro das ovelhas, que as pessoas escancarem seu coração ao diálogo, à tolerância e à alegria do Evangelho. Insiste por uma Igreja viva, ativa e corajosa. Quando se apresentou diante da multidão e pediu para que o povo abençoe seu bispo, fez um convite à caminhar juntos. Um exemplo a ser seguido por clérigos, leigos, pais, mães e filhos. O mundo atual, carente de líderes que guiam mais pelo exemplo e menos pelo discurso, conhece Bergóglio num momento em que experimenta uma verdadeira hecatombe, não mais nuclear, mas ambiental e ética. Assim seu discurso simples, jamais simplório, suas palavras doces, mas fortes, seu sorriso cativante e verdadeiro, o tornam uma grande novidade, por reestabelecer valores que não conhecem o desgaste daquilo que é artificial. Francisco passa a exercer seu papel como protagonista da história mundial e não apenas da Igreja. Como líder é alvo de críticas, certamente erra, mas exerce o papel que se espera de quem é chamado a ser autor da história. Seu insistente pedido de oração é também um convite para que todos caminhemos juntos. O mundo experimentado pelas guerras, violações de direitos, corrupção é também o lugar onde é possível e necessário construir esperança. Esta oração é antes de tudo uma sintonia, uma afinação, um acerto de passos que poderá iniciar uma grande revolução. Uma revolução capaz de sensibilizar os sentimentos mais nobres e ao mesmo tempo simples, de tornar o mundo mais possível de se habitar. Independentemente de religião, as reflexões de Francisco, não destoam das sinceras manifestações de outros líderes que ao longo da história apelaram para ao ser humano e para a sua forma de existir no mundo. Não é mais uma questão de religião, mas de sobrevivência. *Publicado no jornal do Médio Vale em 07/03/2014.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Escola Pau-de-Arara

Toda nação, sociedade, família e pessoa é constantemente chamada a fazer opções. Assim tudo o que temos e o que somos é fruto da decisão tomada num determinado momento por alguém ou grupo. Assim houve países que optaram por serem campeões em ciência, outros em tecnologia, outros em cultura, outros em infra-estrutura, outros em futebol. Conforme a opção planejou-se a inserção do Estado na dinâmica da referida sociedade, das famílias e da vida das pessoas. Os que optaram pela ciência, tecnologia e cultura, construíram escolas, formaram bons professores, apostaram em cérebros. Os que optaram pelo futebol construíram monumentais estádios e tornaram-se exportadores de jogadores de futebol. O Brasil optou por este caminho! Não que o futebol deva ser culpado por isso, ao contrário, trata-se de um esporte capaz de promover saúde, gerar riqueza e acessível a todos. Os que optaram pela ciência, tecnologia e cultura também possuem grandes estádios e excelentes jogadores. A diferença é que o futebol surgiu como consequência. Países arrasados por guerras e grandes catástrofes, em poucas décadas tornaram-se exportadores de tecnologias e conhecimentos. O Brasil tornou-se exportador de minério e soja e um grande importador de chips. Um dos motivos disto é que ainda vivemos num país em que apresentamos às nossas crianças, uma “Escola Pau-de-Arara”. Esta expressão é do professor Cristovam Buarque, citada no seminário “Caminhos para a inovação 2013: a ciência no futuro da saúde e dos esportes”. A escola pública brasileira em nível básico, salvo algumas exceções, é um espaço de improvisos, de sobras e experimentos teóricos e políticos inconseqüentes. Assim como o caminhão pau-de-arara, é desconfortável, superlotada, pouco segura e dirigida com pouca habilidade e preocupação em relação aos seus ocupantes. Feita esta constatação, que não constitui numa grande novidade, caminhemos para a solução, para que deixemos de ser apenas o país do futebol, mas também da ciência, da tecnologia, da cultura e da infra-estrutura. Também não constitui novidade dizer que este caminho passa (ou se inicia) por uma educação de base semelhante a uma moderna composição metroviária, com estações confortáveis, vagões seguros, com horários precisos, itinerários bem planejados e manutenção diária. Mas que escola é essa? Que soluções pode-se apresentar? Não são necessariamente novidades do ponto de vista teórico, mas algo ainda quase inatingível à nossa realidade. A primeira delas, como grande fundamento é a gestão profissional e democrática. O gestor de escola necessita ser qualificado técnica e eticamente para ser capaz de otimizar recursos, tempo e mentes. O aspecto democrático funde-se com o profissional quando o gestor fundamenta sua ação em ouvir sua comunidade local e atentar para a evolução histórica vivida pelo mundo contemporâneo. Outro aspecto é a oferta de salários melhores aos profissionais da educação, para atrair os melhores cérebros para o magistério. Poucos são os jovens que desejam efetivamente ser educadores. A exemplo do aspecto da gestão, o salarial, depende de uma opção política. Uma opção pelo futuro, pelas próximas gerações e não apenas pelas próximas eleições. Aliado a isso há também um aspecto pessoal do ser humano que deseja ser educador: gostar de gente. Não há como pensar numa escola acolhedora, segura e atraente dirigida e constituída por gestores e educadores que não apreciem a beleza de ser gente. Por fim, porém não menos importante, há os aspectos estrutural e metodológico. Não há como atender seres humanos em espaços improvisados e financiados por sobras. Tecnologias são instrumentos auxiliares fundamentais para que seja possível fomentar o pensar no contexto escolar. O pensar é fundamento para que o ciclo evolutivo da tecnologia, da ciência e da cultura seja uma dinâmica constante. Para isso apontamos uma solução totalmente brasileira: uma educação dialética e problematizadora, fundada no pensamento de Paulo Freire. Uma nova pedagogia, onde crianças e jovens, que são essencialmente curiosos, sejam estimulados a ampliar sua curiosidade. Que aprendam a duvidar sempre, perguntar sobre tudo, transcender conceitos. 2014 pode ser o ano em que finalmente poderemos abandonar o “Pau-de-Arara”, afinal sabemos que há uma condução mais confortável e possível. A opção e a oportunidade de escolha são nossas. O primeiro passo pode ser dado nas ruas: o da indignação. O segundo nas urnas: o da ética.

Quem sou eu

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Benedito Novo, Santa Catarina, Brazil
Sou Mestre em educação, graduado em Biologia e Matemática, professor da rede estadual de Santa Catarina, com experiência em educação a distância, ensino superior e pós-gradução. Sou autor e tutor de cursos na área da educação no Instituto Veritas (Ascurra) e na Atena Cursos (Timbó). Também tenho escrito constantemente para a Coluna "Artigo do Leitor" do "Jornal do Médio Vale" e para a revista eletrônica "Gestão Universitária". Fui diretor da EEB Frei Lucínio Korte (2003-2004) e secretário municipal da Educação e Promoção Social de Doutor Pedrinho (2005). Já atuei na rede municipal de ensino de Timbó. Em 2004 coordenei a campanha que conduziu à eleição do Prefeito Ercides Giacomozzi (PMDB) à prefeitura de Doutor Pedrinho. Em 2011 assumi pela segunda vez, a direção da EEB Frei Lucínio Korte.